Personagens inspirados em pessoas reais

É bem comum que os autores utilizem fatos verídicos como inspiração para seus filmes e telenovelas, mas em alguns casos os personagens vão além da inspiração, eles existem, ou existiram, de verdade. Eu separei alguns para contar um pouco suas histórias.

1 - Bibi Perigosa.

A primeira é Bibi Perigosa, a personagem interpretada por Juliana Paes na novela A Força do Querer. Trata-se de uma mulher que entrou no mundo do crime por influência do namorado, e bem sabemos que a autora Glória Peres se baseou em uma história real para compor a personagem.

Na vida, Bibi Perigosa se chama Fabiana Escobar, ela ficou conhecida por ter sido esposa de Saulo de Sá da Silva, que comandou o tráfico de drogas na região da Rocinha, no Rio de Janeiro, sob o apelido de Barão do Pó. Os dois tiveram dois filhos e ficaram casados por 14 anos. Ele foi preso em 2008, em uma operação policial em Maragogi, no litoral do Alagoas.

Após a prisão do marido, Fabiana voltou ao Rio de Janeiro, mas continuou casada por mais dois anos. Ela ficou à disposição da Justiça para prestar informações, mas não escapou de ser atacada pela opinião pública e esse foi um dos motivos que a fez iniciar o blog Bibi Perigosa, em 2011, assumindo o apelido e compartilhando relatos sobre o que tinha vivido ao lado do Barão do Pó.

Atualmente Fabiana atua como diretora e roteirista do projeto de cinema Rocywood, tornou-se jurada do programa de talentos Seja Você, do SBT do interior de São Paulo, e já escreveu três livros: um autobiográfico, uma ficção, e um infantil.

2 - Hilda Furacão.

A segunda personagem também é de Glória Peres, Hilda Furacão, a protagonista da minissérie que levava o seu nome e foi transmitda pela TV Globo em 1998, tendo Ana Paula Arósio como intérprete. Trata-se de uma jovem da clase alta de Minas Gerais, que abdicou do casamento para viver em um bordel.

Glória Peres tomou como base o livro de Roberto Drummond que conta a história de Hilda Maia Valentim descrita como uma mulher linda, jovem da alta sociedade mineira que larga a família e se transforma em uma das mais famosas prostitutas de Belo Horizonte na década de 1950. A rainha da zona boêmia deixava os homens loucos, entre eles, até um frei dominicano, que foi interpretado por Rodrigo Santoro na trama.

Roberto Drumond faleceu em 2002, mas onze anos antes ele deu pistas sobre a personagem. Disse que Hilda existiu, que ela foi mitificada e mistificada e se transformou em um boato. Um boato festivo, colorido, maravilhoso... então o livro é contado através desse boato. Mas na vida real, Hilda não teve tanto glamour como na série.

A assistente social Marisa Barcellos fez um trabalho de resgate do seu passado. Ela conseguiu recuperar parte da documentação e da identidade de Hilda, Hilda Maia Valentim, que foi casada com Paulo Valentim, um grande nome do Clube Boca Junior, da Argentina, com quem morou em Sao Paulo, Cidade do México e Buenos Aires.

Após anos de jogatina e alcoolismo Paulo perdeu todo o patrimônio adquirido e Hilda teve que trabalhar de faxineira e costureira para sustentar a casa.

O jornalista Ivan Drummond localizou Hilda na Argentina e em agosto de 2014, a reportagem do Fantástico foi até o asilo onde ela estava para gravar uma conversa. Na na época tinha 83 anos, estava viúva desde 1984, e morava com um filho até a sua morte que ocorreu em 2013. Depois disso, Hilda sofreu uma queda e ficou internada seis meses em um hospital público em Buenos Aires, e então foi levada para o asilo mantido pela prefeitura.

Hilda faleceu no dia 29 de dezembro de 2014, na véspera de completar 84 anos. No tempo em que esteve no asilo nunca foi visitada por familiares, seu corpo foi enterrado no Cemitério de Chacarita, na capital argentina, onde está também o seu falecido marido.

