Domingo Legal

Às 13 horas do domingo 17 de janeiro de 1993, entrou no ar, no SBT, o programa Domingo Legal sob o comando de Gugu Liberato. Mas para chegar até a esta data temos que voltar um pouco no tempo, quando o apresentador comandava uma atração aos sábados à noite, o Viva a Noite

O Silvio Santos sempre dominou as tardes de domingo desde quando comprava horários nas emissoras e desde que estreou o SBT não era diferente, a Globo só conseguia recuperar o primeiro lugar no IBOPE quando o Fantástico entrava no ar, e no sábado pela noite o Gugu liderava a audiência com o Viva a Noite, então a platinada resolveu fazer uma proposta para o apresentador, que aceitou.

Ele assinou com a Globo para ser o concorrente direto do seu ex-patrão, montou a sua equipe e viajou para o exterior a fim de se aprimorar como artista. A emissora chegou a construir o cenário e até fazer uma chamada de estreia, mas Silvio Santos o recontratou e pagou a sua multa de rescisão de contrato antes de que ele pudesse estrear. Os Marinhos tiveram que partir para um plano B e acabaram levando o Faustão que era contratado da Band.

O Gugu tomou parte da programação de domingo no SBT e reestreou o Viva a Noite com um novo cenário, com novos quadros, e continuou dominando as noites de sábado até o comecinho de 1992, quando resolveu se dedicar ao Sabadão Sertanejo que deveria ter sido um programa especial somente para o ano de 1991 como comemoração dos dez anos da emissora, mas acabou fazendo muito sucesso. Já nos domingos, ele se garantia, mas nunca teve um programa avassalador, até estrear o Domingo Legal.

A ideia original do Domingo Legal era que o programa fosse uma versão adaptada do Viva a Noite. Não dá para dizer nem que era adaptada, era basicamente o mesmo programa com cenário diferente. Se no Viva a Noite tinha as bailarinas dançando entre bambolês giratórios, no Domingo Legal elas dançavam dentro de taças. Se no sábado à noite ele dançava o Baile do Passarinho, no domingo à tarde dançava o Pintinho Amarelinho.

Se no programa anterior ele gritava Viva a Noite para que a plateia respondesse viva, viva, viva, cada vez que ia para o comercial, agora ele gritava Domingoooo, e a plateia respondia, Legal. No Viva a Noite tinha uma música de fundo que tocava o tempo todo, no Domingo Legal também.

Gugu promovia uma disputa entre artistas no palco, recebia cantores e apresentava concursos, igualzinho no Viva a Noite. No primeiro ano o programa era gravado, mas aos poucos foi ganhando uma identidade própria e a partir do dia 7 de agosto de 1994 passou a ser ao vivo, e aí ele se tornou uma grande dor de cabeça para a Globo.

Na década de 90 a internet era privilégio de poucos e a grande maioria dos usuários faziam uso da conexão discada, era bem lenta, mas a produção soube explorar esse recurso e se tornou o primeiro programa a interagir com os internautas, exibindo mensagens ao vivo através da página oficial e depois o portal UOL aprimorou o serviço.

Incialmente o Gugu não concorria diretamente com o Faustão, ao longo dos anos sofreu alguns ajustes de horários, mas basicamente ia do meio dia até por volta das 16h, ou seja, antes do Domingão começar, só a partir de outubro de 1997 é que passou a competir diretamente começando por volta das 15h e acabando só às 20h. Nesse embate ele assumia o primeiro lugar no IBOPE com muita frequência e contava com vários métodos para conquistar o público.

Um deles é que a partir de 1996, o programa contava com um núcleo de jornalismo, então, além da parte de entretenimento, Gugu dava boletins informativos mostrando como estava o trânsito em São Paulo, as enchentes... o comandante Amilton virou um personagem fixo com o seu helicóptero. O apresentador noticiou em primeira mão o assassinato de PC Farias, cobriu o sequestro do irmão de Zezé Di Camargo & Luciano, o acidente do cantor Herbert Vianna, a rebelião no Carandiru... 

Quando houve o acidente aéreo da banda Mamonas Assassinas o programa todo basicamente tratou só desse assunto... aliás, nesse dia, em 2 de março de 1996, Gugu foi líder de audiência durante toda sua exibição. Foi a primeira vez que conquistou a liderança com 37 pontos e picos de 47, sendo uma das maiores audiências da história do SBT.

Outra coisa é que além das brincadeiras com os artistas que permitiam os telespectadores brincar juntos em casa, havia algumas interações diretas com o público, como o jogo do cofre onde as pessoas ligavam para o programa para tentar adivinhar a sequência numérica que abria a porta, quem acertasse levava o dinheiro acumulado. Em um quadro o Gugu visitava as pessoas para procurar objetos que valiam dinheiro, em outro, dava carona, disfarçado de taxista e ele costumava fazer algumas brincadeiras do lado de fora do teatro, como a famigerada banheira. Isso permitia que as pessoas que não tinham podido entrar no teatro pudessem ver os artistas e participar de alguma forma.

Bom, isso enquanto o programa acontecia no teatro Silvio Santos no bairro Carandiru, porque a partir de 1º de fevereiro de 1998, passou a ser transmitido do CDT da Anhanguera. Mas se eram artistas que as pessoas queriam ver, o Domingo Legal sabia como explorar o melhor e o pior deles. Tinha um quadro em que as celebridades do momento eram acordados no susto, em outro quase morriam do coração a pedido de um amigo com o telegrama legal que era uma forma masoquista de demonstrar amor. E Gugu também sabia manejar os quadros estendendo a sua duração se estivesse funcionando, ou encurtando se não tivesse uma boa resposta do público. Ou seja, apresentava o programa com um olho no medidor do IBOPE.

