As eleiçõs de 2018 dividiu o Brasil em duas alas partidárias extremas, esquerda e direita, provocando um caos nas relações humanas. É uma ruptura que ainda vai demorar muito para cicatrizar, e os famosos foram cobrados, como nunca antes haviam sido, para que manifestassem seus posicionamentos políticos. Alguns fizeram isso por livre e espontânea vontade, como foi o caso da Xuxa.
Ela não poupou críticas ao governo eleito em 2018, e deixou claro para quem votaria nas eleições de 2022. Participou de campanhas e posts em redes sociais criticando falas do ex-presidente, se manifestou sobre temas como vacinação infantil, educação e cultura... Deu a cara a tapas. E apanhou um bocado. Mas essas suas atitudes não foram exclusividade desse momento conturbado pelo qual passamos.
A Xuxa já esteve ligada a discussões sobre a criação de políticas públicas, já se posicionou a favor dos Direitos dos Animais, se opôs a redução da maioridade penal, foi embaixadora da UNICEF e trabalhou com agências da ONU em defesa dos direitos das crianças. Ela já se reuniu com presidentes do Brasil e de outros países, com príncipe, com rainha.Ou seja, tem um longo histórico de envolvimento na política e em causas sociais.
Como uma grande influenciadora, Xuxa teve uma participação significativa em campanhas de vacinação, atuando como garota propaganda do Ministério da Saúde. Em 2023, por exemplo, foi nomeada embaixadora do Movimento Nacional pela Vacinação chamando crianças e adolescentes menores de 15 anos, com o objetivo de incentivar a imunização contra a COVID-19 e outras doenças.
Essa campanha foi essencial para que o país retomasse o crescimento dos índices de vacinação, que vinham registrando baixas nos últimos anos. E a Xuxa tem um longo histórico de participação nessas campanhas do governos. Em 2018, ela já tinha participado de um chamado para vacinação contra a poliomielite e o sarampo.
E já tinha feito campanhas em 1996, em 1995, em 1992... Ou seja, desde quando a televisão era o instrumento mais poderoso para formar e manipular opiniões, Xuxa era uma das maiores influenciadoras do país e seu recado não passava desapercebido. Uma das campanhas de vacinação mais lembradas até os dias de hoje, foi a de 1989, contra a poliomielite, ao lado do personagem Zé Gotinha, com o slogan Gotinha gotinha e tchau tchau paralisia infantil.
E engana-se quem pensa que ela se limitou ao Brasil. Suas campanhas se estenderam para o exterior, ou foram reconhecidas por líderes internacionais. Xuxa se tornou madrinha de uma Campanha entre Brasil, Paraguai e Argentina, de Combate à Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes. Em 2008, o príncipe Albert, de Mônaco, na Europa, concedeu-lhe uma homenagem pela sua dedicação filantrópica às crianças no Brasil.
Em 2007, ela foi a escolhida para representar o Brasil no show internacional Live Earth, cuja intenção era alertar o mundo sobre os efeitos das mudanças climáticas na Terra. O evento aconteceu simultaneamente em sete países, no dia 7 de julho daquele ano. A sua nomeação aconteceu através de uma pesquisa feita pela equipe do ex-vice-presidente dos Estados Unidos, Al Gore.
Em 1991, ela integrou um videoclipe promovido pelo governo argentino, durante a gestão do presidente Carlos Menem, com o objetivo de conscientizar a população sobre o vírus HIV. O vídeo apresentava uma canção coral de tom festivo, com a participação de diversas personalidades do entretenimento, sendo Xuxa a única estrangeira a emprestar sua imagem e voz.
Como se pode ver, Xuxa foi além das campanhas de vacinação. Ela também atuou em projetos de reeducação bastante importantes para a sociedade. Em 2010, foi madrinha da campanha Carinho de Verdade, criada pelo Conselho Nacional do SESI, com o objetivo de mobilizar a sociedade contra o abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes. Ela cedeu sua imagem para a produção de materiais publicitários e participou de ações de conscientização.
Em 2008, participou do lançamento da Campanha pelo Uso Responsável da Internet, uma parceria de sua Fundação com o governo federal, para promover a segurança de crianças e adolescentes no ambiente digital. E recebeu a medalha de honra na ECO 2008, em Brasília, por causa do trabalho sócio-ambiental realizado pela sua fundação.
Você pode pensar: emprestar a voz e a imagem é fácil, tem um monte de gente por trás disso, trabalhando para que tudo funcione. É verdade, mas lembremos que em 2020, ela doou um milhão de reais ao SUS, em prol do combate da Pandemia de COVID-19, mais trezentos mil sabonetes para pessoas carentes de São Paulo e Rio de Janeiro. Além de doar os lucros de seus livros escritos e publicados na época para a Aldeia Nissi, na Angola, e para instituições de animais abandonados.
