De 1957 até 1988, o apresentador Abelardo Barbosa, que era conhecido como Chacrinha, manteve-se no ar com basicamente o mesmo tipo de programa, mesmo passando por diversas emissoras. Ele estreou na TV Tupi, na década de 1960, teve seu programa exibido na TV Paulista, TV Rio e TV Excelsior e, em 1967, foi contratado pela TV Globo, onde chegou a fazer dois programas semanais, o Buzina do Chacrinha e Discoteca do Chacrinha. Cinco anos depois voltou para a Tupi e depois disso teve passagens pela TV Record, Tupi de novo, TV Bandeirantes e, em 1982, retornou à Globo, onde ocorreu a fusão de seus dois programas num só, que se originou então o Cassino do Chacrinha, dominando as tardes de sábado.
Ele sempre contou com o auxílio das chacretes, as suas assistentes e dançarinas, cada uma com uma característica própria e apelido geralmente dado pelo apresentador. Aproximadamente 500 moças passaram pela função nos mais de trinta anos em que a Discoteca, a Buzina ou o Cassino estiveram no ar, e muitas delas são lembradas até hoje.
A princípio elas eram conhecidas como “as vitaminas do Chacrinha”, eram parte importante dos programas e acabaram criando uma tendência, imitadas por outras atrações semelhantes, inclusive o nome do grupo virou uma referência. No Clube do Bolinha haviam as Boletes, e a Angélica nomeou suas assistentes de Angelicats.
E no caso dela, da Angélica, o fato dela existir como artista se deve as Chacretes. Porque ela gostava de assistir o programa do Chacrinha e imitar as moças, aí um dia sua mãe foi convidada por uma parente para levá-la numa gravação a fim de conhecer as dançarinas e coincidiu de ser convidada para assumir o lugar de uma criança num concurso de a criança mais bonita do Brasil.
Quando as Paquitas ganharam visibilidade no Xou da Xuxa praticamente todas as meninas queriam ser uma delas, e o mesmo acontecia com as Chacretes. Tornar-se uma Chacrete era o sonho de muita garota, antes das Paquitas surgirem, ainda que elas fossem muito vulgarizadas pela visão de muita gente.
Aliás, a sensualidade era o principal critério para que uma garota fosse escolhida como Chacrete. Elas tinham que ter o que chamavam de savoir faire e/ou sex appeal. Ou seja, um modo específico de se portarem, além de saber dançar, porque nem sempre uma mulher bonita fotografa bem na televisão, e segundo o critério de escolha, as vezes uma com charme dá mais certo. Então, desde o processo de seleção, os produtores já se atentavam para gestos, trejeitos e estilos que mexessem com imaginário do telespectador.
Era o próprio Chacrinha que dava a palavra final na escolha das candidatas, e segundo ele, mulheres brancas não serviam, isto é, moças de pele clara e de cabelos pretos. Em suas palavras, Chacrete tinha que ser loura ou mulata.
Ou seja, as Chacretes tinham que ser pretas ou louras, porque eram mais sensuais. Então, várias garotas que eram claras com cabelos escuros, usavam perucas louras. Mas aquelas que tinham a pele com tendência mais para pretas, no entanto, com cabelos lisos, entravam para categoria de índias.
Elas deveriam ter mais ou menos o mesmo tamanho uma da outra, e apesar de esse critério de seleção ser totalmente físico e da má fama que recebiam, segundo algumas delas, o Chacrinha eram um paizão. Ele cuidava delas e se preocupava que tivessem um bom comportamento, além de pedir que não namorassem para que se dedicassem totalmente ao trabalho, mesmo assim as moças davam o seu jeitinho e muitas delas acabaram ficando com vários famosos da época, inclusive com Silvio Santos.
Ao longo dos anos passaram pelo palco do Chacrinha aproximadamente 500 moças, e elas já foram retratadas tanto em documentários quanto na ficção, citando-se como exemplo a telenovela Beleza Pura e o documentário Alô, Alô, Terezinha!. Algumas delas, depois que deixaram o grupo seguiram na carreira artística, a mais conhecida de todas é a Rita Cadillac.
Rita de Cássia Coutinho, passou a ser chamada de Rita Cadillac quando se tornou Chacrete em 1976, posto que ocupou até 1983, quando decidiu seguir a carreira de cantora. Na época, a Gretchen estava fazendo muito sucesso com um estilo novo, ela foi pensada totalmente para a Televisão e não tinha nenhuma concorrente a altura. Então, as gravadoras estavam loucas atrás de uma moça que cantasse e dançasse igual, e assim a Rita Cadillac foi a eleita para ser lançada no mercado fonográfico. A sua canção de maior sucesso, É bom para a moral, entrou para a trilha sonora da telenovela A Lei do Amor, em 2017.
