No comecinho da década de 1990, nós vimos a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Tratava-se de um Estado socialista formado em 1922, governado pelo Partido Comunista, composto por diversas repúblicas com a Rússia como seu maior e mais influente membro. Era uma das duas superpotências mundiais durante a Guerra Fria, a outra já era os Estados Unidos.
Em 1991, diversas repúblicas da União Soviética declararam independência. No dia 25 de dezembro, Mikhail Gorbachev renunciou à presidência e no dia seguinte esse grande Estado foi oficialmente dissolvido, dando lugar a novos Estados independentes, incluindo a Rússia, a Ucrânia e outros países que formavam a federação.
Já no Brasil, aconteceu o primeiro impeachment de um presidente eleito democraticamente. Em meio a um escândalo de corrupção, que diga-se de passagem não foi tão grave quanto a vários outros que vieram depois em outros governos, Fernando Collor de Mello renunciou ao cargo no dia 29 de dezembro de 1992, no entanto, a Câmara dos Deputados votaram assim mesmo pelo seu impeachment para que ele perdesse seus direitos políticos e ficasse inelegível por oito anos.
Em 1993, aconteceu um plebiscito para definir a forma e o sistema de governo do país. A votação tinha sido prevista pela Constituição promulgada em 1988 e pedia que os cidadãos escolhessem entre monarquia ou república como forma de governo e entre parlamentarismo ou presidencialismo como sistema de governo. É confuso? É! Porque caso ganhasse a monarquia, não existe monarquia presidencialista.
Foi feito assim para beneficiar o presidencialismo, já que tal forma de governo estava sendo reimplantada no país e contava com o primeiro presidente eleito pela nova Constituição e a monarquia tinha sido abolida há mais de um século, em 1889, quando o Marechal Deodoro da Fonseca liderou o golpe que tomou o governo do país das mãos da família real, mas essa parte da história sempre foi romantizada, então com 66,23% dos votos, a República ganhou, e com 55,4% o Presidencialismo continuou vigente.
No dia primeiro de julho de 1994 foi implementada nova moeda do Brasil, o Real, fruto de um plano econômico para derrubar a inflação que vinha sendo trabalhado por Fernando Henrique Cardoso desde maio de 1993, quando foi nomeado Ministro da Fazenda do governo Itamar Franco, o vice de Fernando Collor que assumiu a presidência do país com o seu impeachment. Desde 27 de fevereiro de 1994, a moeda já vinha sendo preparada para tomar o lugar do Cruzeiro Real, sendo corrigida diariamente pela URV, Unidade Real de Valor, que equipava o valor do nosso dinheiro com o dólar.
Ou seja, o real nasceu valendo a mesma coisa que o dólar. Pipocou pelas cidades as lojas de 1,99, mas nós não tinhamos um real valor do dinheiro porque o salário mínimo era de apenas R$64,79, e fechou o ano em R$70,00.
Foi uma década de muitas privatizações, sobretudo a segunda metade quando Fernando Henrique foi eleito presidente. Há, e ele conseguiu aprovar uma emenda constitucional para reduzir o tempo de mandato do presidente de cinco anos para quatro, com opção de reeleição. E como ele conseguiu isso? Pagando os deputados, com dinheirinho vivo, para que votassem a favor da emenda. Várias empresas estatais de setores estratégicos, como telecomunicações, siderurgia e energia, foram vendidas ao setor privado com o objetivo de modernizar a infraestrutura e reduzir o déficit público, o que gerou muitas polêmicas e debates sobre os impactos na soberania nacional e na qualidade dos serviços prestados à população.
A resposta mais rápida, pelo menos a que deu para sentir o impacto, foi na telecomunicação. As linhas telefônicas que antes eram investimentos passaram a ficar baratas e accessíveis, e a telefonía móvel também começou a se desenvolver e ficar mais acessível, e aí surgiram um monte de empresas de tele-mensagens, aquelas que a gente enviava para quem estava fazendo aniversário. Tinha para outras ocasiões também, e a pessoa que recebia se emocionava sempre ao ouvir uma gravação com uma música de fundo.
Em relação ao celular, a primeira chamada que oficializou a chegada no Brasil aconteceu em 30 de dezembro de 1990. A partir de então só quem precisava muito de um aparelho estava disposto a pagar a fortuna que custuva uma linha e o modelo disponível era chamado de tijolar, devido o tamanho e peso que tinha. A popularização do celular começou a partir de 1996, quando os preços baixaram e surgiram outros modelos mais leves e bonitos.
