Os autores de novelas costumam repetir com muita frequência uma fórmula que deu certo. Por exemplo a novela Pantanal de Benedito Rui Barbosa que fez um tremendo sucesso em 1990, teve a sua estrutura reutilizada em outros folhetins. Renascer e O Rei do Gado foi praticamente uma cópia e cola de Pantanal.
Da parte da Glória Perez nos vimos Explode Coração, O Clone, América, Caminho das Índias e Salve Jorge com a mesma estrutura. Muda-se uma coisinha aqui, outra ali, troca-se o nome dos personagens.
A novela O Beijo do Vampiro estreou no dia 26 de agosto de 2002. Foi escrita por Antônio Calmon e teve direção geral de Roberto Naar e Marcos Paulo. Contou com as participações de Tarcísio Meira, Flávia Alessandra, Marco Ricca, Cláudia Raia , Luis Gustavo, Glória Menezes, Júlia Lemmertz e Ney Latorraca nos papeis principais.
A novela foi produzida 11 anos depois da bem sucedida Vamp, do mesmo autor. Poderia ter sido uma sequência, poderia se chamar Vamp A Nova Geração, por exemplo. Mas o Antônio Calmon preferiu escrever outra história, com outros personagens, e os efeitos especiais que não foram possíveis serem usados em Vamp por falta da tecnologia necessária para tal, então, em O Beijo Do Vampiro já seria possível.
A história começa no século XII, quando o vampiro Duque Bóris Vladescu, personagem de Tarcísio Meira, obcecado pela princesa Cecília, personagem de Flávia Alessandra, mata seu noivo, o conde Rogério, vivido por Thiago Lacerda. No entanto, a moça decide se matar também para fugir dele. A história tem, então, um salto de oitocentos anos até chegar aos inícios dos anos 2000, quando Bóris está casado com Mina, personagem de Claudia Raia, uma vampira ciumenta e frustrada por não conseguir ter um filho.
O que ela não sabe é que o marido teve um filho com uma moça que morreu no parto, no final dos anos 80. E para protegê-lo de sua ira, trocou a criança na maternidade por um bebê recém-nascido, cujos pais eram Lívia e Beto, a princesa Cecília e o conde Rogério reencarnados, e deixou o filho legítimo do casal em um orfanato.
Quando o menino, o Zeca, completou treze anos ele não disfrutou de uma puberdade normal, junto com a ebulição dos hormônios vieram também os seus poderes vampiristicos. O personagem foi interpretado por Kayky Brito que tinha 13 anos mesmo, prestes a completar 14, mas ainda estava nos seus 13.
Os vampiros estão sob risco de extinção e Bóris sai a procura do filho e só então Bóris descobre que o casal que o criou é o mesmo que ele conheceu 800 anos atrás, e mata o rapaz novamente. Dessa vez fazendo parecer um acidente normal, trágico, mas normal, um desastre de avião. Livia decide se mudar e Zeca acaba conhecendo e ficando amigo do verdadeiro fllho de sua mãe adotiva, o Renato, vivido por Thiago Farias.
Para escrever a novela, Antônio Calmon buscou inspiração no livro Drácula, escrito por Bram Stoker em 1897, além das versões cinematográficas do clássico, especialmente o suspense Drácula de Bram Stoker, de 1992, e as comédias A Dança dos Vampiros e Dracula: Morto, mas Feliz, de 1967 e 1995, respectivamente.
O curioso é que, segundo ele, tentou se distanciar de outras telenovelas sobre vampiros, teve Vamp dele mesmo em 1991, e Um Homem muito Especial que passou na Band em 1980, mas deu um personagem para Ney Latorraca que foi o protagonista de Vamp, o inesquecível Vlad. Ney Latorraca foi cogitado a interpretar o Boris, mas aí as comparações com Vamp seriam mais fortes e ele foi remanejado para outro papel.
Os atores Flávia Alessandra, Tarcísio Meira e Thiago Lacerda gravaram as primeiras cenas da novela que se passavam no século doze no Castelo de Almourol, em Portugal. A cidade cenográfica de Maramores foi inspirada na arquitetura de Praga, da República Checa.
A novela precisou passar por algumas adaptações, porque a ideia inicial é que o personagem do ator Marco Ricca fosse um prefeito, mas como era ano eleitoral a emissora achou que o personagem pudesse ser relacionado ao perfil de algum político e acharam melhor transformá-lo em um promotor.
A vampira Mina tinha sido pensada para Christiane Torloni, mas ela foi remanejada para a novela Mulheres Apaixonadas e Cláudia Raia aceitou fazer a personagem já estando grávida, isso fez com que o autor adaptasse a história da personagem para não precisar disfarçar a gravidez da atriz. A atriz passou cerca de três meses afastada e voltou a gravar algumas cenas em sua própria casa.
