O filme Super Xuxa Contra Baixo Astral é um clássico do nosso cinema, a produção é da Dreamvision e chegou nas salas de projeção no dia 30 de junho de 1988, com 93 cópias distribuídas pelas empresas Luís Severiano Ribeiro e Columbia Pictures, sendo um dos maiores circuitos do país. Conseguiu aproximadamente 3 milhões de espectadores e foi o terceiro filme mais visto do ano.
A ideia do mesmo saiu da cabecinha da então recém-formada cineasta Anna Penido. Ela é brasileira, mas a mãe é estados-unidense, e estudou cinema em Los Angeles, onde se destacou no curso com um curta-metragem com temática infantil que chegou a chamar a atenção da equipe de Steven Spielberg, mas o que ela queria mesmo era fazer filmes para crianças brasileiras.
Quem sugeriu fazer o filme para a Xuxa foi o seu pai, porque ela nem sabia quem era a apresentadora, e então, quando voltou ao Brasil passou a acompanhar o Xou da Xuxa para ter uma ideia de por onde ir e ao perceber que a rainha dos baixinhos era super autêntica e positiva, teve a ideia central do longa. Segundo Anna, as crises pelas quais o país passa gera uma energia negativa, mas ela que já estava com um pé dentro do budismo, acreditava numa força interior que se sobrepõe a qualquer outra e, além disso, era amante da natureza, ou seja, tinha os elementos que coincidiam com a heroína do seu longa.
O filme mostra Xuxa interpretando ela mesma, mas com uma grande dose de surrealismo, convocando crianças para colorirem muros pichados na cidade. Enquanto isso, Baixo Astral, um ser demoníaco mal-humorado que vive nos esgotos, decide se vingar sequestrando o seu cachorro Xuxo. Ela então sai em busca de sua mascote e vai parar em uma dimensão paralela chamada Alto Astral onde recebe superpoderes para vencer o vilão e resgatar as pessoas que foram influenciadas pelo lado sombrio.
O figurino de Xuxa foi inspirado em Michael Jackson no curta Captain EO que era exibido nos parques da Disney, a pedidos da própria apresentadora, mas as críticas mais fortes vieram pelas inevitáveis comparações com Labirinto de Jim Henson, lançado dois anos antes. Tanto Anna Penido, a autora e diretora, quanto Girardello, responsável pelos bonecos do longa, admitem a inspiração em tal filme, embora ela diga que Alice No País Das Maravilhas tenha sido a sua maior fonte.
O roteiro chegou até Xuxa pelas mãos de Denise Prado, amiga de Marlene Mattos, que se tornou assistente de Anna no longa. David Sonneschein, seu amigo estados-unidense, aceitou o desafio de dirigir os efeitos especiais, a direção de arte ficou a cargo de Yurika Yamazaki, a captação de recursos para o filme sob a responsabiliadade de Diler Trindade, e Antonio Calmon fez algumas intervenções no roteiro que precisou ser alterado para comportar merchandisings.
Aliás, só na introdução do filme, enquanto Xuxa canta Arco-íris, já aparecem 7 marcas (Triunfo, Shell, Suvinil, Caloi, Coca Cola, IT sorveteria e iogurte Bliss), além de outras espalhadas pelo longa, como a boneca da apresentadora produzida pela Mimo, os bonecos Lango Langos que tiveram uma cena criada apenas para serem exibidos, entre outros.
As gravações foram concluídas em quatro semanas e o filme foi rodado quase totalmente em estúdio com cenários que remetiam ao fundo do mar, labirinto, e ao bueiro do Baixo Astral.
Vários artistas famosos da Globo foram sugeridos, mas Anna queria trabalhar com nomes desconhecidos. Iran Mello fez o repórter da TV Fim. Cláudia Puget, a Fernanda Florifinder. João Brandão, o câmera-man da TV Fim. David Sonneschein, o cientista louco. Manfredo Bahia, o Político. Maria Eliza Freire, a professora de Rafa. Caio Torres, o aluno do colégio de Rafa. Isabel Gomide, a mãe de Rafa. Oscar Marques, o pai de Rafa. Roberto Guimarães, o Morcegão. Paolo Paceli, a Titica.
