Cassino do Chacrinha

José Abelardo Barbosa de Medeiros, que ficou conhecido como Chacrinha, nasceu em Surubim, em Pernambuco, no dia 30 de setembro de 1917. Ele foi de família de classe média, não passou por dificuldades, apesar das sucessivas crises financeiras da família. Em 1936, começou a cursar medicina e o seu primeiro contato com o rádio aconteceu com a Rádio Clube de Pernambuco, em 1937, quando foi dar uma palestra sobre alcoolismo.

Na época da carreira militar, como não queria ficar um ano inteiro no quartel, ele falsificou a data de nascimento na cédula de identidade e acabou indo parar no Tiro de Guerra. O curioso é que na década de 1970, começou a ser chamado de Velho Guerreiro, após receber uma homenagem de Gilberto Gil na música Aquele Abraço.

No entanto, guerra era algo que ele não queria, e por azar, quando decidiu viajar para a Alemanha, em 1939, aos 21 anos, estourou a Segunda Guerra Mundial e assim, tendo que voltar ao Brasil, foi parar no Rio de Janeiro que na época era a capital federal do país, e foi então que se tornou locutor na Rádio Tupi.

Na televisão ele estreou em 1956, com o programa Rancho de Mister Chacrinha na TV Tupi, que era uma série de faroeste infanto-juvenil, onde interpretava o papel do xerife. Depois estreou a Discoteca do Chacrinha e começou a trocar de emissoras sucessivamente passando pela TV Paulista, TV Rio e TV Excelsior, até chegar na Globo em 1967, onde fazia dois programas semanais, o Buzina do Chacrinha e a Discoteca do Chacrinha.

Na Globo ele ficou 7 anos, e em 1974, foi para a Record, depois voltou para a Tupi, passou pela Band e, em 1982, retornou à Globo.

No programa Buzina do Chacrinha ele recebia calouros, aqueles que se saiam mal levavam uma buzinada na cara e recebiam um abacaxi, e para aqueles que iam bem ele perguntava: Vai para o trono, ou não vai?.

Na Discoteca do Chacrinha ele recebia cantores profissionais, aqueles que já tinham contrato com gravadoras e discos lançados. Quando voltou para a Globo, em 1982, esses dois programas foram fundidos e então nasceu o Cassino do Chacrinha que estreou no dia 6 de março, fazendo muito sucesso nas tardes de sábado.

Cassino geralmente é lembrado pelos jogos, mas nesse sentido a referência que o programa fazia era basicamente no cenário que tinha números e desenhos de cartas de baralho por todos os lados. O Chacrinha intercalava apresentação dos calouros com cantores profissionais e concursos dos mais variados temas. Foi um desses concursos, a criança mais bonita do Brasil, que projetou a Angélica no meio artístico.

Apesar da fama, muita gente não gostava do Chacrinha porque ele era muito deselegante com os calouros e com os convidados. Uma das justificativas era seu comportamento com os calouros que mal abriam a boca e recebiam uma buzinada na cara. E durante as apresentações dos artistas ele também buzinava, falava, passava na frente durante suas apresentações... O seu hábito de atirar legumes e bacalhau na plateia também era visto como algo grosseiro.

A Rita Cadilac disse em uma entrevista que esse jeito caótico do Chacrinha não agradava todo mundo mesmo. Uma vez em que o Tim Maia foi se apresentar, ele não gostou dessas intervenções, soltou o microfone e saiu do palco sem acabar a música. E outro detalhe é que o apresentador não respeitava o roteiro, então todos que iam se apresentar tinham que chegar antes das gravações começarem porque podiam ser chamados a qualquer momento.

Com alguns artistas ele conversava um pouco, mas em geral não cumprimentava e nem se despedia. O cantor entrava no palco assim que era chamado, cantava e saia logo que acabava a música, parecia tudo muito corrido, como se não houvesse tempo para nada.

E como a plateia era em forma de arena, as pessoas estavam por todos os lados, isso contribuia para aquele caos do programa. porque os câmeras tinham que se deslocar pelo estúdio e acabavam passando por trás do Chacrinha e captavam também toda a movimentação da equipe da produção para fazer o programa funcionar.

O hábito de jogar bachalhau foi a pedido de um patrocinador do programa na época da TV Tupi ainda, a rede de supermercados Casas da Banha, que tinha comprado uma grande carga e o produto estava encalhado, então pediram para o apresentador distribuir na plateia. E, ironicamente, isso fez as vendas do produto aumentarem.

E ele dava coisa boa também para os calouros, os vencedores do dia ganhavam um aparelho de televisão. Isso seria o equivalente a uma smartv nos dias de hoje.

O Chacrinha costumava usar figurinos muito espalhafatosos, era um carnaval. Aliás, ele lançou algumas marchinhas de carnaval. Lançou vários discos, na verdade. Tem dele cantando, tem coletãneas de cantores que iam no programa... Tem disco para todos os gostos. Uma das suas canções mais conhecidas é Terezinha, que foi tema de abertura do programa.

