A mídia musical que deu o ponta pé para o hábito de consumirmos música em casa aconteceu entre 1890 e 1900. Chamava-se Fonoautógrafo, ou Fonógrafo. Tratava-se de um cilindro de cera de 10 a 12 centímetros e meio de altura, por três centímetros e meio, a quatro, de diâmetro. Essa era a medida padrão, mas podia variar de tamanho. Pesava entre 50 a 100 gramas e tinha capacidade de 2 a 4 minutos de som.
Entre os anos de 1920 e 1940, surgiram os Discos de 78 rotações por minuto. Eram feitos de goma-laca, uma espécie de resina, e tinha capacidade de três a cinco minutos de áudio em cada lado. Ou seja, uma música basicamente para cada lado.
O Long Play, que ficou conhecido como LP, surgiu em 1948. Feito de vinil e com 33 rotações por minuto. Mais precisamente 33 1/3. Pode comportar várias faixas e tem duração média de 25 minutos por lado.
No ano seguinte, em 1949, surgiu o Compacto, de 45 rpm, mas com apenas uma música por lado. Com o vinil as gravadoras conseguiram melhorar a qualidade do som, mas era comum que muitos artistas lançassem músicas soltas e o compacto comportava até duas músicas de cada lado.
A Fita cassete surgiu em 1963. Uma Fita magnética dentro de uma cassete plástica, com duração aproximada de até 45 minutos por lado. Ou seja, com capacidade maior do que o disco de vinil. E uma curiosidade, o termo cassete vem do francês que significa pequena caixa. Então, cassete é a caixa que protege que a fita.
Essa mídia se tornou bem popular nos anos 70 e 80 pela praticidade de carregar e armazenar, além de oferecer mais versatilidade na maneira de ouvir música. Inicialmente quem tinha carro podia se beneficiar da fita cassete, mas no comecinho dos anos 80 a Sony lançou o walk-man, um toca-fitas portátil para ouvir músicas com fones-de-ouvidos.
E a fita cassete trouxe também, além da praticidade, um grande problema, a pirataria, porque era muito fácil gravar com elas. Quem é que passou pelos anos 80 e 90 que nunca ficou esperando tocar na rádio uma música que gostava só para apertar o rec da fita cassete? O problema é que o radialista as vezes falava no meio da música. Então, algumas pessoas mandavam cartas, ou ligavam, para pedir música e avisavam: é para gravar. Que aí o radialista não falava nada.
A fita cassete era uma opção alternativa do disco, mas o vinil recuperou seu protagonismo, porque os artistas passaram a priorizar os LPs que ofereciam mais do que uma mídia de música e eram praticamente uma experiência, uma obra de arte desde a capa aos encartes, até a própria concepção do disco em si. Mas mesmo com a popularização do Long Play, os compactos persistiram por bons anos. Uma artista brasileira que lançou muitos desses pequenos discos foi a Gretchen.
Entre os anos de 1978 e 1985, ela lançou 16 compactos. Em alguns anos ela chegou a lançar quatro compactos. E foi no decorrer dos anos 80 que os artistas passaram a priorizar os LPs, mas os compactos ainda persistiram por um bom tempo.
O Brasil viveu a sua era de ouro nas vendas de discos entre os anos de 1970 e de 1990, esse foi o período em que os vinis dominavam as prateleiras, ou seja, quando a indústria fonográfica atingiu seu auge. E lá no comecinho de 1980, surgiu o compact disc, conhecido pelas suas iniciais CD, foi lançado em 1982, pela Sony. O material do CD é mais curioso, o disco é moldado, basicamente, em plástico, o policarbonato, mas tem também uma camada metálica reflexiva, corante e resina.
Embora muito menor do que um disco de vinil, sua capacidade de áudio é bem maior, em média 80 minutos. E, além de ser mais resistente, se desgasta menos, a leitura do CD é também a mais avançada em relação ao vinil e a fita, é através de leitura óptica, ou seja, laser. Uma das grandes promessas do CD era que a qualidade do som seria superior ao vinil e a fita, pelo menos mais limpo.
Com o tempo, o CD foi se espalhando para outros países e chegou no Brasil em 1986, foi quando começaram as primeiras importações dos disquinhos e de aparelhos tocadores, caríssimos na época. E em 1987, foi inaugurada a primeira fábrica de CDs da América Latina, em Manaus, no Amazonas, pela Sony Music, mas os preços continuaram salgadinhos, não eram para qualquer bolso.