Desde 1997 até 2001, o Gugu assumiu a liderança da audiência diversas vezes, com médias acima de 30 pontos. E por várias vezes, era liderança absoluta, do começo ao fim do programa. Ele chegou a fazer 27 pontos com picos de 31 contra 17 da Globo. Em 6 de maio de 2001, o Domingo Legal teve o pico máximo da sua história, registrando 44 pontos de audiência. Foi o dia em que o ator Jean-Claude Van Damme esteve presente.

Mesmo com essa acirrada disputa pelo primeiro lugar no IBOPE de Gugu contra Faustão, os dois chegaram a protagonizar um link ao vivo, ambos diretamente de seus devidos programas graças a uma megacampanha da Nestlé em parceria com o programa Fome Zero do governo federal, que tinha como intuito distribuir 248 casas no valor de R$40 mil. Para participar, os consumidores precisavam enviar 8 embalagens diferentes de produtos Nestlé e responder à pergunta Qual é a empresa líder em alimentos que dá casa pra você e ajuda o Brasil?.

Com a necessidade de sempre ter coisas impactantes para manter a audiência do programa, a produção partiu para alguns apelos que custaram caro para a emissora e para o apresentador. Em 2003, Gugu apresentou uma entrevista com alguns integrantes do PCC, uma facção criminosa do Rio de Janeiro, mas repercutiu muito mal e tiveram que assumir que tudo não passava de uma farsa. A partir de então a audiência do Domingo Legal caiu para 18 pontos.

Entre os anos de 2005 e 2008, voltou a registrar médias acima de 20 pontos e assumir a liderança algumas vezes, mas com a crise que assolava o SBT e a proposta de redução de salários para os apresentadores, Gugu assinou contrato com a Record e a partir de 12 de julho de 2009, Celso Portiolli assumiu o comando da atração.


Curiosidades.


Em 1 de fevereiro de 1998, o programa foi o primeiro a ser produzido no recém-inaugurado CDT da Anhanguera, em Osasco, com a transmissão ao vivo. Teve iniciou às 15h20 e terminou às 19h12, alcançando média de 18 pontos.

Durante o tempo que apresentava o Domingo Legal na década de 90, Gugu lançou vários produtos para crianças e três álbuns musicais. O primeiro foi em 1994 e tinha a capa em 3D, nesse álbum tinha duas faixas que eram pot-pourri de algumas canções que tinham sido lançadas na época do Viva a Noite. Uma delas tinha Fio Dental / Pega O Meu Peru e Docinho, Docinho. A outra tinha Baile Dos Passarinhos / Bota Talquinho e A Dança Da Galinha Azul. Mas o carro chefe desse CD foi o Pintinho Amarelinho e Vem Dançar Comigo, que foram as duas que ele cantava no começo do programa.

Em 1996, ele lançou o CD Parque do Gugu com algumas participações especiais, como Tiririca, Companhia do Pagode e Xuxa. Ela fez dueto na música Xalada de Beijos.

Em 1998, ele lançou o álbum Gugu Cantando Com Você que tinha algumas faixas com a sonoridade que estava em alta na época, o Baile dos Passarinhos ganhou uma versão axé. Aliás, essa foi a quarta vez que o Gugu lançou essa música.

Teve também um pout-Pourri com as músicas Senhor, Põe Teus Anjos Aqui / Erguei As Mãos e O Senhor Tem Muitos Filhos, que tinham sido gravadas pelo Padre Marcelo. Os padres cantores estavam em alta nessa época. E o último álbum do Gugu foi lançado em 2002, o Gugu Para Crianças, que seguia o formato Xuxa Só Para Baixinhos, com CD e DVD.

Gugu não brilhava sozinho. Alessandra Scatena entrou para a lista das divas dos anos 90 trabalhando no Domingo Legal. Helen Ganzarolli também. Além delas, outros personagens foram bem marcantes, como ET e Rodolfo que gravavam externas e o Guguzinho, uma miniatura do apresentador. Vários outros artistas passaram pelo programa, alguns antes de ficarem famosos, como a atriz Fernanda Vasconcelos que foi dançarina do dominical.

Apesar de lançar muitos produtos para crianças, o Domingo Legal era para gente grande. O Gugu sempre soube explorar a sensualidade de corpos desnudos desde o Viva a Noite. E no domingo à tarde nos víamos a câmera entrando por baixo das saias das bailarinas, o apresentador folhando revistas Playboy, Sexy e G Magazine no palco, homens e mulheres fazendo strip-tease para ver os batimentos cardíacos dos convidados subir, luta na lama e a clássica banheira onde os convidados tinham que pegar sabonetes no fundo enquanto eram impedidos pelos assistentes do programa. Para atrapalhar as moças tinha um rapaz da produção e para atrapalhar os rapazes tinha uma moça. 

Luiza Ambiel foi a mais famosa, mas além dela Solange Gomes, Nana Gouvêa, Núbia Óliiver, Helen Ganzarolli e Fabiana Andrade também passaram pelo quadro. Detalhe, todas posaram nuas para a revista Playboy.

Mari Alexandre, Renata Banhara, Alessandra Scatena e Cristina Mortágua também participaram do quadro, mas não eram contratadas fixas.

E dos rapazes, Leandro Seguro, Joubert, JP Mantovani e Daniel Saullo foram os garotos da banheira. Deles, apenas Leandro posou nu para a revista Banana Loca que foi a prévia da G Magazine e Joubert posou nu para a revista Íntima.

No ar desde 1994, em 2001, o quadro foi proibido de ser exibido no programa pelo Ministério da Justiça como impróprio para o horário. O apresentador entrou com apelação e então a banheira foi liberada para ser exibida após às 20 horas, e em 2005 saiu do ar de vez.

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