E a Terezinha não era ninguém. O nome foi escolhido apenas porque rimava com Clarinha, porque na época da rádio ele tinha patrocínio da Água Sanitária Clarinha. A empresa faliu e o Chacrinha queria continuar usando o nome que já tinha virado um jargão, mas não podia, então surgiu a Terezinha, que tem uma sonoridade igual.

Essa forma muito peculiar de fazer programa era muito bem vista pela Elke Maravilha. Ela falava muito bem do Chacrinha, e falava que o jeito dele fazer TV era algo muito brasileiro, bem diferente do Silvio Santos que sempre reproduzia no SBT programas estados-unidenses.

Aliás, os jurados era um show a parte do Cassino do Chacrinha, tinha alguns que estavam sempre presente, como Carlos Imperial, a Aracy de Almeida, a Rogéria, a Elke Maravilha... e outros que eram aleatórios, geralmente os artistas em alta no momento eram convidados. O João Kleber e a Sonia Abraão também eram figurinhas frequentes.

E, claro, as chacretes, as dançarinas que faziam coreografias para acompanhar as músicas e animar o programa. No início eram conhecidas como as Vitaminas do Chacrinha e Tevezinhas. Todas recebiam nomes exóticos e chamativos como Rita Cadillac, Índia Amazonense, Fátima Boa Viagem, Suely Pingo de Ouro, Fernanda Terremoto... entre muitas outras.

Dentre elas, teve uma travesti. Era a Weluma Brown que chegou a participar daqueles concursos de transformistas e travestis que o Bolinha apresentava.

Weluma, antes conhecida por Claudia, era frequentadora assíduo dos programas de TV, e não deixava de participar de ambos do Chacrinha, A Buzina e A Discoteca na TV Globo. Um certo dia, como uma das Chacretes pediu licença para cuidar da saúde, meia hora antes de entra no ar o apresentador a escolheu da plateia para substituí-la. Seu nome artístico foi dado por Elke Maravilha.

Weluma trabalhou na prefeitura do Rio de Janeiro. Ela faleceu em 2013.

Nota-se algumas influências do Cassino do Chacrinha em outros programas da Globo, como a plateia ordenada do Domingão do Faustão com camisetas em cores iguais, um grupo de amarelo, outro de vermelho. O personagem estressado, meio vilão, do juri que era feito por Edson Santana estava presente em outros canais, como Pedro de Lara no Show de Calouros do Silvio Santos. Aliás, o Pedro de Lara foi jurado do Cassino do Chacrinha antes de ir para o SBT.

Outra influência do Chacrinha foram as próprias Chacretes, pois o sufixo ÉTE foi adotado para designar qualquer grupo de assistentes de palco, ou dançarinas, que não tem um nome específico, além daquelas que foram nomeadas igual como as Boletes do Clube  do Bolinha, e as Angelicats do Clube da Criança. E os apelidos que a Xuxa dava para as Paquitas, como Pitucha Pastel, Karen Chaveirinho, Lana Cabritinha... seguia o modelo das Chacretes.

Ou seja, como o próprio Chacrinha dizia: Na TV nada se cria, tudo se copia. E ele outras frases que ficaram bem conhecidas também como, Eu vim para confundir, não para explicar! e Quem não se comunica, se trumbica!.

Em 1988, já doente, ele passou a ser auxiliado e, as vezes, substituído por Paulo Silvino e por João Kléber. Na quinta-feira do dia 30 de junho daquele ano, às 23h30, partiu para outros planos, aos 70 anos, devido a um infarto e insuficiência respiratória, ele tinha câncer de pulmão. Foi sepultado no dia seguinte no Cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro.

O último programa Cassino do Chacrinha foi ao ar em 2 de julho, 2 dias depois de sua morte.

Em 10 de março de 2014, o programa foi reapresentado nas noites de segunda, às 20h30, pelo canal Viva. Além desse horário, o Cassino do Chacrinha ganhou dois horários alternativos: aos sábados às 17h45 e domingos às 20h45.


Curiosidades


Chacrinha apareceu em vários filmes brasileiros, geralmente interpretando ele mesmo.

A única vez que desfilou numa escola de samba foi em 1987, quando foi homenageado pela escola de samba carioca Império Serrano com o enredo Com a boca no mundo - Quem não se comunica, se trumbica.

Em 2018, foi homenageado pela escola de samba Acadêmicos do Grande Rio no carnaval de 2018, com o enredo Vai para o trono ou não vai?.

Em 7 de novembro de 2010, foi inauguarada uma estátua de bronze de Chacrinha no Jardim Botânico, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

Chacrinha chegou a dizer que a única pessoa que ele via a sua altura para assumir seu posto nas tardes de sábado era a Xuxa. No entanto, após a sua morte a Globo tentou colocar a Angélica no horário, a proposta da emissora era que a apresentadora atuasse como atriz e apresentasse um musical similiar ao Milk Shake que ela tinha na Manchete.

Em 1991, o Sergio Mallandro estreou o Show do Mallandro nas tardes de sábado que lembrava muito o Cassino do Chacrinha, mas ficou apenas 7 meses no ar e, em 1992, foi convertido em um infantil diário similar ao Xou da Xuxa.

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