Bonecas que não deveriam ser para crianças.

Os programas infantis começaram a entrar em extinção na TV aberta a partir da década de 2010, a razão, segundo as emissoras, é que não se pode fazer publicidade para crianças e como são os anunciantes que pagam as despesas da produção de um programa, não é viável gastar em um produto que não tem retorno financeiro.

Pode ser que as emissoras tenham razão, mas eu queria abordar aqui outro tema que está relacionado com a publicidade para criança.

Quem passou pelos anos 80 e 90 pegou os anos de ouro dos programas infantis. Apesar de serem quase todos com o mesmo formato cada apresentador e apresentadora tinha o seu jeitinho de comandar a atração e a única intenção, pelo menos o que parecia ser, era transmitir um momento animado, de alto astral, sem muita preocupação se podíamos tirar algum proveito daquilo. E também não havia muita preocupação se os produtos dos patrocinadores seriam acessíveis para o público daquela faixa da programação.

Por exemplo no Xou da Xuxa tinha anúncio de produtos da Arisco e de roupa de cama, que não propriamente direcionados aos baixinhos, além de alguns brinquedos e Coca-Cola. Aliás, ainda hoje é muito normal que as crianças se entupam de refrigerante em festinhas e tenham disponíveis a qualquer momento em casa, mesmo sendo uma bebida muito danosa para o organismo, mas não era a única coisa que prejudica a saúde que aparecia com muita naturalidade na TV.

Além desses merchandisings que estavam inseridos nos programas, nos intervalos comerciais recebíamos outro bombardeio de produtos. Eu não pude ter nem um por cento de tudo o que tinha vontade, então acabava produzindo os meus próprios brinquedos com materiais que tinha em casa, como a Eliana ensinava no Bom Dia & Cia. Aliás, ela deu início a um novo formato de programa infantil, era mais didático, menos apelativo, apesar de ter sido a maior vendedora de brinquedos nos anos 90.

Eliana lançou fábrica de sorvete, de tricô, bonecos e bonecas... e é aqui onde eu queria chegar. A maioria dos apresentadores infantis, pelo menos os mais famosos tiveram suas versões bonecos. Começou com o Fofão, depois com a Xuxa, Angélica, Sérgio Malandro, Eliana, Mara Maravilha... e até quem não falava diretamente com crianças teve a sua versão doll também. Nesse quesito o Gugu foi o maior vendedor. Mas até aqui eu não vejo muito problema, pois apesar do seu programa ter sido sempre muito apelativo, sua imagem pessoal era comportada.

Não podemos dizer o mesmo da Tiazinha do programa H. Em 1998, Suzana Alves estreou como a dominatrix depiladora que entrava em cena para torturar rapazes em um quiz. Foi uma figura pensada para o público do programa, adolescentes e jovens, ela bateu recorde de venda da revista Playboy e quando gravou um CD e passou a se apresentar em outros programas cativou as crianças também.

E pronto, teve o seu nome e imagem estampada em chiclete e em sandálias, entre outros produtos, e virou boneca. Se uma mulher sexy, em roupas curtas, era um problema apresentando um programa infantil. O que dizer de uma com as mesmas características, mas que atuava para o público já bem crescidinho, ir parar em mãos de crianças?

Na mesma época, no mesmo programa, outra moça incorporou uma personagem ainda mais provocante e vendeu ainda mais revistas, a Joana Prado é ainda nos dias de hoje a recordista em vendas da Playboy. Ao contrário da colega Tiazinha, não lançou música, mas teve uma bonequinha da sua personagem que foi feita para crianças. A fábrica de brinquedos Estrela, colocou no mercado uma versão da boneca Susi com referências a moça que se apresentava seminua com o rosto coberto por um fino vel.

E a Susi, outra vez, ganhou a versão de Sheila Mello e Sheila Carvalho, as duas dançarinas mais famosas dos grupos de axé que faziam muito sucesso na época. Elas também eram direcionadas ao público adulto, estamparam a capa da Playboy mais de uma vez, aliás, a morena do Tchan é recordista nesse quesito, pois só para a Playboy posou 5 vezes e 1 vez para a revista Sexy.

Do mesmo grupo que projetou as duas beldades para a fama saiu a Carla Perez. Aliás, as duas Sheilas trilharam o caminho que a primeira loira deixou aberto, porque foi a precursora em ensaios sensuais, além de ter ditado o jeito das dançarinas se requebrarem no palco e na TV. Mostrou que era uma grande fonte de renda para as revistas de ensaio sensual, e apesar de tudo teve a sua boneca... na época, o burburinho era se a sua versão de plástico teria a bunda maior do que o normal, porque esse era o grande trunfo da dançarina, ter a bunda grande.

E assim passamos pelos anos 90.

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