3 - Xica da Silva.

Outra personalidade que virou personagem de telenovela foi Xica da Silva. A história da escrava que casou com o homem mais rico e importante de Minas Gerais virou filme em 1976, vivida por Zezé Motta, e novela em 1996, vivida por Thais Araújo. Na ficção, a personagem sofre perseguições constantes pelos moradores da cidade onde vive e viu seu marido obrigado a retornar a Portugal, deixando-a sozinha, a própria sorte, no Brasil.

Na vida real, Xica da Silva se chamava Francisca da Silva de Oliveira, ela nasceu em 1732, e faleceu em 1796, com 64 anos de idade. Era filha de um português com uma africana, ele do alto escalão do exército, e ela, escrava.

Os homens não costumavam assumir a paternidade, pelo menos não davam seus nomes aos filhos que tinham com as mulheres escravizadas, então, Xica herdou a escravidão de sua mãe e enquanto era escrava tinha em seus documentos o registro de Francisca Mulata, ou Francisca Parda.

Ela teve um filho com o médico português Manuel Pires Sardinha, que era o seu proprietário. O menino recebeu o nome de Simão Pires Sardinha, foi alforriado, ou seja, foi liberado da condição de escravo, e levado à Portugal onde foi educado e ocupou cargos importantes no governo da Corte. Xica, por volta dos 23 anos, foi vendida para o rico contratador dos diamantes João Fernandes de Oliveira, com quem teve uma união consensual estável que durou 15 anos. Ele a comprou e no ano seguinte deu a sua alforria para que pudessem viver como marido e mulher.

Eles nunca se casaram oficialmente, mas tiveram treze filhos, foram nove mulheres e quatro homens. Todos foram registrados no batismo como sendo filhos de João Fernandes, ato incomum na época porque os filhos de homens brancos e ex-escravas eram registrados sem o nome do pai. Mas a união deles não foi um caso isolado, foi distinto por ter sido uma união pública, intensa e duradoura, além de envolver um dos homens mais ricos da região durante o apogeu econômico da exploração portuguesa.

Xica frequentava a Igreja e os círculos sociais que eram restritos às mulheres brancas e a elite local. Mesmo quando João Fernandes precisou retornar a Portugal, em 1770, para receber os bens deixados em testamento pelo pai, ela continuou sendo respeitada e levando uma vida bem confortável.

Ele levou os filhos homens que receberam educação superior, ocuparam postos importantes na administração do Reino e até receberam títulos de nobreza. As filhas mulheres ficaram no Brasil, mas receberam a melhor educação que se dava as moças da aristocracia local naquela época. E Xica chegou a ser dona de pelo menos 104 escravos, que era uma média muito elevada para a média da época. Eles eram uma grande fonte de renda porque eram alugados e empregados nas minas, além de vários outros que trabalhavam na pecuária e agricultura ou eram escravos de ganho.

4 - Pokahontas.

O longa da Disney, Pokahontas, Lançado em 1995, conta a história de uma índigena dos Estados Unidos, filha do líder da aldeia em que morava, que se apaixona por John Smith, um dos colonos ingleses que ameaçavam tomar o local em que seu povo vivia e, juntos, conseguem acabar com a briga entre os dois povos pelo território.

Pocahontas realmente existiu, mas sua história é um pouco diferente da que foi retratada por Walt Disney. Ela nasceu em 1596, e seu nome verdadeiro era Amonute, às vezes era chamada de Matoaka, e realmente era filha do líder Powhatan, e eles viviam na região conhecida atualmente como Jamestown, na Virgínia.

Matoaka cresceu acompanhando a disputa pela terra entre os indígenas e os colonos. Foi em 1607, que ela salvou John Smith de ser morto pelo seu pai, mas diferente da animação, tinha por volta de 10 a 12 anos de idade, ou seja, era uma criança, e não teve nenhum relacionamento amoroso com ele. A menina ainda participou de mais dois conflitos contra os colonos, mas também costumava visitar o local onde os europeus se encontravam com o intuito de ajudá-los com comida já que naquela época o alimento era bastante escasso.

