De Pantanal a Pantanal

A Globo tem a tradição de exibir telenovelas desde os seus primeiros anos de transmissão, mas nem sempre liderou esse mercado. A conquista dos telespectadores assíduos por folhetins aconteceu gradativamente e então a platinada como é chamada pelos jornalistas de notícias de TV se fixou como a líder das produções brasileiras. Mas em 1990, quando a Rede Manchete estreou Pantanal a emissora teve que criar uma estratégia para recuperar os telespectadores perdidos.

A novela Pantanal que passou na Manchete em 1990 foi escrita originalmente para a Globo, em 1984, e se chamaria Amor Pantaneiro. Até chegou a entrar em fase de pré-produção, mas as condições do Pantanal não propiciaram as gravações na época e a novela foi engavetada. Seis anos depois, Benedito Ruy Barbosa, o autor, realizou seu sonho quando a emissora do Adolpho Bloch aceitou produzir a trama.

Apesar de uma novela sair totalmente da cabeça de seu autor, quem dá vida a trama é o diretor, então os dois precisam estar em sintonia e quem converteu Pantanal em um tremendo sucesso em 1990 foi o diretor Jayme Monjardim. A trama foi um grande marco na TV e refez a forma de fazer novela. Com diálogos lentos, muitas cenas longas de natureza selvagem, transições lentas, música instrumental e gente pelada, o folhetim roubou uma grande proporção de telespectadores das concorrentes.

Na época, Pantanal não concorreu diretamente com Rainha da Sucata que era a novela das oito da Globo e começava às oito e meia. A Manchete esperava acabar Rainha da Sucata para começar a exibir Pantanal, então o Jornal da Manchete ficava no ar até o momento de o episódio do dia começar. Tática que O SBT passou a utilizar também em sua programação.

Então, o IBOPE da novela da Globo até que não sofreu muita alteração, mas o que vinha depois sim e aí a emissora teve que alterar a sua programação para recuperar os telespectadores que migraram para a Manchete e manteve uma faixa fixa de séries a noite, começou com Desejo, escrita por Glória Perez, que foi de 27 de maio até 22 de junho. Em seguida estreou A, E, I, O... Urca, de Antônio Calmon, que foi de 24 de junho até 13 de julho, seguida por Boca do Lixo, escrita por Sílvio de Abreu que estava com Rainha da Sucata no ar, e foi de 17 de julho até 27 do mesmo mês.

O desespero ficou claro quando estreou Riacho Doce, escrita por Aguinaldo Silva, que foi de 31 de julho até 5 de outubro e seguia o padrão de Pantanal com diálogos lentos, muitas cenas de natureza gravada no arquipélago Fernando de Noronha, e cenas de nudez também. Inclusive o Aguinaldo Silva disse que teve pouco tempo para escrever, ele recebeu a ordem de produzir e não pode pensar muito, desde o pedido até a trama entrar no ar foram apenas dois meses.

E por fim, La Mamma, escrita por João Bethencourt, teve 5 capítulos que foi de 8 de outubro até 12 de outubro e entrou no ar para dar tempo de fazer os ajustes necessários para a novela Araponga, escrita por Dias Gomes, estrear. O primeiro capítulo aconteceu no dia 15 de outubro de 1990 e foi até 29 de março de 1991. Essa novela deveria ser a substituta de Rainha da Sucata, ou seja, ela foi adiantada estrategicamente para manter os telespectadores que seguiam assistindo a Globo e reconquistasse os que haviam migrado, porque Pantanal acabaria e Araponga continuaria por mais alguns meses.

O que foi divulgado e você pode encontrar ainda hoje, é que Rainha da Sucata não foi bem aceita pelo público porque na faixa de horário da novela da noite, geralmente são tramas mais densas, mais maduras e Rainha da Sucata tinha mais cara de ser novela das sete. Eu lembro que muita gente criticava porque os personagens, sobretudo a Maria do Carmo feita por Regina Duarte, gritava muito, então nesse aspecto Pantanal era muito mais gostosa e relaxante e por isso colocaram Araponga em outro horário, mas não faz sentido.

Se a trama pastelão não era bem aceita pelo público eles não iam colocar duas tramas pastelões ao mesmo tempo, porque acabava uma e já começava a outra. A solução teria sdio esperar mais tempo para passar Araponga, ou a colocado em outra faixa de horário, ou seja, a intenção era prender o telespectador e não deixá-lo migrar para a Manchete.

Rainha da Sucata acabou no final de outubro de 1990 e Meu Bem Meu Mal, a substituta, foi encomendada em agosto. Assim como aconteceu em Riacho Doce, o autor Cassiano Gabus Mendes teve que criar uma história para apresentar para a emissora em menos de dois meses e não tinha muitos atores para gravar, pelo menos os melhores já estavam em outras produções, então ele teve que se contentar com os que estavam disponíveis. Poderia ter dado muito errado.

Hoje em dia com os anos de experiência e com um grande grupo de autores que escrevem as novelas, a Globo pode se preparar com bastante antecedência para produzir os folhetins, mas antes as coisas eram decididas meio em cima da hora. A própria Rainha da Sucata que deveria ter sido a novela do ano, em comemoração aos 25 anos da emissora, foi encomendada com a sua antecessora, Tieta, em andamento.

Depois de Pantanal, a Globo recontratou o Benedito Ruy Barbosa que escreveu a novela Renascer em 1993, e O Rei do Gado em 1996, com a mesma temática de Pantanal. As duas tinham um núcleo em uma cidade grande e outro no campo, problemas de pai com filho e com a ex-mulher, muita música sertaneja, imagens áreas de natureza... e alguns temas sobrenaturais. Até, finalmente refazer Pantanal. Os planos eram para ter feito antes, mas aí o Silvio Santos comprou as fitas da novela antiga e passou no SBT... depois veio a pandemia do coronavírus... e por fim a novela aconteceu e não deixou a desejar.

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