Quatro por Quatro estreou no dia 24 de outubro de 1994. Foi escrita por Carlos Lombardi, com colaboração de Maurício Arruda e Ronaldo Santos, teve direção de Alexandre Avancini e Luiz Henrique Rios, com direção geral de Ricardo Waddington. Contou com as atuações de Betty Lago, Elizabeth Savalla, Cristiana Oliveira, Letícia Spiller, Humberto Martins, Marcos Paulo, Tato Gabus Mendes e Diogo Vilela.
O Fio condutor da novela era a vingança de Quatro mulheres contra Quatro homens, ou seja, deveria ser uma trama sobre o empoderamento feminino, porém, escrita e dirigida por uma equipe masculina. Não existe um casal protagonista, pelo menos não deveria existir, porque a trama é a história de quatro mulheres. Elas se conhecem na prisão, após um incidente no trânsito e resolvem se juntar para arquitetar uma vingança contra os seus amados, responsáveis pela situação em que se encontram.
Betty Lago é a Abigail, uma psicóloga que sempre lutou para manter o casamento fracassado, mas foi humilhada pelo marido. Elizabeth Savalla é a Auxiliadora que foi trocada por uma garota pelo seu marido. Cristiana Oliveira é a Tatiana que foi abandonada no altar pelo noivo. E Leticia Spiller é a Babalu que flagrou o namorado na cama com outra mulher.
O plano delas, é uma entrar na história da outra para se vingarem de seus namorados e maridos. A Abigail finge ser a irmã mais velha de Auxiliadora para atormentar a nova namorada de Alcebíades, e Auxiliadora se passa por uma espanhola para descobrir as falcatruas de Gustavo, o ex de Abigail. Tati finge ser uma menina recatada para humilhar o Raí, e Babalu vai trabalhar na mesma casa onde Fortunato trabalha como jardineiro para infernizar a vida do cara.
Dá certo? Não dá! Obviamente não poderia dar porque a novela estava só no começo e o autor tinha que desenvolver muita trama para os personagens desenrrolarem ao longo dos meses. Mas fora da ficção também não deu certo, aconteceu um monte de coisas que comprometeu os planos iniciais de Carlos Lombardi, a começar pela data de estreia da novela.
Originalmente Quatro por Quatro estrearia apenas no final de 1995, porém a telenovela que substituiria A Viagem foi cancelada a dois meses da estreia e, então, Carlos Lombardi teve que correr contra o tempo para entregar os primeiros dez capítulos para a direção. Como ele tinha bastante tempo para apresentar o projeto, na época ele apenas havia avisado os diretores do que se tratava a trama, mas não tinha nada escrito, nem a sinopse.
Foi uma corrida contra o tempo. E ainda assim, quando as chamadas foram ao ar, o Boni, que era o diretor geral da Globo e estava de férias, quando viu pediu que tirassem do ar e cancelasssem a novela porque ele não gostou. Ele não concordava com quatro mulheres protagonistas em vez de um casal tradicional, mas foi convencido que a trama estava coerente com o universo jovem da época e teria boa aceitação do público.
Mas pediu que refizessem a chamada porque não tinha estrelas. No entanto, a produção tinha só quatro, ou cinco, capítulos gravados, era o que dava para fazer e só depois que ele assistiu os capítulos que estavam prontos é que ficou convencido e liberou.
E com esse corre corre, o elenco teve que ser adaptado. As quatro protagonistas, nem uma era a que Carlos Lombardi tinha em mente, elas eram as que estavam disponíveis no momento. A Auxiliadora foi escrita para a Eliane Giardini, a Abigail para a Bruna Lombardi, a Tatiana para a Malu Mader e a Babalu para a Adriane Esteves. O Raí seria interpretado por Alexandre Frota. Ou seja, o casal que roubou o protagonismo da novela deveria ter sido feito por Adriane Esteves e Alexandre Frota.
Ele recebeu os dez primeiros capítulos, fez a leitura com o elenco, mas antes de começar a gravar o diretor Roberto Talma, que o tinha escolhido, foi substituido por Ricardo Waddington, que preferiu colocar o Marcelo Novaes no lugar dele.
Em relação as quatro protagonistas, Eliane Giardini no teatro, no cinema e na televisão, mas só em 1993 é que conseguiu uma personagem que a fez ser reconhecida pelo grande público na novela Renascer, então a direção de Quatro Por Quatro achou que ela estava meio crua para o papel de Auxiliadora. Bruna Lombardi recusou o papel de Abigail proque ela apresentava o Gente de Expressão na Rede Manchete e não queria abandonar o programa.
Malu Mader que a princípio faria a personagem Tatiana foi redirecionada para a novela Irmãos Coragem, mas também não entrou nessa novela. E Adriana Esteves que interpretaria a Babalu, até aceitou o convite, porém, ela tinha recebido muitas críticas negativas pela sua personagem Mariana em Renascer e entrou em uma crise de depressão e preferiu se afastar da TV.