Além de gravar discos, Rita fez participações em telenovelas, gravou filmes, inclusive com a Gretchen, aliás, as duas fizeram até pornô, separadas, mas pela mesma produtora. E a eterna Chacrete sempre esteve na mídia participando de programas de auditório e realitys, mas não foi a única a fazer sucesso como cantora.
Além dela teve também a Suely Sagres, conhecida como Suely Pingo de Ouro, que atuou ao lado de Chacrinha entre os anos 1981 e 1987. Ela já cantava antes e lançou vários álbuns de forró depois que deixou a TV.
É uma pena não saber por onde andam todas e o que elas fizeram depois da carreira de Chacrete. Algumas se converteram em evangélicas e abandonaram o ramo artístico, outras seguiram em uma carreira bem-sucedida por um tempo, e outras continuam de uma forma mais discreta, como Regina Pintinha que ensina dança e se tornou professora num projeto sociocultural, em Copacabana.
Abaixo você conhecerá algumas das 500 que passaram pela TV.
A Verinha Furacão foi Chacrete entre 1969 e 1974. Ela tem uma história bem curiosa. Só deixou os palcos porque ficou grávida, e depois estudou instrumentação cirúrgica e trabalhou em uma clínica no Rio. Apaixonou-se por um colega, mas ele era gay, e anos mais tarde revelou que teve um rolinho com Silvio Santos. Disse que brigavam constantemente, principalmente quando descobriu que ele saía com outras duas Chacretes ao mesmo tempo, mas o rompimento entre ambos foi porque o homem do baú não era bom de cama.
Não funcionou com a Verinha Furacão, mas funcionou com a Jussara Mendes. Ela estreou no Cassino do Chacrinha em 31 de agosto de 1985, e foi batizada como Jussara Concorde, depois mudou para Jussara Mendes Bumbum. Ela saiu do grupo e retornou antes de sair outra vez definitivamente. Não namorou o Silvio Santos, mas casou-se com o futebolista Müller, com quem teve seus filhos.
Outra Chacrete que teve uma carreira bem agitada foi Dalva Garcia. Ela foi coreógrafa do apresentador Raul Gil, estreou com o Chacrinha em 1975, na Record SP como Estrela Dalva. Depois o acompanhou em 1979, na Tupi SP e Tupi RJ, mas um dia resolveu fazer a Xuxa e ir gravar careca. O Chacrinha fez o Silvio Santos e a mandou embora, antes, tentou que ela usasse peruca, mas não deu certo. Em 1982, participou como atriz de uma novela na Band e tempos depois mudou-se para o Japão para dar aulas de dança. Lá, ela conheceu seu marido, e seguiu a vida dando aulas de balé.
Outra que foi para o Japão é Sandra Pérola Negra, que foi Chacrete entre 1972 e 1979. Quem deu o apelido para ela foi o cantor Luiz Melodia. Quando saiu do programa passou a fazer shows, e dançou por todo o Brasil e até lá na terra do sol nascente. Depois, se casou e abandonou a carreira.
Glória Maria Aguiar da Silva, era a Índia Potira. Ela foi uma das mais famosas Chacretes de todos os tempos. Atuou no programa entre 1969 e 1973, e segundo suas amigas, foi a que ganhou mais dinheiro na época. Mas nem tudo foi flores em sua vida, pois ela teve um romance com um bandido e foi presa algumas vezes por envolvimento com drogas. Mais tarde foi diagnosticada com câncer e teve que tirar um dos seios. Em 2010, gravou uma participação na novela Amor à Vida.
Fátima Lopes Santiago ficou conhecida como Fátima Boa Viagem. Ela foi chacrete entre 1978 e 1988, ou seja, ficou até a morte do Chacrinha. E depois, assim como a Índia Amazonense, atuou como Bolete, no programa do Bolinha, mas não se adaptou.
Maria das Graças foi a Chacrete Gracinha Portelão. Ela entrou no programa entre 1980 e ficou até 1986. Sempre quis ser Chacrete, mas trabalhou antes com o Sargentelli, e depois fez curso de artes dramáticas e até ganhou um papel na novela Hipertensão, da Globo. Continua dançando até hoje.
Cleonice, ou Cleo Toda Pura, foi Chacrete nos primeiros anos da década de 70, e depois que deixou a TV foi para os Estados Unidos, onde morou por dez anos. De volta ao Brasil, trabalhou na Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro.
Daisy Bianco estava cursando faculdade de psicologia quando se tornou a Daisy Cristal. Ela estava com dificuldades para encontrar uma vaga no mercado de trabalho e, com a ajuda da amiga Dalva, fez um teste com o Chacrinha e foi contratada. Estreou em 1978, e só saiu do programa em 1986, depois resolveu dedicar-se a sua profissão de formação.