Então, graças ao preço do CD, o disco de vinil continuou com seu protagonismo por mais alguns anos e as fitas cassetes também tiveram seus espaços garantidos. Aliás, os três conviviam harmonicamente, as gravadoras costumavam lançar um álbum em disco, fita e CD. O primeiro a perder espaço foi a fita, depois o disco. Em meados de 1990, as gravadoras deixaram de produzir discos e passaram a comercializar somente CDs. O auge das vendas ocorreu entre 1995 e 2005.
O CD preservou o que já tínhamos com o vinil, e até melhorou em alguns aspectos, o encarte, por exemplo, em formato de livreto, ou um pôster dobrado, e ainda ofereceu mais vantagens como: a qualidade do som que era melhor, riscava menos e os riscos não comprometiam, exatamente, a execução da faixa. Ocupavam menos espaço físico e tinham mais capacidade de áudio. Aliás, as gravadoras começaram a lançar álbuns com muitas faixas. O vinil limitava um disco em 14, e com músicas picotadas. Já os CDs tinham 17, 20... E os aparelhos de som ainda tinham carrosséis que permitiam colocar vários CDs para que quando um acabasse, já começasse outro.
Lembra do walk-man? Pois, passamos a ter disc-man, um tocador portátil. E os toca-fitas dos carros foram substituídos por toca-cds. E além disso, com o surgimento do CD virgem podíamos fazer o mesmo que fazíamos com as fitas, a nossa própria seleção. Somado a isso a popularização da internet, a pirataria ganhou mais força. Foi maior do que na era das fitas.
A pirataria chegou a movimentar mais dinheiro do que as gravadoras. Os CDs piratas custavam até um quinto do valor de um CD original. E para piorar, em 1999, deu-se início ao compartilhamento de arquivos MP3 pela internet através do Napster. Ninguém mais precisava pagar nada para ter um álbum musical, dava para fazer download grátis.
Esse momento foi um grande marco na indústria musical porque, até então, quem tinha vendido muito disco... vendeu. E quem não tinha conseguido ainda... não conseguiria mais. Tivemos algumas exceções, alguns artistas solos e algumas bandas que conseguiram vender muito bem, mas os dez discos mais vendidos no Brasil, tais vendas ocorreram entre 1980 e 2000.
Segundo o site da Abramus, por ordem decrescente, temos em décimo lugar o álbum Xou da Xuxa, lançado em 1986, que atingiu 2.689.000 cópias. Esse disco foi revolucionário na indústria musical porque foi o primeiro a ganhar certificação de diamante. Segundo o produtor Guto Graça Melo, o diretor da Som Livre reclamou que tinham que produzir muito disco de platina para a Xuxa e ele sugeriu que inventassem um disco de diamante, com uma margem de vendas maior.
Em nono lugar: Um Sonhador, de Leandro & Leonardo, lançado em 1998, com 2.732.735 cópias. Cujas vendas foram potencializadas com a morte de Leandro, em junho daquele ano.
Em oitavo lugar: Xegundo Xou da Xuxa, lançado em 1987, com 2.754.000 cópias.
Em sétimo lugar: 4º Xou da Xuxa, lançado em 1989, com 2.920.000 cópias.
Em sexto lugar: Quatro Estações – O Show, de Sandy & Junior, lançado em 2000, com 3.000.000 cópias. Esse foi o único álbum já dos anos 2000 que entrou para a lista dos discos mais vendidos no país.
Em quinto lugar: Só pra Contrariar, lançado em 1997, com 3.000.000 cópias. Empatou com Sandy e Junior, mas entrou na lista antes deles.
Em quarto lugar: Rádio Pirata ao Vivo, da banda RPM, lançado em 1986, com 3.000.000 cópias. Também a mesma coisa que aconteceu com o Sandy e Junior e Só Pra Contrariar, vendeu o mesmo número de álbuns, mas foi lançado antes.
Em terceiro lugar: Leandro & Leonardo, lançado em 1990, com 3.145.814 cópias. Esse foi o quinto álbum da dupla.
Em segundo lugar: Xou da Xuxa 3, lançado em 1988, com 3.216.000 cópias. O álbum se manteve em primeiro lugar por 10 anos até ser lançado Músicas para Louvar o Senhor, do Padre Marcelo Rossi, em 1998, ocupando o primeiro lugar: com 3.328.468 cópias. Apenas 12.468 cópias a mais do que Xuxa.