Ela tinha até gravado algumas cenas, mas preferiu rescindir o contrato com a Rede Globo e passou a fazer pequenos papeis em especiais, algumas participações, mas ficou reclusa por uns três anos. Só em 1996 é que voltou as novelas no SBT e teve a sua grande volta a Globo em 1997 como protagonista de A Indomada.
E assim, das quatro atrizes que assumiram as protagonistas, apenas Elizabeth Savalla era a mais experiente, pois vinha de uma longa carreira com passagens pelo teatro e cinema, além da televisão. Betty Lago tinha feito apenas as minisséries Anos Rebeldes e SexAppeal, antes disso era modelo. Cristiana Oliveira já tinha um bom currículo também, ela ficou bem famosa ao interpretar a Juma em Pantanal na Rede Manchete, tinha sido a sua segundo novela, depois fez Amazônia e Amazônia Parte 2, De Corpo e Alma e Memorial de Maria Moura.
Já Letícia Spiller, sua experiência como atriz tinha sido basicamente com os filmes de quando era Paquita, em Lua de Cristal, Sonho de Verão e Gaúcho Negro. Ela chegou a atuar também com os Trapalhões e ganhou um papel pequeno na novela Despedida de Solteiro. Em Quatro Por Quatro, sua personagem seria a enfermeira Duda, que foi passado para Luana Piovani, também inexperiente na dramaturgia e regravou as cenas que antes tinham sido feitas por Adriana Esteves.
Então, como estrelas da época, a Globo tinha apenas Cristiana Oliveira, Elizabeth Savalla e Humberto Martins. Havia outros atores experientes, mas esses eram os que tinham a grande simpatia do público.
Para compensar o imprevisto, foi prometido para Carlos Lombardi que a novela teria apenas 120 capítulos, ou seja, uns cinco meses, seria mais curta que o normal. Mas no dia da estreia, já foi anunciada com 160 capítulos, dois meses a mais do que o prometido, e superou todas as expectativas porque foi estendida para 233 capítulos, ou seja, ficou nove meses no ar.
O primeiro capítulo marcou 50 pontos e o último 58, tendo uma média geral de 43 pontos, bem acima do esperado pela emissora na época.
Mas a razão de todo esse esticamento não foi só pelo sucesso da trama, é porque a novela substituta, Cara & Coroa, também atrasou para estrear. Então, para ficar todo esse tempo no ar, o autor teve que inventar muita coisa que não estava na sinopse original, teve, por exemplo, uma festa a fantasia que durou uma semana onde todo mundo queria se pegar. Teve até uma cena típica de Os Trapalhões com os personagens entrando em quartos errados.
O autor acabou se perdendo em algumas situações, houve muitas falhas de continuidade e situações absurdas, como foi o caso do personagem Tufik, vivido por Alberto Baruk, que não reconheceu Elisa Maria, a personagem de Lizandra Solto, durante toda a novela, ele era empregado dela no restaurante, e no final coloca óculos para justificar uma miopia e então lembra que eram casados e que tinham dois filhos, mesmo ela não tendo idade pra isso.
Aliás, Lizandra Solto se destacou como Elisa Maria, mas foi esquecida pelo autor na reta final, e assim como ela, aconteceu com outros atores que reclamaram. Diogo Vilela pediu para deixar a trama porque achava que tinha pouco espaço, ele esperou até o capítulo 160, que era o contrato incial, e não quis continuar mais.
Drica Moraes também pediu para sair porque ela tinha se programado para gravar um filme e não esperava esse esticamento da novela. Até voltou a fazer algumas cenas pequenas, mas depois a personagem sumiu sem explicação.
Saiu também o Daniel Dantas, a Nina de Pádua, o Oswaldo Loureiro, a Tássia Camargo... a Bianca Byington nao gostou do encaminhamento de sua personagem na reta final, que se tornaria uma compulsiva sexual louca e seria internada em uma clínica psiquiátrica junto com o personagem de Marcelo Serrado, se recusou a continuar gravando...
Mas o seu desfecho foi mantido, apesar de ela não aparecer, o fim da personagem foi apenas descrito pelos demais personagens.
E alguns atores ficaram um tempo afastados e reapareceram em algum momento, como foi o caso de Paulo Cesar Grande que voltou para uma única cena final. A atriz Inês Galvão também saiu e voltou. Leonardo Vieira foi e quase não voltou mais, retornou com novo visual apenas para cenas específicas. E Paulo Guarnieri parou de gravar e foi substituido por um figurante vestido de múmia, seu personagem só voltou para uma cena final.
