Se você passou pelos anos de 1980 e 1990, deve lembrar que existiam muitos programas infantis na TV e que todos tinham cenários muito lúdicos, alguns melhores do que outros, mas geralmente todos muito coloridos. O que nós, crianças da época não nos dávamos conta é que aquele amontoado de elementos coloridos, muitas vezes com luzes e com movimento, contavam uma histórinha. Mas talvez a história não foi bem contada, salvo algumas excessões como era o caso do Bozo, no SBT, em que o cenário claramente representava um circo e também o Bambalalão, na Cultura, que seguia o mesmo formato.
Com o sucesso do Bozo e do Bambalalão, a TV Globo encomendou um programa na mesma linha, mas o cenário distinguia-se dos concorrentes. O cenógrafo Jean Philippe Therène se inspirou em antigas ilustrações de livros de histórias infantis e projetou um cenário com gramado, flores, casinhas de abelhas, cachoeira, riachos e montanhas.
O ator e humorista Orival Pessini criou o personagem Fofão para dar apoio as crianças. Era um alienígena que aprendeu a falar português, mas trocava a ordem das palavras. Quando o programa acabou, em 1986, ele foi para a Bandeirantes, onde apresentou o programa TV Fofão, invertendo a ordem dos fatores.
Se no Balão Mágico ele era um alienígena, no TV Fofão, ele estava em seu mundo, a Fofolândia, e as crianças que participavam do programa eram os alienígenas em seu habitat.
O Xou da Xuxa tinha o cenário mais aleatório. Sabemos que quando ela migrou da Manchete para a Globo, em 1986, o primeiro cenário produzido para o Xou da Xuxa não foi aprovado por ela. E junto com o desenhista Mauricio de Souza, ela desenhou um novo cenário com os elementos que queria para apresentar para o Boni, então diretor da emissora.
Ela queria um sol para dizer bom dia, uma nave espacial que era um sonho de infância, foi baseada em um programa que assistia quando era criança, e uma boca desenhada no chão para simbolizar o seu beijinho beijinho. Os demais elementos foram agregados para que as crianças se sentissem a vontade, como se estivessem em um parque de diversões.
Talvez aí tenha nascido um conceito para o programa, todos os cenários do Xou da Xuxa tinham elementos funcionais, eram brinquedos como roda gigante, escorregador, gira-gira... Mas cenário temático só aconteceu no quarto ano do programa, em 1989, quando o carnavalesco João Cardoso Filho assumiu a responsabilidade de desenhar os cenários. Aí teve um mundo de doces, uma floresta, uma cidade futurista e um ambiente de video-game.
Quanto as Paquitas, desde sempre elas foram chamadas de soldadinhas pela similiaridade do uniforme, pelo menos do chapéu, com os famosos soldadinhos de chumbo que são personagens de um conto de fadas de 1838, mas, porém, todavia, contudo, não obstante, as Paquitas tiveram seus trajes inspirados nas balizas, aquelas meninas que vão fazendo malabares e piruetas diante da banda das escolas nos desfiles festivos.
Porque Xuxa tinha sido baliza, inclusive ela publicou em seu livro Memórias uma foto de quando era criança em que estava vestida de Paquita, ou melhor, de Baliza.
Em 1987, Mara Maravilha ganhou seu próprio programa no SBT, o Show Maravilha. Eu costumo dizer que esse era o infantil mais bonito da TV, como na década de 1980 tudo era exagerado, o programa era uma explosão de cores e encantava mesmo nos aparelhos em preto e branco. Sim, meu caro, até meados da década de 1990, ainda existiam televisores com imagens em preto e branco.
O Show Maravilha já nasceu com um conceito bem estabelecido, ERA UM JARDIM. Isso explica o carrossel em formato de cogumelo, os banquinhos em formato de flores e as assistentes de palco vestidas de borboletas. Todos os cenários do Show Maravilha foram basicamente uma releitura dessa proposta.
Depois da Mara, o Silvio Santos colocou o Sergio Mallandro para apresentar um programa infantil. A formula era a mesma dos dois que faziam mais sucesso na TV, o Xou da Xuxa e o Show Maravilha, mas como esses tinham muitos elementos que remetiam as meninas, O Oradukapeta nasceu com a proposta de cativar os meninos.
