No começo dos anos 90, enquanto a televisão infantil brasileira se dividia entre a estética do espetáculo e o apelo comercial, a TV Cultura apostava numa abordagem diferente, era educativa, intimista, e surpreendentemente sofisticada. Foi nesse cenário que nasceu o Glub Glub, um programa infantil que, a primeira vista, parecia apenas mais uma atração simpática com peixinhos falantes. Mas fazendo uma análise mais cuidadosa nota-se que era um projeto ousado, sensível e extremamente à frente do seu tempo.
Glub Glub foi criado e roteirizado por Lilian Iaki. O programa estreou no dia 9 de setembro de 1991, na TV Cultura. A ideia era simples, mas muito inteligente, tratava-se de dois peixes chamados Glub, um macho e uma fêmea, que viviam desventuras no fundo do mar e falavam sobre temas ecológicos, tendo desenhos animados intercalados às histórias deles.
Inicialmente Glub Glub era um quadro do programa Rátimbum, os dois pexinhos apareciam rapidamente, e na época eram interpretados por Carlos Mariano e por Cecília Homem de Melo. Ele atuou em diveras obras da TV, cinema e teatro, esteve, por exemplo, no elenco de Chiquititas em 1999, e na versão de 2013 também, além de atuar em Carrossel, Carinha de Anjo... todas no SBT.
Mas atuou também na Globo, no seriado Minha Nada Mole Vida. E apresentou o programa Tagarela na Band, que ia na mesma linha de Gente Inocente da Globo e de Pequenos Brilhantes do SBT. Essas são apenas algumas obras em que ele atuou. E a Cecilia esteve em várias produções desempenhando distintos papéis em distintas obras. Foi atriz, produtora de elenco, e roteirista, de filmes, séries e novelas.
Atuou, por exemplo, no seriado A Grande Família e na novela Órfãos da Terra... entre outros tantos trabalhos que executou. Não dá para elencar todos porque o vídeo ficaria muito chato.
No entanto, quando Glub Glub virou um programa, Cecilia deixou o elenco e foi substituida por Gisela Arantes que já tinha atuado no filme O Sétimo Artesão, de 1982, era uma produção metalinguística, new wave, onde interpretou uma bruxa.
Em 1989, ela fez o papel da Vaquinha Matilde em A Vaca Lelé. Uma vaquinha cheia de sonhos e curiosidades de conhecer a vida e seus segredos. E em 2000, esteve no filme Mamíferos - A Floresta Feliz. É uma produção de 45 minutos com aqueles bebês caracterizados de bichinhos que fizeram parte da divulgação da Parmalat.
O conceito do programa já é apresentado logo na vinheta de abertura. É um desenho animado onde um indígena navega em um bote cheio de coisas e o cabo de um televisor cai na água. Um peixe persegue o cabo e quando o alcança puxa o aparelho para dentro da água. Já no fundo, um peixe elétrico morde o cabo do plugue servindo de fonte de energia para a TV funcionar.
Quanto a apresentação, a técnica era simples. Os atores usavam uma espécie de capacete em formato de peixe com dois cabos que eram usados para fazer os movimentos da cauda, além de uma maquiagem super carregada que levava no mínimo uma hora para ficar pronta, e uma roupa na mesma cor da parede de fundo.
E detalhe, no começo, esse capacete era bastante pesado, e como eles gravavam em média três programas por dia, os atores ficavam bem cansados. Em algumas ocasiões gravavam cinco programas no mesmo dia.
Através da técnica do chromakey, a produção inseria um desenho animado para simular o fundo do mar. Com o tempo, esse cenário virtual foi sendo aprimorado, colocaram outras camadas, colocaram imagens de um aquário de verdade, além do desenho de fundo, deixaram mais bonito. E mudou várias vezes, os peixinhos interagiram entre si em distintos ambientes, além de suas estéticas mudarem também.
Tudo era muito caprichado, mas no começo, dava para ver até as falhas do efeito, algumas partes da roupa, que possivelmente ficavam dobradas ou com sombras, e não eram totalmente elimanadas pelo chormakey.
O Glub Glub apresentou várias animações estrangeiras um tanto alternativas, vindas de países como Alemanha, República Tcheca, Inglaterra, França e Bélgica. Eram produzidas através das mais diferentes técnicas, incluindo stop motion, bonecos live action, entre outras animações. Várias delas nem tinham fala, era para um público bem infantil.
A ideia inicial da produção era fazer apenas 60 episódios, mas deu tão certo, agradou tanto o público que durtou até 1999, completando 679 episódios. Um piloto do programa apresentou outros personagens, tinha um pirata, um Tritão, uma sereia e um mergulhador chamado Homem-Rã. Ele apresentaria o programa que seria sobre a vida marinha. A ideia foi reutilizada para a segunda versão de Glub Glub, em 2005. Foram gravados 16 episódios e 90 entrevistas, mas nenhuma foi ao ar, e a ideia do programa foi cancelada e transformada no Glub Glub que conhecemos.
No terceiro ano do programa, entrou uma nova personagem, a carangueja Carol, que era interpretada por Andrea Pozzi. Sobre ela eu sei muito pouco, basicamente que ela era atriz de teatro e cinema e meio briguenta, mas que deixava aparecer também o seu lado doce. Ela foi morar em Portugal e, lá, teve um AVC e faleceu em 2005.
Em 1995, o programa passou por uma reformulação, foi para o horário nobre com vários desenhos novos. Depois voltou ao seu horário normal. O último episódio foi ao ar no dia 24 de setembro de 1999. No dia primeiro de setembro de 2006 o programa voltou a ser exibido com o mesmo elenco, mas dessa vez na TV Rá-Tim-Bum. Foram 26 episódios, e não teve desenho, a produção optou por mostrar histórias e curiosidades sobre a natureza e o fundo do mar. A vinheta também mudou.
No dia 16 de junho de 2009, a Cultura fez um especial comemorando seus 40 anos e exibiu diversos programas marcantes, entre eles a versão original do Glub Glub em uma única apresentação. Na ocasião dos 45 anos da emissora, em Junho de 2014, o infantil foi homenageado novamente. Carlos Mariano apresentou um programa falando como foi ter participado e revelando detalhes da produção.
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