A internet estava no Brasil desde 1988, mas foi a partir de 1996 também que começou a se popularizar, foi quando surgiu os dois primeiros portais de internet privados do Brasil, o Zaz e o UOL. Mas até essa tecnologia chegar em nossas mãos tivemos que esperar a entrada do novo milênio, pois na década de 1990 o acesso a internet ainda era muito restrito.
Sem celular e sem internet o que nos restava era a televisão, e exatamente em 1990 surgiu a primeira por assinatura. Foi o Canal+ instalado por uma empresa francesa, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, usando o sistema MMDS, ou seja, transmissão aérea através de micro-ondas, e tinha cinco canais. Era um de notícias, a CNN em inglês. Um de esporte, a ESPN em inglês. Um de atualidades, a SUPERSTATION em inglês. Um canal de filmes com legendas, e um canal musical, a TVM.
Mas não agradou muito e no final do ano o Grupo Abril comprou o Canal+ e tentou colocar a MTV no lugar, só que a MTV estados-unidenses exigia que a emissora fosse instalada com sinal aberto, então, a Abril criou a TVA no mesmo sistema de transmissão do Canal+ mantendo os cinco canais e só fazendo algumas alterações. O canal de filmes passou a chamar-se TVA Filmes e TVM foi substituida pela MTV Brasil, que também tinha a transmissão em canal aberto e foi a primeira emissora a transmitir durante 24 horas no Brasil, porque, até então, todas as emissoras encerravam sua programação e ficavam fora do ar durante a madrugada.
E foi em 1991 também que surgiu a Globosat, com quatro canais exclusivos, o Multi Show, o Top Sport, o GNT e o Tele Cine, para fazer concorrência com a TVA. Em outras palavras, para ferrar com o Grupo Abril porque o Roberto Marinho não aceitava ficar para trás de nada e de ninguém.
Além da MTV, a nova emissora no canal aberto, a Record, que tinha sido vendida de Silvio Santos para o Edir Macedo, começou a crescer e fazer concorrência com as outras emissoras. Dois nomes se tornaram as grandes estrelas da Record, a Ana Maria Braga e o Ratinho, ela ocupava boa parte da programação com o seu programa Note e Anote, e ele deitou e rolou na faixa noturna, ficando muitas vezes em primeiro lugar na audiência devido as bizarrices que apresentava em seu programa até mudar para o SBT, em 1998, prometendo fazer coisas ainda piores.
A Ana Maria Braga saiu da Record em 1999 e assinou com a Globo.
Além da televisão, e do rádio, obviamente, que também era bem forte e tinha o seu espaço garantido entre o público, nós contávamos com a mídia impressa. Além dos jornais que saíam diariamente narrando os principais fatos do dia anterior, as bancas nas praças e esquinas da cidade eram abarrotadas de revistas, a que dominava o nicho artístico, entenda-se fofoca de TV, era a Contigo, cujo slogan era Saiba De Tudo Em Contigo! E foi no comecinho da década, mais precisamente em 1992, que surgiu a revista Sexy Interview que se tornou a grande concorrente da Playboy, que até então dominava o mercado.
Hoje em dia nos temos as plataformas de streaming para onde estão migrando os canais pagos, mas na década de 90 a TV por assinatura ainda era muito fraca, então a TV aberta era pau para toda obra e transmitia todos os grandes eventos com chamadas especiais, por exemplo a copa da Fifa que era transmitida por mais de uma emissora. Tivemos três na década de 90. Em 1990 na Itália, em 1994 nos Estados Unidos quando o Brasil conquistou o Tetra, e em 1998 na França. Tivemos também duas Olimpíadas, em 1992 em Barcelona e em 1996 em Atlanta.
Festivais e grandes concertos também ganham um lugarzinho especial na programação da TV. Em 1993, tivemos os shows da Madonna e do Michael Jackson que vieram pela primeira vez no Brasil e o Hollywood Rock teve as suas últimas seis edições. Em 1990, 1992, 1993, 1994, 1995 e 1996. Só não teve em 1991 porque nesse ano aconteceu a segunda edição do Rock In Rio, e só não teve mais porque uma Lei aprovada em 1996, proíbiu propaganda de cigarros em eventos culturais e Hollywood era a marca de um cigarro. Ainda existe.
