Vejo aqui que muitos têm curiosidade de bastidores e vou aproveitar a memória que tenho porque me lembro de muitos detalhes. Fui a uma gravação do Planeta em novembro de 1998 (o programa foi exibido em janeiro). Eu era criança e não tinha idade para estar na gravação, mas minha prima organizava caravanas e conseguiu, não sei como, que liberassem a minha entrada (eu viajei sabendo do risco de ser barrado, então a ansiedade era ainda maior com medo de não ter essa oportunidade).
Por volta das 16h, passamos por uma espécie de galpão lateral que dava acesso ao palco. (Esse galpão aparece no início do Especial de Natal de 1998. A Xuxa começa o programa no cenário do Park e, na cena seguinte, desce com a Fafy Siqueira por uma rampa até entrar no carro. Aliás, a cortina azul que aparece rapidamente fechando a nave do Park nesse especial é a mesma cortina do Planeta, só que sem os detalhes das estrelas). Nessa rampa ficavam pessoas da produção que separavam quem do público ia para o palco e quem ia para a plateia ao fundo.
A minha prima já havia me explicado que as pessoas selecionadas para o palco eram consideradas as mais bonitas pela produção. Eles diziam: “Você por aqui/ você por ali, etc”. Para a plateia de trás, o público subia por outra escada. Eu subi pela rampa, fiquei feliz achando que tinham me achado bonito, por isso entrei no estúdio pelo palco, mas logo fui encaminhado para aquela espécie de “bar” onde ficavam os Papaquitos.
Nesse lugar ficavam outras poucas crianças ( alguns eram filhos de pessoas da produção). Não fiquei triste porque tive muito espaço para pular e dançar sem nenhum adulto tapando a minha visão, além da liberdade de ir para o palco nos intervalos para ficar perto da Xuxa, já que não tinha nenhuma grade impedindo. E como o estúdio era muito pequeno, o palco ficava pertinho, até para quem estava no fundo. (Lembro de pensar: Nossa, se esse estúdio é tão pequeno, até os adultos que ficavam nessa plateia nas gravações do Xou ficavam pertinho da nave. É muito curioso como é diferente o tamanho que o cenário imprime na tela).
Depois vieram os animadores da plateia e todas as músicas que seriam apresentadas tocaram na íntegra. Logo entendi o motivo: nesse momento, todas as câmeras estavam voltadas para o público. Havia câmeras para a plateia de trás e as câmeras que se moviam pelo palco captando os closes do público da frente. Na edição final, essas imagens eram sobrepostas como se estivéssemos dançando e vendo os cantores e a Xuxa no palco.
E é por isso que mesmo quando vemos closes das pessoas da plateia da frente, não vemos nenhuma câmera se deslocando ao lado dos cantores e da Xuxa. Inclusive dá para perceber alguns erros de continuidade: vemos uma pessoa numa posição e, no corte seguinte, essa mesma pessoa aparece em outro lugar. Isso acontecia porque a edição colava imagens da pré-gravação.
Por conta dessas músicas, todos já sabíamos quais grupos e cantores iriam se apresentar (No início do programa, quando Xuxa anunciava os cantores, já não era nenhuma surpresa). Percebi também que os câmeras gostavam de dar close nos mais animados, porque víamos algumas imagens nos monitores. Dancei e pulei muito em todas as músicas e fiquei suado e feliz.
Aí vem o Dudu (o personagem coveiro) e dá algumas instruções E CONTA A data que o programa iria ao ar, e que por ser perto do Carnaval, precisávamos estar muito animados. O público reagiu com um “Ahhhhh” pela demora para a exibição. E Marlene falou no microfone: “É porque a apresentadora está precisando de férias”.
Aí vieram as paquitas distribuindo as agendas autografadas pela Xuxa. Depois elas se juntaram com “You Can Dance” e Bombom no palco e se colocaram na posição para a abertura. A cortina se abriu, vimos a esfera fechada e a música começou. No primeiro intervalo, fui para o palco tentar uma foto com a Xuxa. Mas uma das paquitas veio perguntando: “Ô, garoto, onde você vai?”. Respondi: “Quero tirar uma foto com a Xuxa”. Ela disse: “Aqui não é assim, não, onde você pensa que está?”. Eu respondi: “No programa da Xuxa”.
