Criminalização da homofobia.

Já há muito tempo a comunidade LGBT espera que o governo, que os políticos, façam alguma coisa para garantir mais segurança aos que se identificam como homossexuais, transexuais e as demais orientações que se enquadram nas siglas que saem do padrão hetero. No entanto, como a cultura em que estamos inseridos é muito mais hipócrita do que propriamente religiosa, os políticos não aprovam nenhuma lei de apoio aos LGBTs por medo de perderem votos dos eleitores que se denominam religiosos. O que é outro problema, porque o estado deve ser totalmente desvinculado de qualquer conceito religioso.


Por sorte alguns políticos, por interesse próprio ou por senso de justiça, finalmente tomaram uma atitude e desde o dia 13 de junho de 2019 a homofobia passou a ser criminalizada no Brasil. Mas ainda não é uma lei específica, pois está vinculada ao crime de racismo, que é inafiançável e imprescritível. Ou seja, tem alguns crimes que caducam, deixam de existir com o passar do tempo, e outros podem ser pagos financeiramente. Nesse caso, quem tem dinheiro dá uma boa grana para sair da cadeia e segue em observação em liberdade. Não é o caso do racismo e agora da homofobia, a esses, o ato criminoso não tem tempo que o apague e nem dinheiro que o pague.

Recentemente Neymar Jr, que depois de todo o rolo que aconteceu entre a sua mãe com o namorado dela, andou trocando mensagens com alguns de seus parças, com conteúdo bastante ofensivas ao rapaz. Baseado nos áudios que ele trocou com esses indivíduos, e que foram vazados, um documento com denúncias foi protocolado no Ministério Público de São Paulo pedindo a prisão preventiva do jogador e todos os envolvidos.

A denúncia foi movida por ativistas LGBTs que viram nas mensagens o crime de homofobia e formação de quadrilha, pois Neymar chama o Tiago Ramos de “viadinho” entre outros termos grotescos e ofensivos, além de seus parças sugerirem como castigo enfiar um cabo de vassoura no ânus de Tiago Ramos, ou até mesmo matá-lo.

Independente das atitudes de Tiago, da forma que as coisas se desenrolaram em sua relação com a Nadine Gonçalves, a troca de mensagens de Neymar evidencia o agravante dos atos pelo histórico do namorado de sua mãe. Ou seja, se o rapaz se identificasse como hetero, teria o mesmo tratamento? Sofreria as mesmas ameaças?

Dá para entender porque são necessárias determinadas leis e porque é importante o politicamente correto nos dias atuais?

É porque nós carregamos décadas de desvalorização do ser humano devido a cor de pele, orientação sexual, etnia e mesmo sexo que ainda são manifestadas através de piadas ou comentários despretensiosos. É louvável a atitude das pessoas que reconhecem que cresceram inseridas em uma cultura sexista, racista, homofóbica, e se esforçam para se livrarem dos estereótipos opressores, mas ainda é preciso mais.

Por exemplo. Ainda nos dias de hoje muitos homens ostentam as suas parceiras, namoradas, bonitas, como um acessório. O amor é invisível aos olhos, então escolher alguém só pela aparência não é amor. E quando uma pessoa fala de outra e destaca como atributo o fato dela ser gay ou negra, e/ou usar a frase “nada contra”, é porque tem alguma coisa mal resolvida, pois quando não temos problemas não vemos as diferenças.

Eu lembro de uma história de dois meninos, duas crianças, que estudavam juntas, um era loiro e outro era negro. Quando o menino negro raspou a cabeça, o menino loiro pediu a seus pais para que rasparem a sua também. A intenção era pregar uma peça na professora, porque eles tinham a mesma idade, a mesma altura, e ambos carecas iriam confundi-la, já que ela não iria conseguir distinguir quem era quem.


Ou seja, nós não nascemos preconceituosos, separatistas, homofóbicos. Nós assimilamos a cultura na qual estamos inseridos. E infelizmente para acabar com algumas atitudes discriminatórias, ou pelos menos atenuá-las, é preciso criminaliza-las.

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