Minha amiga me viu nu.

Nem sempre eu tive uma mente tão aberta, apesar de durante muito tempo achar que tinha. A minha aceitação em relação a tudo o que está fora do padrão aceitável pela sociedade aconteceu gradativamente a medida que os anos passaram, mas sinto-me feliz por ter evoluído mais rápido do que muita gente da minha geração.

Inicialmente eu me posicionava como um cara evoluído, passivo, ou seja, estava tudo bem desde que eu não precisase me envolver com nada, era suficiente me colocar como espectador. Mas a verdadeira evolução me tirou dessa zona de comodidade e me colocou junto com os autores da liberdade tão almejada por muitos e alcançada por poucos.

Para não divagar muito, vou me limitar ao tema deste post, nudez.

Sempre muito tímido, eu não me importava se alguém ficasse nu na minha frente, mas eu mesmo só conseguia me despir diante de alguém na minha imaginação, pois nas ocasiões em que precisava tirar a roupa, buscava qualquer coisa para me colocar atrás, ainda que não fosse necessário me desnudar completamente.

Com o passar dos anos eu fui ficando mais a vontade com os amigos, no entanto, com aqueles que eu não tinha muita intimidade. Exatamente isso, eu conseguia me expor, se necessário, mais a vontade com quem eu não tinha uma relação muito estreita e melhor ainda se não tivesse relação nenhuma.

Com o passar dos anos, observando que alguns amigos mais próximos se despiam tranquilamente diante de mim, eu comecei a me soltar até chegar ao ponto em que me sentia bem a vontade quando precisava me desnudar diante deles também. Inclusive cheguei a dividir casa com alguns rapazes que circulavam nus, despreocupadamente, do quarto para o banheiro e vice-versa. Depois de atingir esse nível eu precisava botar a prova outra coisa que só existia no meu imaginário, tomar sol sem roupa em uma praia de naturismo.

A primeira vez fui com um amigo, quando chegamos paramos o carro às margens da praia, mas a bons metros da entrada, então tínhamos que caminhar pela rua asfaltada entre os outros carros estacionados e às pessoas que transitavam pelo local, chegando e saindo do balneário. Despi-me logo que desembarquei, já meu amigo caminhou vestido com sua sunga até por o pé na areia, onde teve que tirá-la. Voltei mais vezes naquela praia e fui em outras naturistas também.

As praias, evidentemente, não são frequentadas só por homens, então me expor nu diante de mulheres foi um salto enorme na minha evolução de desenibição, mas elas estavam dentro daquela condição que valia quando eu estava treinando essa liberdade, ou seja, eram desconhecidas, e assim me mantive por longos anos até tomar coragem de ficar nu diante de amigas.

A primeira vez aconteceu numa brincadeira em uma piscina a noite, onde, depois de sair de uma sauna tíravamos a sunga e pulávamos na água. Pular era rápido, mas tínhamos que deixar a piscina em algum momento e quando isso se fez necessário eu procurei ficar de costas o máximo possível para a menina de quem eu não podia evitar tal exposição.

Pois bem, eis que um dia eu aceitei o convite para ir com alguns amigos, dos quais três eram rapazes e uma só era moça, em uma praia de nudismo. Ao ver que o primeiro menino ao se despir não teve nenhum problema por se expôr diante de nossa amiga, nem ela demonstrou qualquer sinal de constrangimento, eu fiz igual, mas ainda com aquela coisa de ficar meio de costas, lateral... enfim, escondendo-me. Foi necessário pelo menos duas horas para me sentir mais confortável e aceitar que eu não tinha nada a esconder, apesar de ela nunca ter visto minha genitália.

E dessa história toda tiro duas conclusões. Uma é que timidez é diferente de vergonha, pois uma pessoa tímida não é necessariamente vergonhosa, e o mesmo vale para o contrário. A outra é que a genitália é só mais uma parte do corpo e expô-la não muda nada, pois o respeito, ou a falta dele, depende muito de como nos relacionamos com o mundo e nada tem a ver com o tamanho, formato ou cor do nosso órgão sexual.

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