Naquela parte da pré-gravação, dançamos também uma música de um grupo que não apareceu no palco durante o programa. Esse grupo já havia estado no programa semanas antes e gravou vários números que foram aproveitados em edições diferentes. A edição colou as imagens do grupo no palco com a plateia da nossa gravação. A Xuxa anunciou a atração, aplaudimos e ela explicou que já estava gravado e que veríamos em casa. Um outro grupo entrou na hora errada e sua entrada precisou ser repetida. Achei o quadro "Intimidade" um tédio e percebi que poucos prestavam atenção (tédio é exagero, eu tava que nem pinto no lixo, mas aproveitei o tempo para observar todos os detalhes daquela engrenagem).
Nos intervalos sempre vinham pessoas da produção distribuindo água. Eu aproveitava para puxar papo com pessoas que frequentavam as gravações para saber mais detalhes. Uma delas me disse que as meninas que estavam fazendo testes pra paquitas tinham o meu tamanho, kkkkk. Uma das crianças tinha um álbum de fotos caseiras das paquitas, com vários amigos ou fãs nas casas delas (não sei se essa menina era irmã de alguma paquita). Fiquei surpreso de ver tantos trans no público de trás. Para mim era uma experiência nova. Eram os mais animados, engraçados e muito legais de conversar.
Em um dos intervalos, ela foi para o “bar” e onde eu estava para gravar um merchan de balas. Nós, crianças, ficamos ao lado dos câmeras. Ela aguardou sentada enquanto resolviam um ajuste de luz. Ficou um tempão esperando em silêncio. A Xuxa perguntou no microfone: “Marlene, por que a gente não faz lá no palco? Dá para levar essa placa lá para baixo?”. A resposta veio: “Não, Xuxa. Você fica aí porque esses técnicos são muito bem pagos para fazer esse trabalho direito. Então eles que resolvam isso rápido, se quiserem continuar trabalhando!”. A Xuxa olhou para baixo, séria. Eu falei um pouco alto: “Nossa, que grossa”. Ela olhou para mim e deu um sorriso tímido.
Com o avançar da noite, percebi que a plateia do fundo foi ficando vazia, com vários buracos. Seria estranho a câmera focar na plateia daquele jeito. A gravação terminou bem tarde, mas não lembro que horas porque eu já não ficava mais checando o relógio a todo tempo. Só queria aproveitar cada minuto daquela experiência. Descemos a rampa, pegamos o sanduíche com suco e saímos muito animados em direção ao ônibus que estava a uns dois quarteirões de distância. Lembro dos seguranças nos acompanhando durante todo o trajeto, mas não me lembro de nos pedirem silêncio. (Peço desculpas para os moradores da Saturnino).
Hoje, vendo os programas, acho que a plateia do Teatro Fênix era muito mais animada do que a do Projac. Penso que o público era bem diferente. Tinha gente que chegava depois do trabalho, pessoas que estavam em várias gravações. E como o Projac é longe, imagino que o perfil do público tenha mudado, não sei. Ou porque o Fênix era menor. Ou talvez fosse o calor. Ou, quem sabe, o Fênix tinha uma energia diferente. Mas pra mim é muito nítida a diferença.
Bom, é isso. Esse foi um dos dias mais felizes da minha vida. Infelizmente a minha prima parou de organizar excursões e nunca mais voltei. Guardo até hoje a roupa que usei naquele dia. Recentemente eu voltei àquele endereço e senti uma sensação estranha de ver o prédio que foi construído. Fiz todo o trajeto que fizemos da saída do ônibus. A banca de jornal que ficava em frente à porta por onde entramos continua lá. A casa onde funcionava a produção da Xuxa continua igual e hoje é um restaurante. Entrei lá também de curiosidade.
Ao longo dos anos fui a alguns shows da Xuxa (todos lindos) e em 2019 a duas gravações do The Four. O programa era até legal, mas era outra vibe. O que não mudou é que a Xuxa continua batendo papo com a plateia nos intervalos. E mesmo depois do dia inteiro de gravação ela ainda teve paciência de tirar fotos com a plateia toda naquele esquema de fila (quando não podemos nos virar para falar com ela, imagino o cansaço dela).
Espero que gostem desse relato. Abraços. Tom.
Um detalhe que lembrei agora: lembro que Xuxa perguntou a um dos cantores como tinha sido a virada de ano. Ele falou que foi ótimo e tal (e eu assim: que mentira hein, estamos em novembro). Depois com outro grupo ela falou que uma música estava estourada no carnaval (como ela poderia saber? A música nem tinha sido lançada. kkkkk)
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