E foi no ano de 1996 que foi lançado o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil como ação do Governo Federal, com o apoio da Organização Internacional do Trabalho, inicialmente para combater o trabalho de crianças em carvoarias da região de Três Lagoas em Mato Grosso do Sul, mas foi ampliada gradativamente para todo o país e se estendeu aos adolescentes de até 16 anos. Isso afetou também a classe artística, os artistas mirins, sejam atores, cantores ou qualquer outro ramo artístico teve que se adequar as diretrizes desse projeto.
Ainda em 1996, aliás, bem no comecinho do ano, nós tivemos o caso do ET de Varginha. No dia 20 de janeiro, três jovens, a Liliane, a Valquíria e a Kátia, afirmaram ter visto uma criatura pequena, com pele marrom, olhos vermelhos e uma cabeça desproporcional ao corpo, agachada em um terreno baldio. A notícia se espalhou rapidamente e atraiu a atenção da mídia e de ufólogos. Tem muitas informações desencontradas a respeito, mas também muita coisa que foi dita pela população local faz muito sentido.
Apesar da falta de provas concretas, o caso continua sendo um dos maiores mistérios da ufologia brasileira e atrai visitantes e pesquisadores a Varginha até hoje, tornando a cidade um ponto turístico para interessados em OVNIs e extraterrestres.
Podemos ver que os anos de 1990 tiveram um antes e um depois, muitas coisas surgiram no começo, mas só se desenvolveram na segunda metade, ou já no final da década. Eu comentei que em 1992 foi lançada a revista Sexy Interview, que mais tarde passou a ser chamada só de Sexy, pois, alguns profissionais que trabalharam na redação dessa revista que era direcionada ao público masculino, criaram uma revista direcionada ao público masculino também, mas que agradou muito as mulheres, a G Magazine.
Um detalhe, a Playboy e a Sexy não eram as únicas revistas de nu feminino, mas eram as mais populares e respeitadas. A Sexy demorou um tempinho para conseguir o mesmo status da Playboy, mas estava no páreo. Da mesma forma, já existiam revistas de nu masculino, mas o Otávio Mesquita e a Ana Fadigas fizeram uma publicação no mesmo status das melhores de nu feminino, a G Magazine. Os dois, Otávio Mesquita e Ana Fadigas, tinham trabalhado juntos na revista Sexy também. E em 1999, surgiu a concorrente da G Magazine, a revista Íntima, que nasceu com outra proposta, mas não durou muito tempo.
Ambas também tinham posto de destaque nas bancas de revistas. Outra coisa que também tinha bastante nas bancas de revistas eram fitas K7. Era a opção mais barata para quem não queria comprar discos ou CDs que eram muito caros e já existia muita pirataria com as fitas. E em 1997, os discos de vinil foram extintos. Ou pelo menos foram abandonados, as fábricas pararam de produzir porque a população já comprava mais CDs que eram muito mais versáteis, ocupavam menos espaço, dava para tocar no carro, os aparelhos de som tinham carrossel que permitia té sete CDs na mesma bandeija.
Enquanto que o disco tinha que ouvir um de cada vez, e ainda virar quando acabava um lado, para tocar o outro. No mesmo ano em que os discos pararam de ser produzidos, chegou o DVD no Brasil. O primeiro a ser lançado foi o filme, Era uma Vez na América, do diretor Sergio Leone, protagonizado por Robert De Niro e James Woods. O lançamento foi feito pela Flashstar em cinco de dezembro de 1997. Mas o VHS continuou ainda até 2008.
E já no finalzinho da década, a beira do fim do mundo, tem um vídeo aqui no canal falando sobre as premonições da extinção da vida na Terra, ou no caso menos fatídico, o bug do milênio que apavorou muita gente. Surgiram os padres cantores, como o padre Marcelo Rossi que desbancou a Xuxa do posto de disco mais vendido da América Latina, a padre Antonio Maria ganhou bastante destaque, o padre Zeca e a irmã Inez, a freira do rap.
A música religiosa foi uma das que ganharam muito destaque nos anos de 1990. Tiveram outras vertentes, como samba, pagode, rock, axé, pop, sertanejo e o É o Tchan que fica difícil colocar em alguma categoria.
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