Novela Que Rei Sou eu?

A história da novela Que Rei Sou Eu? se passava no século 18, no ano de 1786, três anos antes da Revolução Francesa, mas satirizava problemas contemporâneos. O folhetim estreou no dia 13 de fevereiro de 1989, no horário das 19h da TV Globo.

A novela foi escrita por Cassiano Gabus Mendes e teve direção de Jorge Fernando. Com Edson Celulari, Giulia Gam, Tato Gabus Mendes, Antônio Abujamra, Tereza Rachel, Daniel Filho, Marieta Severo, Cláudia Abreu, Natália do Vale e Jorge Dória no núcleo principal da trama.

Após a morte do rei Petrus II, vivido por Gianfracesco Guarnieri, o trono do reino de Avilan foi assumido pela rainha Valentine, interpretada por Tereza Rachel, que o que sabia fazer de melhor era histeria. No entanto, o rei tinha tido um filho com uma camponesa, a Maria Fromet, vivida por Aracy Balabanian, que deveria ser o herdeiro do trono, e os conselheiros reais coroam o Pichot, interpretado por Tato Gabus Mendes, como rei, que era um cara que vivia na rua e não tinha a menor noção de como funcionava aquele mecanismo e do que teria que fazer.

E era exatamente esse o plano do feiticeiro Ravengar,interpretado por Antônio Abujamra, pois com o Pichot no lugar do rei, ele podia manipula-lo como bem entendesse. No entanto, a classe pobre de Avilan começa a se mobilizar para derrubar o governo e instituir uma sociedade menos opressiva e o líder desse movimento é Jean Pierre, vivido por Edson Celulari, que é o verdadeiro filho do rei fora do casamento.

Entre outros tantos personagens vale a pena ressaltar o papel de Corcoran, interpretado por Stênio Garcia, que é o bobo da corte, mas na verdade é um rebelde infiltrado no palácio, e da baronesa Lenilda Eknésia que foi interpretada por Dercy Gonçalves.

Apesar da novela ser comédia, fazia uma forte crítica social a situação política do país. Cassiano Gabus Mendes tinha apresentado a sinopse para a Globo em 1977, para o horário das 20h, mas o Boni, que era o diretor geral, não aceitou porque achava que a censura do governo ia se implicar com a novela, e também porque se tratava de uma comédia e não era adequada para a faixa. Depois, o outor fez uma nova tentativa em 1983, e a novela foi rejeitada de novo.

Outro detalhe que poderia dar problemas para a emissora é que até 1988, quando foi escrita a nova Constituição do Brasil, falar de monarquia era um tema delicado, havia uma forte pressão do governo para evitar qualquer tipo de propagação a ideiais monarquicos.

Essa perseguição política só acabou em 1988, exatamente um século depois do golpe militar que destituiu a monarquia no Brasil. A novela foi aceita, mas ainda tinha um problema, como é que a emissora ia inserir o merchandising dos patrocinadores? E a solução encontrada foi brilhante, os personagens sonhavam com os produtos modernos, que não existiam na época em que se passa a novela.

Que Rei Sou Eu teve dois álbuns musicais lançados pela Som Livre, um nacional que chegou nas lojas em março de 1989, com o ator Paulo Cesar Grande na capa. E outro internacional que foi distribuído em junho daquele mesmo ano com a atriz Giulia Gam na capa. A Globo costuma encomendar músicas para as novelas, mas a trilha nacional de Que Rei Sou Eu é quase toda composta por canções especialmente criadas para a trama.

Além da trilha sonora, a novela ganhou um álbum de figurinhas com 108 gravuras dos personagens que completava o álbum e gerou algumas controvérsias, pois o mesmo se enquadrava no quesito publicações e periódicos de divulgação cultural ou educativa que é imune de tributação, segundo a Constituição, mas o Tribunal de Justiça de São Paulo entendia que o álbum servia apenas como uma forma de propaganda e que deveria ser tributado, sim.


Curiosidades

A cidade cenográfica foi construída em um terreno na Estrada dos Bandeirantes, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, onde hoje existe os Estúdios Globo. E nas tomadas feitas em estúdio, a produção usou truques de computador com fundo digital para dar mais profundidade nas cenas, era uma inovação para a época.

Apesar de ser ambientada no século 18, a novela fez diversas sátiras e referências a acontecimentos reais que ocorriam no Brasil na época. Por exemplo, em uma alusão ao Plano Cruzado, do governo do José Sarney, que foi a troca da moeda Cruzeiro em uma tentativa de frear a inflação, o autor incluiu na trama uma reforma monetária, trocando o nome da moeda de Avilan de caduco para duca, e tirando três zeros do seu valor.

Vários personagens também foram baseados em personalidades reais. A Rainha Valentine, por exemplo, era uma alusão ao então presidente José Sarney.

O conselheiro Vanoli, ao político baiano Antônio Carlos Magalhães.

O conselheiro Bergeron, ao ex-Ministro Dilson Funaro.

E o bruxo Ravengar, ao General Golbery do Couto e Silva.

Inclusive, o personagem ficou desaparecido por um tempo e ao reaparecer se apresentou como Silvan Rasputin Richelieu de Golbery, ou seja, parodiava o general, além de outros dois nomes históricos, o místico russo Grigori Rasputin e o Cardeal Richelieu que foi o primeiro ministro do rei Luis 18, na França.

O ator Luis Gustavo e o jogador Roberto Dinamite gravaram uma participação na trama, exibida no capítulo 55. Seus personagens viajaram da Inglaterra ao reino de Avilan para apresentar um novo esporte à corte, o foot-ball.

E no capítulo 143, Cassiano fez uma homenage ao seriado Alô, Doçura! colocando o casal da série, John Herbert e Eva Wilma, contracenando juntos.

Chico Anysio deveria fazer uma participação como o especulador estrangeiro Taj Nahal, que aplicaria um golpe na bolsa de Val Estrite de Avilan. Qualquer referência a Wall Street, dos Estados Unidios, não é mera coincidência, mas a história foi inspirada no caso real de Naji Nahas, um investidor paulista que, na época, protagonizava um escândalo financeiro no país e respondia a um inquérito por estelionato e formação artificial de preços na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Mas, quando o advogado de Naji Nahas ficou sabendo, entrou com um protesto judicial contra a TV Globo, afirmando que o personagem fazia um pré-julgamento de um cidadão que ainda não havia sido sentenciado pela Justiça, e que Nahas entraria com um processo caso as cenas fossem exibidas.

No último capítulo, exibido no dia 16 de setembro, o mocinho Jean-Pierre faz um discurso e grita Viva o Brasil, ao invés de Viva Avilan. Obviamente foi proposital porque o reino é uma paródia do Brasil.

Praticamente um mês depois, a novela foi reprisada em uma versão mais curta, com 50 capítulos, na Sessão Aventura, que passava às 17h30, foi ao ar entre 23 de outubro a 29 de dezembro de 1989. Depois, foi reprisada na íntegra pelo no Canal Viva de 7 de maio de 2012 a 18 de janeiro de 2013. No mesmo ano, 2013, a Globo lançou a novela em DVD no mês de dezembro. E em 14 de março de 2022, foi disponibilizada na íntegra na Globoplay.

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