A abertura da novela era um desenho animado com a música Blue Moon da banda The Marcels.
A novela teve três álbuns musicais, a trilha sonora nacional com o ator Alexandre Borges na capa, com 16 faixas, das quais, duas são em inglês: Blue Moon da banda The Marcels e Fairy Tale (Gregorian Version) da banda Shaman que, formada por brasileiros. Outra faixa de destaque do álbum foi a música A Luz Que Acende o Olhar, de Deborah Blando.
A trilha sonora internacional teve a atriz Cláudia Raia na capa, e contém 17 faixas. Destaque para Fool, de Shakira. Papa Don't Preach, de Kelly Osbourne. E, A Thousand Miles, de Vanessa Carlton.
O terceiro álbum recebeu o título de Vampiromania e foi lançada especialmente para o Halloween com as músicas tocadas no jogo online que foi um dos produtos originados pela novela. É um álbum misto com 17 faixas de canções em português e em outros idiomas, dentre elas, algumas já tinham entrado para os álbuns anteriores.
Além dos discos e do jogo online, a novela ganhou dois álbuns de figurinhas, um com 174 imagens colecionáveis que eram vendidas em bancas de jornais em pacotes com quatro unidades, e outro lançado pela empresa de gomas de mascar Buzzy, cujas figurinhas eram encontradas nos chicletes da marca. A emissora ainda lançou um portal exclusivo, o vampiromania.com, que contava com histórias em quadrinhos online e pequenos jogos inspirados na novela.
O Beijo do Vampiro não conseguiu grande audiência. O primeiro capítulo marcou 36 pontos de média com picos de 41. A média geral ficou entre 25 e 30 pontos, o menor índice, em 24 de dezembro, foi de apenas 16 pontos. Foi uma das piores médias registradas em novelas das sete no período de 2000 a 2008, mas foi superior a Bang Bang, Beleza Pura e As Filhas da Mãe.
No entanto, fez sucesso entre crianças e adolescentes, O Beijo do Vampiro conseguiu um aumento de 33% de telespectadores infantis em relação às novelas anteriores do horário. Ao fim da novela verificou-se que 30% dos telespectadores tinham a faixa etária entre 4 e 17 anos, razão pela qual a trama teve, também, princípios politicamente corretos incorporados, como a proibição com pena de morte para os vampiros que mordessem crianças, idosos ou deficientes físicos.
E mesmo com a audiência abaixo do esperado, a novela foi esticada em 60 capítulos. A previsão era para acabar em março de 2003, mas a emissora não queria que o final coincidisse com o final da novela das seis, Sabor da Paixão. Foi reexibida na íntegra no canal Viva, de 28 de fevereiro a 04 de novembro de 2022, e em 5 de dezembro de 2022, foi disponibilizada na íntegra pelo Globoplay, como parte do Projeto Resgate.
Curiosidades
Na novela Um Homem Muito Especial, da Band, de 1980, haviam variações entre os vampiros, alguns deles podiam se expor ao sol. Na novela Vamp, da Globo, em 1991, todos os vampiros, sem exceção, podiam se expor ao sol. E em O Beijo Do Vampiro, da Globo, de 2002, os vampiros podiam se expor ao sol desde que usassem um filtro solar desenvolvido especialmente para eles. Eu achei essa ideia fantástica.
Apesar de O Beijo do Vampiro ter passado na TV, em 2002, onze anos depois de Vamp, a linha do tempo de sua história é mais antiga. O menino Zeca nasceu em 1989, dois anos antes do início do drama de Natasha em Armação dos Anjos. E Vlad a tinha conhecido em sua vida anterior em 1981, pouco mais de 200 anos até a história de 1991. Já em O Beijo Do Vampiro, o drama de Bóris e Cecília começa antes, no início do século 13, 600 anos antes de Vlad conhecer Eugênia.
O personagem de Ney Latorraca, Nosferatu, é o nome do vampiro cujo filme foi um plágio de Drácula de Bram Stoker, já que o diretor não tinha conseguido os direitos para a produção. O longa de 1922 reproduziu exatamente a mesma história de Drácula trocando apenas os nomes dos personagens e o local onde a história se passava. O filme foi proibido e retirado de circulação, mas em 1979 ganhou uma nova versão, e em 2024 foi refeito com influências de outras obras, distanciando-se da produção original.
A música Sympathy For The Devil, originalmente da banda Roling Stones, foi gravada pela vampira Natasha na novela Vamp e fez muito sucesso nas rádios na época da novela. Em 1994, foi tema do filme Entrevista Com o Vampiro na voz da banda Aerosmith. E a música Blue Moon, tema de abertura de O Beijo Do Vampiro, foi tema do filme Um Lobisomen Americano En Londres, de 1981.
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