O dia nove de junho de 2025 foi a data escolhida para colocar no ar o novo canal das empresas Globo, o Globoplay Novelas, pondo fim ao canal Viva. E essa não é a primeira vez que a Globo resolveu abdicar de um projeto, aliás, o canal Viva, segundo algumas matérias, já era o resultado de um outro projeto para a televisão que não deu certo. E teve até tentativa de uma emissora em canal aberto na Europa, que não vingou.
No início dos anos de 1980, a Itália vivia um momento de liberalização e desregulamentação da mídia, o que permitiu que canais locais surgissem em grande número, inclusive com conteúdo estrangeiro. De olho no mercado externo, a TV Globo resolveu investir no país e em agosto de 1985 adquiriu 80% da Telemontecarlo (TMC), uma emissora sediada no Principado de Mônaco que transmitia para grande parte da Itália.
A aquisição foi formalizada em Paris, com a presença de Roberto Marinho, presidente da Globo, e representantes da Telemontecarlo e da Sofirad, órgão francês que regulava participações audiovisuais no exterior. A RAI, emissora estatal italiana, manteve uma participação de 10% no capital da Telemontecarlo.
A Globo instalou a sede em Roma e se associou à empresa italiana Editrice Televisiva Italiana (ETI), que já detinha concessões para canais locais de televisão, transmitia uma grade mista, em língua portuguesa e italiana. Tinha telenovelas dubladas ou legendadas em italiano, como Escrava Isaura e Dancin Days, e até o Jornal Nacional foi transmitido com legendas.
Alguns programas da grade brasileira da época, foram atualizados para a versão italiana como o Jornal Hoje que foi adaptado para Oggi, e o programa feminino TV Mulher que passou a ser chamado TV Donna. E a emissora procurou manter a mesma identidade visual da Globo com as vinhetas características do canal, não faltou nem o famoso plim-pim.
A Globo investiu na construção de 36 estações de retransmissão para expandir a cobertura da Telemontecarlo em toda a Itália, mas enfrentou uma forte resistência dos empresários locais, sobretudo do magnata da mídia Silvio Berlusconi, que controlava várias redes de televisão no país. A Telemontecarlo foi alvo de diversas ações judiciais e sabotagens, teve até antenas de transmissão destruídas com dinamites em algumas regiões do país.
Em Roma, a emissora foi impedida judicialmente de realizar transmissões ao vivo, e em Turim, ficou fora do ar por um ano e meio. Obviamente com todos esses ataques, a emissora não chegava a todo o público que pretendia e a audiência era bem baixa, apesar de algumas novelas fazer sucesso isoladamente.
Como dava mais prejuízo do que lucro, a Globo tentou encontrar um parceiro europeu disposto a investir US$ 50 milhões para manter a operação, sem sucesso. Então, em 1994, decidiu encerrar sua participação na Telemontecarlo, encerrando assim sua tentativa de estabelecer uma emissora própria na Europa. Ou seja, foi uma boa grana investida sem nenhum retorno, demorou muito para se dar conta que não valia a pena.
A ideia começou a ser gestada no início dos anos 1990, por volta de 1992, 1993... A programação seria um pouco distinta do que já fazia, para conquistar aquele público que assistia outra coisa, ou seja, que por alguma razão não se simpatizava com o conteúdo da Globo. Deveria ter um perfil mais cultural, educativo e alternativo, com foco em jornalismo, esportes, documentários, e programas de serviço.
Deveria ter também debates e programas experimentais, tipo novos formatos de séries que não se encaixavam na grade tradicional da Globo. A inspiração para esse novo canal era o canal BBC Two, no Reino Unido, e da nossa TV Cultura, ou seja, um canal mais de nicho.
No entanto, para uma emissora aberta operar no Brasil, é necessário obter uma concessão de radiodifusão e a Globo já operava uma das maiores redes do país e não tinha como receber uma segunda concessão nacional. Além disso, essa ideia coincidiu com a criação da Globo Sat. Eu já fiz um vídeo falando a Globo Sat, que foi criada para concorrer com a TVA, a primeira TV por assinatura do Brasil. Não era a primeira, foi a segunda, mas ocupou o lugar da primeira, então era a única, e obviamente, a Globo não podia ficar por baixo e criou as pressas a Globo Sat que já estreou com quatro canais. O Tele Cine, o Multi Show, o GNT e o Top Sport.
E esse investimento serviu para a Globo reavaliar algumas coisas. Manter uma emissora é muito caro, e além de produzir mais conteúdo e adquirir também para ter uma grade interessante, eles faziam o papel de produtora e distribuidora. Então, optaram por ser apenas produtora e deixaram a distribuição a cargo de outras empresas. Ou seja, em vez de bater de frente com a concorrência, eles passaram a oferecer conteúdo para ela.
Em relação ao canal Globo 2, saiu em alguns sites e vídeos que a ideia foi aproveitada no canal Viva, mas parece que a programação pensada para a Globo 2 foi pulverizada. A parte educativa foi para a TV Futura, criada em 1997 pela Fundação Roberto Marinho, ou seja, encontraram uma maneira legal de conseguir uma nova concessão.
A proposta jornalística e experimental foi aproveitada no canal Globo News, lançado em 1996, na Globo Sat. E os outros canais, o Multishow, GNT, Canal Brasil... também tiveram conteúdo que antes tinham sido pensados para a Globo 2. Já o canal Viva, foi criado para um público que gosta de conteúdo retrô, e agora na Globo Play tem os canais fast, que são aqueles com um tema exclusivo, como só de novelas dos anos 80, e só sobre Malhação.
Já o canal GloboPlay Novelas tem outra proposta, não é simplesmente retrô, nem exclusivamente nacional, pois tem novelas antigas, estrangeiras e novas.
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