Quando tinha 17 anos, ela foi raptada por Samuel Argall para ser utilizada como moeda de troca, pois seu pai também mantinha alguns prisioneiros europeus na aldeia. Ela ficou presa por mais de um ano, foi quando conheceu o homem com quem realmente se relacionou, o John Rolfe que tinha 28 anos, mas já era viúvo, e trabalhava plantando tabaco. Ele realmente ficou interessado pela jovem, mas disse que a libertaria só se ela se casasse com ele.

Matoaka aceitou e depois de casada mudou de nome para Rebecca.

Isso aconteceu em 1614, é o primeiro casamento registrado entre um nativo norte-americano e um europeu. Eles tiveram filhos, e em 1616 ela foi levada pela primeira vez a Inglaterra, lá, trabalhou como modelo em uma campanha que apoiava a colônia de Virgínia, servindo como um símbolo de paz entre os dois povos e passou a ser reconhecida como uma selvagem domesticada. Quem ganhava elogios era seu marido por ter ensinado o cristianismo para sua mulher.

Ela reencontrou uma vez o John Smith, num teatro, e em 1617, o marido resolveu voltar para os Estados Unidos, mas Rebecca não chegou a completar a viagem, pois faleceu com apenas 21 anos. A verdadeira causa de sua morte nunca foi comprovada, mas muitos especulam ter sido tuberculose, varíola, pneumonia ou até mesmo envenenamento. Ela foi enterrada dentro de uma igreja em Gravesend, porém o seu túmulo acabou sendo destruído após uma reconstrução feita no mesmo local.

A guerra entre os colonos e os indígenas continuou, até a comunidade de Powhatan ser completamente dizimada e dominada pelos europeus. Nas escrituras deixadas por John Smith, ele descreve que foi resgatado de uma execução por uma doce e bela filha de um poderoso líder nativo. Isso alimentou a ideia de que ambos teriam se apaixonado e lutado contra seus próprios povos para proteger um ao outro, o que não é real. 

5 - Popeye.

Popeye é um clássico personagem de animação, trata-se de um marinheiro que ganha uma super força ao comer espinafre. Ele sempre está em luta contra o Brutus e faz de tudo para proteger a sua amada Olívia Palito.

Os personagens são caricaturas bem surreais, mas foram inspirados em gente de verdade. Ou seja, Popeye existiu. O personagem apareceu pela primeira vez em uma tirinha cômica de um jornal em 17 de janeiro de 1929. O cartunista, seu criador, inspirou-se no estados-unidense de origem polonesa Frank Rocky Fiegel, que conheceu na cidade de Chester, no estado Illinois. Franck nasceu em 1868, e realmente foi marinheiro.

Depois que se aposentou Frank passou a trabalhar como segurança em uma taverna onde fez fama de valentão. Volta e meia estava se envolvendo em brigas, então ele tinha um dos olhos deformados, por isso o nome Popeye que é a junção das palavras pop que significa estourar, e eye que significa olho.

Estava sempre fumando cachimbo e, por isso, falava apenas com um dos cantos da boca e vivia contando aventuras imaginárias, em que se gabava das proezas... ah, e a lata de espinafre também era real, era o seu  lanche no intervalo do trabalho.

Assim como Popeye, sua eterna namorada Olívia Palito também existiu de verdade, ela era dona de um armazém em Chester e se chamava Dora Paskel, nascida em 1872. Dora era alta, magra, e usava os cabelos enrolados em um coque, exatamente como ficou imortalizada nos desenhos animados e nas histórias em quadrinhos.

Frank morreu em 1947, 18 anos depois de ter virado uma caricatura, e está enterrado no cemitério Saint Marys Chester, em sua cidade natal. Em seu túmulo tem um desenho do Popeye como homenagem pela inspiração do personagem.

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