Apaixonado como sou pelo verão, já praticamente no meio de outubro eu tinha pressa, ou tenho, para aproveitar o que resta de calor no hemisfério norte. Em alguns anos, com sorte, é possível disfrutar da praia até meados de novembro, mas com horários muito limitados de exposição ao sol. E pior, com mais limitações do que só as horas de sol.
Em Barcelona as praias são construídas, ou seja, requerem manutenção e quando chega o outono a prefeitura já não se preocupa em abastecê-las com areia porque sabe que acontecem mais tormentas, que o mar fica mais forte, e consequentemente a areia se vai. Então, a faixa de banho se reduz drasticamente, e em alguns lugares somem por completo.
A primeira vez que resolvi passear na praia fora do verão, tomei um susto, pois não havia praia. É claro que nem todos os balneários são tão afetados, mas aquele cantinho onde costumo ir para tomar sol usando apenas filtro solar e óculos escuros, havia praticamente desaparecido, a faixa de areia tinha se convertido em um terreno acidentado, impossível até mesmo de caminhar e era atingido por ondas constantemente.
Depois de passear pela cidade durante dois dias consecutivos com amigos que estavam de visita, no dia 12, feriado, corri para a praia para aproveitar o calorzinho que fez. Ainda existia areia, mas numa extensão visivelmente menor do que em alguns meses antes, e o mar nitidamente avançando cada vez mais em direção aos banhistas. Alguns tiveram suas roupas todas molhadas com um avanço repentino da água sobre eles.
Barcelona é banhada pelo Mar Mediterrâneo, que não tem ondas, mas nessa época do ano elas aparecem. No entanto, quando a água avançava mais longe era justo num momento de calmaria. Posseidon deveria estar se divertindo com os desavisados que buscavam lugar mais próximo da margem e tinham seus pertences lavados repentinamente.
Enfim, tudo se reduz, gradativamente. A luz do dia que acaba mais cedo, o calor do sol que dura poucas horas, a areia da praia que é consumida pelo mar, os peladões que agora sentem frio e não se despem... Até chegar o momento em que ar gélido e o vento nos obrigam a ficar em casa, ansiando pelo retorno do verão. E talvez por isso, por sermos privados por tantos meses de uma necessidade básica, do calor, é que as praias enchem tanto quando chega o verão.
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