Sem falar na Fundação que levava o seu nome, criada em 1989, para atender crianças em situação de vulnerabilidade, a Fundaçao Xuxa Meneghel, que agora se chama Fundação Angélica. Calma, não é isso que você está pensando. Xuxa manteve a fundação com dinheiro próprio por quase 30 anos, só a partir de 2018 um conselho diretor assumiu o projeto que passou a se chamar Fundação Angélica Goulart. O nome da diretora da fundação, que ajudou a apresentadora a colocar em prática o projeto, e faleceu em 2016.
Podemos colocar nesse pacote aqui também as ações feitas com seus filmes. Em 2001, na ocasião da estreia do filme Xuxa Duendes, em algumas sessões solidárias o ingresso foi trocado por um quilo de alimento para ser entregue a instituições de caridade. O mesmo aconteceu em 1990, na ocasião do lançamento do filme Lua de Cristal.
E olha que a produção de Lua de Cristal enfrentou desafios financeiros devido ao Plano Collor, que confiscou parte do orçamento destinado ao projeto. A diretora Tizuka Yamasaki chegou a abrir mão de seu salário para concluir o filme. Ainda assim, a primeira dama, Rosane Collor, presidente da Legião Brasileira de Assistência, assistiu a estreia do filme ao lado de Xuxa. A ação arrecadou 450 toneladas de alimento.
Pois bem, até agora nós vimos a Xuxa participando de campanhas, mas não era sobre política que íamos falar? Bem, já estamos falando de política, mas no sentido estrito da palavra, começamos agora. Em 2022, A Xuxa apoiou o Projeto de Lei que visa restringir o uso de agrotóxicos, chamado por críticos de PL do Veneno, manifestando-se contra o projeto por sua preocupação ambiental.
Em 2014, a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei que torna hediondo o crime de exploração sexual de crianças e adolescentes, tendo Xuxa como uma das mais fortes vozes a favor da lei, ela participou da cerimônia de sanção no Palácio do Planalto. A entrevista que ela concedeu um ao Fantástico, em 2012, mencionando que foi vítima de abuso sexual quando era menor de idade fez com que milhões de pessoas falassem dos abusos que sofreram ou sofriam no momento.
No mesmo ano, ela teve um papel ativo na defesa da Lei Menino Bernardo, que proíbe o uso de castigos físicos contra crianças e adolescentes, enfrentando muita resistência de grupos conservadores. Ela acompanhou no plenário do Senado Federal a aprovação da lei, e esse projeto já vinha de anos antes dessa aprovação. Em 2011, ela se econtrou com a rainha da Suécia para debater sobre o tema.
A rainha Silvia, é fundadora da organização internacional World Childhood Foundation. E uma curiosidade, ela é meio brasileira. Nasceu na Alemanha, mas é filha de uma brasileira e de um alemão, e passou parte da infância no Brasil.
E foi também em 2011, que Xuxa se reuniu com a Shakira, que também tem uma fundação beneficente. As duas assinaram um acordo de cooperação com autoridades do Governo brasileiro, para levar melhor educação a crianças de 100 centros educativos no Brasil. Enquanto Shakira trabalhava para impulsionar o desenvolvimento infantil como o melhor investimento para a América Latina, Xuxa atuava como uma rede que procurava o respeito da convenção sobre os direitos da infância.
Com a rainha Silvia, ela esteve em duas ocasiões. A primeira aconteceu em um seminário no Hotel Tivoli, em São Paulo, e a segunda foi em Brasília, na Câmara dos Deputados.
Em relação ao tema debatido com a rainha, Xuxa já tinha se reunido com o presidente Lula, em 2007, para lançar em Brasília a campanha nacional Não Bata, Eduque!, contra os castigos físicos e humilhantes em crianças. Ele já tinha a convidado, para ir ao Palácio do Planalto, para discutir políticas públicas voltadas à infância, no seu primeiro mandato, em 2003.
Acha que acabou por aí? Ou melhor, que essa fase foi o começo de tudo? Tem mais um pouquinho. Antes ainda de ir para a Globo, Xuxa participou do histórico comício das Diretas, em abril de 1984, pedindo o fim da ditadura. Ela foi uma das personalidades convidadas a subir no palanque montado na Candelária, no Rio de Janeiro, ao lado de líderes políticos como Leonel Brizola, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães e Lula.
Tinham outros artistas também, o Chico Buarque, a Fafá de Belém, o Milton Nascimento... Esse evento reuniu mais de um milhão de pessoas e se tornou um marco na luta pela redemocratização do Brasil. Ela fez fotos com fãs, deu entrevistas e, no comício, recebeu o microfone para fazer um discurso e... deu um assobio. Só. Aí ela explicou que aquela era a única maneira que conhecia para acalmar a moçada na hora da agitação, e como tinha tanta gente para falar, resolveu não roubar o tempo de ninguém. Sensata.
Ela tinha 21 aninhos, estava acompanhada da mãe, e disse que adorou a experiência prometendo comparecer a novos comícios. Detalhe, a família dela tinha uma relação próxima com o governador do Rio de Janeiro, o Leonel Brizola.
Então, meus caros amigos, agora as coisas ficam todas mais claras, né? A política está no sangue da rainha.
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