Se compararmos essa lista com as informações da Wikipédia, com números mais atualizados, a ordem se altera. Aliás, a relação se altera. Em décimo lugar temos Só pra Contrariar. Em nono lugar: Mamonas Assassinas. Em oitavo lugar: o álbum O Canto da Cidade, de Daniela Mercury. Rádio Pirata cai para a sétima posição. 4º Xou da Xuxa sobe para a sexta e Xou da Xuxa sobe para a quinta. Todos com 3.000.000 de cópias.
A ordem de classificação se dá pelos anos em que foram lançados, os que chegaram antes ocupam as melhores posições.
Depois temos em quarto lugar: Leandro & Leonardo, lançado em 1990. E em terceiro lugar: Xegundo Xou da Xuxa. Ambos com 3.200.000 cópias.
O segundo lugar fica com Músicas para Louvar o Senhor, do Padre Marcelo Rossi, que mantém o mesmo número de vendas. E o primeiro lugar volta ao Xou da Xuxa 3 com 5.000.000 de cópias. Isso é o que eu já falei várias vezes, que esse álbum deve ter recuperado o seu posto de mais vendido porque teve vários relançamentos ao longo dos anos.
Agora, olha que curioso, na soma geral das vendas, a lista muda outra vez. Dentre os dez artistas que mais venderam discos no Brasil, em décimo lugar temos a dupla Milionário & José Rico, com 32 milhões de discos vendidos. Em nono lugar está a dupla Chitãozinho & Xororó, com 35 milhões de discos vendidos. Em oitavo lugar: Nelson Ned, com 45 milhões de discos vendidos.
Depois temos em sétimo lugar: a dupla Tonico & Tinoco. Em sexto lugar: Benito di Paula. E em quinto lugar: a Xuxa. Os três com 50 milhões de discos vendidos.
Em quarto lugar: temos Rita Lee, com 55 milhões de discos vendidos. Em terceiro lugar temos: Angela Maria com 60 milhões de discos vendidos. Em segundo lugar temos Nelson Gonçalves com 75 milhões de discos vendidos. E o primeiro lugar fica com Roberto Carlos, com 120 milhões de discos vendidos.
A partir do ano 2000, com a queda brusca nas vendas de CDs, os artistas começaram a buscar alternativas. O Lobão assumiu uma postura combativa contra as gravadoras, denunciando a falta de transparência na venda de CDs. Ele afirmava que muitas pressões não eram informadas corretamente aos artistas.
Um projeto de lei da deputada Tânia Soares, que tornava obrigatória a numeração sequencial de cada exemplar de CD, DVD e livro, foi apresentado com o objetivo de garantir controle preciso das vendas e melhorar o recebimento de direitos autorais pelos criadores. O projeto enfrentou resistência das gravadoras, mas entrou em vigor em 22 de abril de 2003. O problema, é que durante esse processo, em 2001, surgiu o iTunes e a venda digital de música foi legalizada.
A partir de 2003 já era permitido comprar música via internet. Então, em vez de comprar álbuns físicos, o público passou a comprar faixas individuais. Lembra lá do compacto simples? Pois, voltamos ao período de vendas de músicas soltas.
E em 2006 nasceu o Spotify, que em vez de comprar música, o consumidor passou a pagar pelo acesso. A plataforma oferece uma biblioteca completa. Foi um ano depois que surgiu o Youtube, mas o Youtube demorou um pouco mais para disponibilizar música.
E a Xuxa, olha só, outra vez sendo uma forte influência no mercado fonográfico, porque além dela ter sido a primeira certificada com um disco de diamante, em 2000 ela reinventou a maneira de vender música com o projeto Só Para Baixinhos que disponibilizava um kit com CD e uma fita VHS. Ela foi tão pioneira no negócio que a Som Livre não sabia nem como redigir o contrato. Depois disso, vários outros artistas fizeram o mesmo e as gravadoras começaram a vender DVDs.
Em 2011, a previsão era que o mercado fonográfico global extinguisse as mídias físicas em 2025, mas já em 2010 as lojas de discos que ainda resistiam começaram a fechar suas portas. A Som Livre, que existia basicamente para vender discos das novelas da Globo, decidiu encerrar a produção de mídia física em 2021. As últimas canções lançadas em CDs pela emissora foram Amor de Mãe vol. 2, e Salve-se Quem Puder vol. 1.
Hoje em dia os artistas que lançam ou permitem que sejam lançados seus álbuns em mídias físicas, produzem para fãs e colecionadores em números limitados. Disco de vinil e CD se tornaram cult.
0 comments:
Postar um comentário