Leila Batista era a Sarita Catatau. Foi Chacrete entre 1980 e 1984, o seu apelido era por causa da sua baixa estatura. Depois que deixou o programa, se tornou ativista ecológica.
A Elizabeth Barbosa da Cruz Alves ficou conhecida como Beth Boné. Foi Chacrete entre 1972 e 1979, o apelido é porque usava um boné para prender os cabelos. Beth se tornou evangélica e passou a celebrar cultos em casa com o marido, mas não tem problemas com seu passado de fama.
A Chacrete mais rapidinha, a que durou menos tempo, foi Lisete. Ela entrou para o programa Buzina do Chacrinha em 1978, e ficou apenas oito meses. Enquanto hoje em dia os artistas acabam o casamento para continuarem na mídia, naquela época o casamento era mais importante, e foi por isso que ela deixou a TV, para casar. Pena que o casamento não durou para sempre, pois se divorciou e passou a morar sozinha. Mais tarde, formou-se em pedagogia e passou a trabalhar em uma escola no Amapá.
Essas são apenas algumas das que ainda estão por aí e podem ser encontradas a qualquer momento, em qualquer lugar. Além delas, olha outros nomes, como o Chacrinha era criativo, ou seja lá quem for que as apelidava: Aurea Figueiredo, Baby, Beth Balanço, Bia Zé Colméia, Cambalhota, Chininha, Claudia Paraguaia, Cris Saint Tropez, Daisy Cristal, Débora Lúcia, Edilma Campos, Elvira, Elza Cobrinha, Érica Selvagem, Garça Dourada, Geni, Gláucia Sued, Gleice Maravilha, Gracinha Copacabana, Índia Ana Farias, Jussara Mendes, Karina Fofura, Lia Hollywood, Loura Sinistra, Marlene Morbeck, Mirian Cassino, Mariângela Furtado, Pimentinha, Raquel Coelho, Regina Belô, Rosane da Camiseta, Roseli Dinamite, Sandra Veneno, Sandrinha Radical, Sandrinha Pureza, Valderez, Valéria Mon Amour e Eva Furacão.
Algumas já estão em outros planos, mas continuam vivas na memória de quem teve a oportunidade de conhece-las naquele tempo, e também na memória da nossa televisão.
Anna Maria de Angelo Ribeiro era a Chacrete Leda Zepellin. Considerada uma das mais belas de todos os tempos, ela começou a trabalhar com o Chacrinha em 1979, aos 19 anos de idade e ficou até 1984, quando foi para o Bolinha, mas fez apenas um programa. Leda faleceu em 1998, com apenas 38 anos de idade.
Maria Aparecida Alves Fernandes ficou conhecida por Fernanda Terremoto, ela nasceu em 1961, e estreou como Chacrete em 1978, e ficou durante 6 anos. Quando saiu, em 1984, atuou no filme Furacão Acorrentado, e em 1985, se lançou como cantora. Apesar de ter sido eleita a cantora revelação do ano, deixou a carreira dois anos depois. Ela faleceu em 2003.
Lucia Souza de Mattos Monteiro ficou conhecida como Lucinha Apache, era outra que fazia parte do grupo das índias. Ela nasceu em 1951, e faleceu em 1 de abril de 2010.
Cirlene da Silva ficou conhecida como Marli Bang Bang. Ela nasceu em 1957. Depois que deixou de ser Chacrete mudou-se a Portugal, onde faleceu em 17 de agosto de 2013.
Outra Chacrete que nos deixou, foi Sandra Mattera. Ela nasceu em 1952, e faleceu no dia 27 de janeiro de 2018.
Lindalva Ferreira de Lima foi a Chacrete Índia Amazonense. Ela estreou na TV em 1978, após uma breve passagem como bailarina pelo Programa Carlos Aguiar na TV Gazeta. Em 1983 deixou o programa do Chacrinha e estreou no Clube do Bolinha, como Bolete, onde permaneceu até 1989. Lindava faleceu em abril de 2019.
Curiosidades.
Em 1985, a Som Livre lançou o disco Chacrinha e Chacretes cantam para todas as festas. E realmente serve para festinhas de carnaval, de reveilón, de aniversário...
E em 1996, foi lançado um CD tecno dance das Chacretes intitulado Uma festa dançante em homenagem ao velho guerreiro, era um grupo formado por outras quatro Chacretes que eu ainda não tinha mencionado aqui no vídeo. A Cida Cleópatra, a Regina Polivalente, a Cristina Azul e a Ester Bem Me Quer. Elas gravaram algumas canções bem conhecidas, como Lindo balão azul, Meu ursinho blau blau, Aquele abraço e Erva venenosa.
Para assistir a este conteúdo, clique na imagem abaixo.
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