Então, o cenário era tão aleatório quanto o Xou da Xuxa, os elementos não tinham necessariamente uma conexão entre si, estavam mais vinculados com a proposta de representar o que agradava os meninos. Tinha pista de bicicleta, fliperamas... e uma asa delta suspensa em cima do palco. Mas com o passar do tempo o cenário foi ficando mais simples.
E o SBT passou por uma fase de enxugar gastos e Silvio Santos cogitou eliminar alguns programas para juntar os apresentadores, mas depois voltou atrás e manteve os programas que já existiam, no entanto, todos com o mesmo cenário. Cada um só trocava um elemento básico para se distinguir dos demais. No caso do Oradukapeta era uma caricatura do Sergio Mallandro.
Também em 1987, A Rede Manchete resgatou o Clube da Criança com a Angélica na apresentação. Nos primeiros meses a produção reutilizou o cenário do Lupu Limpin Clapla Topo, mas a partir de 1988, o programa passou a ter cenário exclusivo. O primeiro não deixava bem claro qual era a proposta, lembrava um circo, mas a partir de 1989 tudo ficou mais claro. Nesse ano foi um parque de diversões, depois uma floresta que, diga-se de passagem, foi o mais lindo de todos os infantis já feitos até agora.
Não era uma simples floresta, era o mundo da Alice no País das Maravilhas, com lagos, labirinto, árvores que se moviam... o problema é que ficou caro demais para o apertado orçamento da emissora e foi trocado antes de completar um ano. A nova proposta era representar as várias regiões do Brasil. E no último ano o cenário do Clube da Criança foi com um ambiente futurista.
Mas antes da Angélica estrear no Clube da Criança a Rede Manchete apresentou outros programas e a Angélica esteve envolvida com eles também. Com a ida de Xuxa para a TV Globo, Lucinha Lins e Claudio Tovar estrearam o programa Lupu Limpim Clapla Topo que tinha a proposta de fazer teatro na TV para criança. Os dois eram muito bons em musicais e optaram por ir na mesma linha no infantil.
O nome do programa deveria ser o nome dos apresentadores na lingua do P. Se você passou pelos anos 80 deve lembrar disso. A lingua do P consistia em colocar a letra P em cada sílaba. (falar na língua do P: Por exemplo, meu nome é Leonel). Então deveria ser PluPciPnha Plins PclauPdio PtoPvar. Mas os responsáveis pela arte ou não entenderam ou só quiseram facilitar um pouco mesmo e adaptaram o nome para Lupu Limpim Clapla Topo.
No segundo ano esse conceito foi descartado e adaptaram o programa para algo mais na linha dos que estavam fazendo sucesso como o Xou da Xuxa, Show Maravilha... E em 1987, quando o programa saiu do ar, a Angélica estreou o Clube da Criança no mesmo cenário. Só em 1988 é que ela teve cenário próprio.
E outro programa que também estreou depois que a Xuxa saiu, foi o Nave da Fantasia com a Simony, que tinha deixado a Globo. Apesar do nome do programa ser Nave da Fantasia, o cenário era um navio, e depois que a Simony abandonou o programa a Angélica foi escalada para apresentar em seu lugar, essa foi a sua estreia como apresentadora, e ficou alguns meses até o Adolpho Bloch pedir para tirarem o infantil do ar.
Em 1988, estreou no SBT o Dó Ré Mi Fá Sol Lá Simony, que apesar de o nome ser um trocadilho com as notas musicais, a proposta não tinha nada a ver com música. Bom, a Simony sempre cantava, mas isso era comum nos programas infantis, todos os apresentadores gravavam álbuns musicais e usavam seus programas para divulgar incansavelmente seus discos.
Mas o conceito do programa era a ecologia. O cenário era uma mistura de jardim zoológico com parque de diversões e a apresentadora sempre passava dicas e orientações de cuidados com a natureza e com os animais. Simony não ficou nem um ano no comando do programa, e em 1989 passou a apresentar um novo infantil, o Show da Simony, enquanto que o SBT abriu uma seletiva para encontrar uma nova apresentadora.
Em 1989, estreou na Rede Manchete o programa Cometa Alegria. Era ambientado em um planeta futurista, contava com objetos exóticos em seu cenário, e cenário virtual projetado com uso do chroma key. Não tinha auditório e as crianças se vestiam tal qual a proposta do infantil, com roupas futuristas e bem coloridas. Ia ao ar pela manhã comandado por Cinthya Rachel e Patrick de Oliveira, ela com 9 anos e ele ainda com 7 anos. Diferente do formato que imperava na época, o programa não tinha plateia.
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