O que aconteceu com a freira do rap e os padres cantores


A Igreja Católica se orgulha, apesar de o orgulho ser pecado, em ser a mais antiga do cristianismo, ou seja, já passou dos dois mil anos de existência e já passou por várias reformas e rupturas, e mesmo dentro da Igreja Católica Apóstolica Romana, essa que deve obediência ao Papa, tem distintas maneiras de manter os fiéis vinculados e uma delas é a renovação carismática.

A renovação carismática é uma linha mais pentecostal que cativou muita gente e deu novos ares para o catolicismo, apesar de não ser vista com bons olhos pelos mais tradicionais. Esse movimento começou em meados da década de 1960,  nos Estados Unidos, e chegou no Brasil em 1970, mas só no final da década de 1990 é que se tornou um grande fenômeno.

Pode se dizer que o grande responsável por esse fenômeno é o Padre Marcelo Rossi quando lançou seu primeiro álbum, o CD Músicas Para Louvar o Senhor, em 1998, que desbancou o Xou da Xuxa 3 do posto de disco mais vendido da América Latina. Foi um despertar, um abrir de olhos de muita gente para um universo paralelo. A renovação carismática já tinha um canal de TV, a Canção Nova fundada pelo Padre Jonas Abib, e muitos cantores que faziam sucesso no meio religioso, mas que não apareciam no meio laico.

A Canção Nova é uma comunidade, ou seja, muita gente mora lá, é como um cidade com solteiros e casados, leigos e religiosos, que mantém uma estrutura enorme para evangelizar através da música, é como a Disney para os carismáticos, ou uma espécie de MTV católica que deu visibilidade a muita gente. Alguns artistas seguiram outros caminhos, foram viver suas próprias vidas, outros continuam na comunidade, e tem até aqueles que foram caçados pela Igreja como foi o caso do Padre Roberto.

Ele era membro da Escola de Samba Gaviões da Fiel e apartir de 1993, mudou totalmente o rumo de sua vida. Entrou para o seminário e, em maio de 1994, ainda seminarista, fundou a Fraternidade de Aliança Toca de Assis, que presta atendimento aos moradores de rua. Ele foi ordenado sacerdote em 8 de dezembro de 1996.

A Toca de Assis é radicalisma e foi o radicalismo que fez Padre Roberto ser expulso. A igreja encontrou razões para afastá-lo do sacerdócio e tirar seus poderes sacerdotais. Agora ele se apresenta nas redes sociais como Irmão Roberto, e mantém seu trabalho nas ruas.

Veja agora quem são os religiosos que fizeram mais sucesso nesse florescer da Renovação Carismática.

Padre Zezinho
O Padre José Fernandes de Oliveira, mais conhecido como Padre Zezinho, não é exatamente um dos nomes da renovação carismática, pelo contrário, até já fez comentários agressivos ao movimento, mas é um dos padres mais famosos do meio católico devido a suas músicas e discos lançados. Ele lançou seu primeiro disco em 1969, e a partir daí, começou a receber convites para concertos internacionais, ou seja, foi o precursos dos padres popstars.


Ele fundou o grupo Cantores de Deus, em 1997, para companhá-lo em seus shows e o grupo ganhou vida própria. A dupla Luan e Vanessa, que ficou muito conhecida no comecinho da década de 1990 com a música Quatro Semanas de Amor, foram precursores do grupo. Padre Zezinho recebeu a indicação para concorrer ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Cristã em português, em 2010, e continua sua carreira artística com a de sacerdote até os dias de hoje.

Padre Marcelo Rossi
Em 1998, o Padre Marcelo Rossi, tinha quatro anos de sacerdócio quando lançou o CD, ao vivo, Músicas Para Louvar O Senhor e se tornou um fenômeno. O álbum assumiu o posto de disco mais vendido no Brasil e, consequentemente, outros vieram em seguida. Estava presente em vários programas de TV e contou com o apoio de vários artistas em seus álbuns musicais. Inclusive da Xuxa, com quem gravou e de quem gravou.


Ela fez dueto com ele na música Bem Aventurados, e ele gravou em 2000, no seu terceiro álbum, a música que foi feita para ela em 1999, Parabéns Pra Jesus. Que depois gravaram juntos para o XSPB de Natal. E ele não parou nos CDs, pois escreveu livros e gravou filmes também, além de assinar com a Globo para transmitir suas missas nas manhãs de domingo.


O Padre Marcelo Rossi virou referência para outros padres e artistas. Fez tanto barulho que até o Vaticano lhe investigou em segredo para ver se ele não era uma ameaça para a igreja e para os fiéis. Parece que não, mas a depressão de Vera Verão que culminou em sua morte foi atribuida a ele. No auge de seu sucesso, quando foi participar do Domingo Legal, no SBT, com o Gugu, pediram para Jorge Lafond, intérprete da Vera Verão, sair do palco para o padre entrar. Lafond saiu e não voltou mais. Nunca mais voltou ao programa.

Em 2016, ele passou por uma fase depressiva e desenvolveu anorexia. Ficou cadavérico, mas conseguiu se recuperar, dando uma grande lição de vida.

Padre Fábio de Melo
O Padre Fábio José de Melo Silva, foi ordenado em dezembro de 2001, aos 30 anos, 18 anos após o início dos seus estudos em seminários. Na época, já tinha três álbuns lançados, ou seja, ele começou a cantar ainda seminarista.