Elizabeth Savalla e Betty Lago entravam em muitos conflitos nos bastidores e como o romance de Gustavo e Auxiliadora sofreu rejeição do público, Elizabeth Savalla acabou sendo afastada da trama principal e foi parar em um núcleo secundário, cômico, atuando com Neuza Borges e Tony Tornado, onde passou a interpretar a mulata Maria do Socorro como forma se contornar a traição de sua personagem com as amigas do plano de vingança original.
E alguns personagens cresceram, como foi o caso de Tatiana e Bruno, e Babalu e Raí que foram convertidos nos protagonistas da novela porque eles eram os personagens mais carismáticos e passaram a encenar basicamente esquetes cômicas. Babalu e Raí passaram a ser uma espécie de gato e rato se envolvendo em diferentes aventuras, como sequestros, nudez na rua, prisões, acidentes…
Por exemplo, Raí queria ser pai e para convencer Babalú a ter um filho com ele, alugou uma criança do bairro que criou um caos na oficina, como no filme Ninguém segura este bebê. Depois o autor inventou uma possível família de Raí, ele foi morar numa mansão, mas descobriu que tudo foi um engano. E virou o herói do bairro salvando pessoas de algum tipo de crime. Fingiu ser pastor, foi esfaqueado, preso umas três vezes, foi para o hospital umas três vezes também...
Eram situações escritas basicamente para esticar a trama e até desgastava a imagem dos dois, mas deu certo, funcionou bem.
O figurino da Babalu se tornou bem popular na época, o tamanco de madeira, as meias coloridas, o cropped ciganinha, a flor no cabelo... Os cortes de cabelo de Elizabeth Savalla e de Betty Lago também se tornaram os mais buscados entre mulheres mais velhas nos salões de cabeleireiro.
Sem falar nas gírias, bofe, mona, uó, babado... que até então eram utilizadas apenas no universo LGBT, se tornaram constantes nos diálogos da personagem de Letícia, e passaram a ser utilizadas pelo público geral.
A vinheta de abertura mostra quatro esgrimistas perseguindo quatro homens, que na verdade são apenas duas pessoas, uma esgrimista e um homem, multiplicadas em cores diferentes, rosa, azul, lilás e verde. O modelo é Beto Simas, também capoeirista, pai dos atores Felipe Simas, Rodrigo Simas e Bruno Gissoni. Os personagens da vinheta representam as protagonistas da novela se vingando de seus parceiros.
A música da abertura, Picadinho De Macho, é composição de Paulo Sérgio Valle e Tavito, interpretada por Sandra de Sá. A letra é bem agressiva e tem termos que hoje em dia já não poderiam ser usados mais. A novela teve dois álbuns musicais, a trilha sonora nacional com o ator Humberto Martins na capa e a trilha sonora internacional com Letícia Spiller na capa.
Quatro Por Quatro ficou no ar desde 24 de outubro de 1994, até 22 de julho de 1995. Foi reexibida pelo Vale a Pena Ver de Novo de 31 de agosto de 1998 a 12 de março de 1999, em 140 capítulos e foi reexibida na íntegra pelo Canal Viva de 19 de maio de 2010 a oito de abril de 2011, abrindo a faixa de reprises às 15h30. Quatro Por Quatro e Por Amor foram as primeiras novelas a serem exibidas no canal. E foi disponibilizada na íntegra no Globoplay em sete de novembro de 2022.
Curiosidades
Tem algumas semelhanças entre Quatro Por Quatro com algumas novelas anteriores de Carlos Lombardi. Por exemplo, Bruno, vivido por Humberto Martins, e Gustavo, vivido por Marcos Paulo, disputavam a paternidade de Ângela, a personagem de Tatyane Goulart. Era o mesmo que aconteceu em Perigosas Peruas, em 1992, com as personagens de Cidinha e Leda, das atrizes Vera Fischer e Silvia Pfeiffer, que disputavam a maternidade de Tuca vivida por Natália Lage.
Em 1988, na novela Bebê a Bordo, todos os personagens masculinos disputavam a paternidade de Heleninha, a bebê que deu nome à trama.
Uma das canções mais populares do disco internacional nunca tocou dentro da trama. Short Dick Man, do grupo Gillette, que viralizou anos mais tarde por ter sido apresentada no programa da Xuxa, só tocou seis vezes no encerramento da novela, com os créditos subindo. Quatro vezes lá no meio da trama e duas vezes nas últimas semanas. A letra fala de uma mulher que não gosta de homem de pênis pequeno, então acho que entrou para o álbum apenas porque era um hit do momento e a Som Livre tinha acordos com algumas gravadoras internacionais para divulgar músicas no Brasil.
A capa do disco internacional é uma licença poética do cartaz do filme Pulp Fiction, sucesso no cinema na época que tinha sido citado diversas vezes na novela.
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