Ainda assim foi inevitável inserir alguns para chamar a atenção do público. Guilherme Karan ganhou o papel do vilão através de testes e Jonas Torres entrou no elenco por indicação, já que estava fazendo muito sucesso na série Armação Ilimitada, para interpretar o personagem Rafa. Henriqueta Brieba interpretou a cágado Vovó Cascadura, e Luiz Carlos Tourinho o Pássaro da Árvore da Consciência onde apareceu também o ator Tuca Andrade no papelo do pássaro Tuc.
Além deles, Xuxa teve que interagir com muitos personagens lúdicos ou inanimados, como uma almofada com a voz de Sandra de Sá, um papagaio chamado Lourival interpretado por Jorge Crespo, um boto rosa com a voz de Vitor Haim, a lagarta Xixa com a voz de Katia Moraes, e o seu cãozinho Xuxo com a voz de Nair Amorim que já fez a voz de Velma do desenho Scooby-Doo e da Lisa do desenho Os Simpsons.
E até os diretores ganharam alguns personagens. David Sonneschein fez a voz das pulgas do Xuxo, Denise Prado e Anna Penido fizeram as vozes das flores do Alto Astral.
A trilha sonora só chegou nas lojas seis meses depois do seu lançamento, no começo de 1989, pela Som Livre, ao mesmo tempo em que o VHS do filme foi lançado. O álbum contém 11 faixas. A primeira é Arco-Íris, interpretada por Xuxa. Depois tem Flexionar, interpretada por Katita. Ei Machão, no filme é cantada pela personagem Xixa e na versão do álbum é cantada pela cantora Vanessa, que na época fazia parte do Trem da Alegria. Túnel do Terror, cantada por Solange e Paulo Massadas. Sonho, por Sandra de Sá. Voar Voar, por Trem da Alegria. Alto Astral, por Xuxa. Burocracia, por Tatiana, Eu Quero Saber, por Xuxa e Central Africana. Somos Um Só, por Patrícia e Luciano. E Voar Voar, instrumental, de Mara Jazz.
Todas as músicas foram assinadas por Anna Penido e Michael Sullivan e Paulo Massadas, que já eram os produtores dos discos da Xuxa, além de Paulo Guerra nas músicas Sonhos e Somos Um Só.
Curiosidades.
A música Arco-íris foi feita exclusivamente para o filme, mas Xuxa insistiu para que fosse inserida também no álbum Xou da Xuxa 3 que foi lançado em 11 de julho, poucos dias depois da estreia do longa.
Para os cenários, a produção conseguiu um cristal emprestado de um colecionador.
O Xuxo deveria ser um cachorro de verdade, mas na troca, o boneco foi criação da Xuxa, ela deu todos os detalhes de como o queria. A confecção ficou por conta do grupo Cem Modos que confeccionou também a lagarta Xixa, em látex. Havia duas versões da personagem, uma pequena para contracenar com Xuxa e uma grande para os closes.
O covil do Baixo Astral, que reproduzia os encanamentos de um esgoto, era escuro e difícil de filmar. Como era complicado para limpar e até perigoso para os atores, foi ficando sujo e fedorento de verdade.
Guilherme Karan morreu em 2005, decorrência da síndrome de Machado-Joseph, uma doença degenerativa. Na época do filme ele tinha 30 anos.
O filme foi lançado na Argentina como Super Xuxa Vs. Bajo Astral. E foi apresentado em festivais de filmes obscuros nos EUA, com cópias não autorizadas sob o título de Super Xuxa Vs. Satan.
Em entrevista, Anna disse que na época ficou bem amiga de Xuxa, mas uma vez um jornal publicou que elas brigavam nas filmagens e a apresentadora lhe achava incompetente, o que não era verdade.
Logo depois da estreia Anna foi mãe pela primeira vez e ficou de fora das produções tocadas pelo sócio Diller Trindade. Disse que escreveu novos filmes para a Xuxa e pretendia fazer a continuação de Super Xuxa Contra Baixo Astral, mas seus roteiros não foram usados e foi se afastando aos poucos. O seu último encontro com a Xuxa foi para produzir um making-of do filme para o lançamento em DVD, em 2001.
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