Em 2008, lançou seu décimo álbum, pela Som Livre, e teve a música Vida, de Fábio Junior, na novela Caras & Bocas.


Além de vários álbuns musicais, Padre Fábio de Melo também escreveu vários livros e ganhou status de artista e galã ao aparecer junto com artistas e participar de vários programas de TV, inclusive assinou contrato com a TV Globo para participar do programa Domingão com o Huck... No comecinho de 2025, revelou que passou por uma fase depressiva e desejou deixar de viver.

Padre Antonio Maria
O Padre Antonio Maria, na verdade, se chama Antônio Moreira Borges. Foi ordenado em 1976, aos 30 anos. Seu primeiro álbum foi lançado em 1984, o segundo só saiu 10 anos depois, em 1994, e a partir de 1999, lançou vários. Em 1999, lançou o álbum Festa da Fé com a música Vai Sacudir Vai Abalar, uma versão da música que leva o mesmo nome da Banda Cheiro de Amor. E em 2002, no álbum Missão Divina, lançou a música Festa, versão de Ivete Sangalo.


Padre Antonio Maria não fazia a linha pentecostal, mas era um dos prediletos do meio artístico, inclusive foi o escolhido para celebrar o casamento de Ronaldo Fenômeno com Daniela Cicarelli em um castelo na França. Por conta dessa popularidade e super exposição ficou proibido de celebrar missas, após ser fotografado abençoando um casal em um casamento no civil. O motivo de sua dispensa é porque o homem já era casado, ou seja, na ocasião era o seu segundo casamento, e a Igreja católica não aceita oficialmente os divórcios.


Ele tinha fundado uma comunidade religiosa feminina, as Filhas de Maria Servas dos Pequeninos, para ajudá-lo no serviço a crianças carentes e a sacerdotes necessitados, em 2000. E detalhe, ele adotou três crianças como filhos, mas depois desse castigo da igreja, passou cerca de um ano recluso no México. Depois, voltou e dsde então, vive nessa comunidade que acabou se tornando a sua própria congregação.

Irmã Inez
No meio desse monte de homens de batina, eis que surge uma freira. A irmã Inez de Souza Carvalho, que entrou para a vida religiosa em 1993, aos 24 anos. Inicialmente na congregação Servas do Espírito Santo, e depois mudou para a congregação Copiosa Redenção.


Em 1997, ela gravou o primeiro CD intitulado O Brilho da Misericórdia com a participação do padre Antonio Maria, e de outras irmãs de congregação. Na época nem o padre Antonio Maria, nem o padre Marcelo Rossi eram famosos, pelo menos não no meio laico. E o seu CD foi gravado de uma forma super amadora, com uma produção bem básica. Ainda assim, a música Rap da Copiosa a levou para vários programas de TV. Esteve no Jô Soares, na Hebe Camargo, No Planeta Xuxa...


Era mais pelo fato de ser algo inusitado, não pela qualidade musical, mas foi contratada por uma gravadora que resolveu relançar o CD com uma capa e com uma faixa bônus, mas bem produzida, o Iê Iê de Jesus. O problema é que antes ela se apresentava sempre com outras duas freiras, e ao assinar esse contrato passou a ser solista.

Em 2001, Irmã Inez gravou o segundo álbum que foi muito bem produzido, no entanto, devido a um desacordo com a gravadora, o álbum não foi lançado em nível nacional e não tem nenhuma música na internet para não dar problemas com direitos autorais, o que é uma pena porque tinha músicas muito legais, muito bem produzidas, inclusive uma que era um hino da Copiosa Redenção. Aliás, a Copiosa já lançou vários cantores, tem alguns irmãos e irmãs que gravaram álbuns e todos muito bons.


A irmã Inez saiu da Copiosa Redenção em 2008, após lançar seu terceiro álbum. A congregação trabalha na recuperação de dependentes químicos e utiliza a espiritualidade da renovação carismática no trabalho com os leigos e ela começou a desenvolver um trabalho com meninas em situação de risco em Paranaguá, uma cidade portuária do Paraná. Lá, fundou uma cumunidade chamada Milagre Eucarístico onde continuou usando a música como forma de cativar e educar os jovens.

Chegou a um ponto em que essa comunidade lhe exigia tanto que já não dava para ela corresponder com as necessidades da Copiosa Redenção, e aconselhada pelo fundador da Congregação, o padre Wilton, assumiu o papel de Madre superiora/fundadora da comuniade Milagre Eucarístico e, além dos seus álbuns, já lançou alguns livros também.

Padre Zeca
E para finalizar, temos o Padre Zeca, que se ordenou padre aos 25 anos e era um dos nomes mais conhecidos naquele estouro da renovação carismática no final dos anos 90. Ele fazia uma linha mais garotão e ficou bem popular entre os jovens quando lançou dois álbuns musicais, mas de repente sumiu.


Por volta de 2004, foi fazer um doutorado na Itália, e em 2006, no final do curso, pediu afastamento da igreja, após 18 anos de sacerdócio. Disse em entrevistas que entrou em crise e se apaixonou por uma mulher nesse período de estudos, foi quando parou para repensar sua vida e ao voltar para o Brasil achou mais honesto sair para não viver uma vida dupla.


Zeca, não mais padre, passou a dar aulas e a fazer palestras corporativas.

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