Chinelos ou sandálias Havaianas


A marca Havaianas é brasileira, mas suas raízes são bem mistas, assim como boa parte da população do Brasil. O seu criador foi um escocês que veio da Argentina e escolheu o nome das sandálias como referência ao Hawaí. Robert Fraser fundou a empresa Alpargatas, em 3 de abril de 1907. Ah, e ele fez associação com uma indústria inglesa, além de ter participação da empresa fundada por ele também, em Argentia. De Brasil mesmo, era apenas a sede da fábrica.


No entanto, em 1982, após um gradativo processo de nacionalização do capital, iniciado em 1948, a São Paulo Alpargatas deixou de ter participação argentina e passou para ao controle do Grupo Camargo Corrêa que era seu maior acionista. A Alpargatas acabou sendo vendida algumas vezes, desde 2017 é de propriedade da holding Itaúsa que também é dona dos bancos Itaú, Unibanco e da empresa Dexco.


A Alpargatas produzia tecidos, lonas e calçados. Os mais populares foram os tênis Conga, desde 1959, e o Bamba, desde 1961. Os chinelos Havaianas começaram a ser produzidos em 1962, e o design foi inspirado nas zori japonesas, aquelas sandálias tradicionais feitas de palha de arroz, é muito parecido, mas adaptado para a borracha. E outro calçado extremamente popular fabricado pela Alpargatas foi o Kichute, a partir de 1970, uma mistura de tênis e chuteira, era barato e muito resistente.


Durante toda a década de 1980, esses calçados da Alpargatas dominavam o mercado porque eram baratos. Apesar do romantismo que temos dos anos 80, foram anos difíceis, de inflação muito alta. O grande público das Havaianas foi, durante trinta anos, uma classe financeiramente desfavorecida que a comprava em mercados de bairro. Assim, as Havaianas ficaram conhecidas como chinelo de pobre. Os chinelos tinham a base branca, com a parte de baixo, as laterais e as tiras azuis. Esse era o único modelo.


Desde a década de 1970, a empresa já disputava mercado com as concorrentes que passaram a produzir peças iguais. Então, em 1967, criaram o slogam As Legítimas. Chico Anysio virou garoto propaganda da marca e, em 1991, tentando ampliar o mercado, mudaram a ideia de que o produto era para pobre e a companhia lançou o modelo Havaianas Sky, com cores fortes e calcanhar mais alto, dando a ideia de que pertencia a um público de classe mais alta.


Seu preço também ficou mais elevado que o dos modelos tradicionais. Para levar o lançamento ao público-alvo, foram veiculadas propagandas de grande porte estreladas por artistas famosos e também foi criado um display vertical para facilitar a escolha do produto e do número. Antes, os pares eram vendidos em saquinhos plásticos. Super simples.

Em 1994, com a implementação da moeda real, as coisas começaram a mudar no país, nós passamos a ter mais poder de compra e tivemos mais variedade no mercado, e a Alpargatas entrou em declínio. Foi quando a empresa reagiu e lançou, com uma grande campanha de marketing, a Havaianas Top, um novo modelo.


As Havaianas Sky já eram inteiras da mesma cor, e a partir de então vieram outros modelos, alguns com os calcanhares mais elevados, com várias cores. O chinelo foi sendo sofisticado gradativamente e o produto deixou de ser chamado de chinelo para ser sandália, e a empresa investiu em campanhas e em muitos lançamentos. Modelos e celebridades começaram a desfilar com a sandália nos pés, teve famosos que casaram usando Havaianas, teve gente rica que deu Havaianas como lembrança de casamento...


As exportações aceleraram e a marca ganhou espaço em revistas e nas principais vitrines de moda no mundo. Estima-se que 210 milhões de sandálias são vendidas anualmente, dos quais 10% vão para mais de 100 países espalhados pelos cinco continentes, podendo ser encontrada em mais de 200 mil pontos de venda. E aqui na terrinha, em cada três brasileiros, dois em média consomem um par de havaianas por ano.


Acredito que desde as pessoas pararam de colocar prego quando a tira arrebenta porque isso prolongava o tempo de uso, ou se utilizava a tala boa em outra sola, ou seja, de dois pares com talas arrebentadas, montava-se um par intacto.


As vendas das Havaianas representam metade do faturamento da companhia. Em 1997, foi criado o departamento de comércio exterior das Havaianas com o objetivo de aumentar a exportação do produto. E em 1998, foi lançado o primeiro modelo com a bandeira no Brasil na tala, como um produto especial pela Copa da Fifa que aconteceu na França. A partir de então, a bandeirinha virou marca registrada da sandália.


Com o passar dos anos os preços foram subindo, mas o salário mínimo também, então, colocando na balança, o valor de hoje em dia do modelo tradicional é similar ao da época em que existia só o modelo azul e branco vendido em saquinhos plásticos. Mas tem vários modelos, com cores, texturas, estampas... Lançamentos limitados em parceria com grandes marcas de luxo, como a Dolce&Gabbana que chegou a quase R$ 800,00.


Em 2003, foram produzidos modelos sofisticados com rubis, para os indicados ao Oscar daquele ano, e colocados em embalagens especiais com a foto de cada um imitando um espelho. Os calçados foram entregues aos indicados no dia seguinte à premiação do Oscar.


A partir da década de 1990 a empresa Alpargatas passou a colocar famosos em suas campanhas publicitárias, teve campanhas com o Didi, o personagem, assim como o Chico Anysio fazia. Teve campanhas com Tom Jobim, mas ele ficou mais restrito as publicidades de revistas. A socialite Vera Loyolla divulgou o produto com o tema Todo mundo usa Havaianas, e depois muitos, muitos artistas.

Os comerciais geralmente eram divertidos, mas em 2009, uma campanha gerou polêmica, onde uma senhora sugere que sua neta faça sexo com o ator Cauã Reymond. Muitos telespectadores reclamaram e um processo chegou a ser aberto no Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária. A empresa fez uma nota, retirando a propaganda do ar, em respeito aos consumidores que não haviam gostado, mas publicando o vídeo no YouTube para aqueles que haviam gostado da propaganda.


E em 2010, tivemos aquela pérola com a atriz Fernanda Vasconcellos sem umbigo. Depois de virar piada nacional o vídeo foi corrigido, mas a versão que chamou mais a atenção está no Youtube até os dias de hoje. E em 2015, a marca lançou a coleção Tribos com grafismos inspirados em povos indígenas do Xingu. Ao ser questionada sobre a autorização para o uso dessas imagens, a marca alegou ter seguido a legislação vigente e afirmou que as ilustrações foram autorizadas por um indígena da etnia Yawalapiti.

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