As Aventuras de Tiazinha

A década de 1990 talvez tenha sido mais louca do que a de 1980. Enquanto nos anos 80 imperava o rock in roll, em 90 tivemos música eletrônica, funk melody, pagode, axé e aquele gênero incatalogável do É o Tchan. Os programas de TV apresentavam jogos entre artistas, abusavam da sensualidade e de repente apresentavam um padre ou uma freira cantando. Foi nesse turbilhão de coisas que surgiu a personagem Tiazinha no programa H apresentado por Luciano Huck, na Band.

A personagem era interpretada por Suzana Ferreira Alves que nasceu em São Paulo, no dia 3 de agosto de 1978. E ela não apareceu do anonimato para a fama assim de repente. Suzana começou a trabalhar cedo como modelo infantil e em 1987, aos 9 anos, já trabalhava como assistente de palco do Sergio Mallandro no programa Oradukapeta, no SBT, onde ficou até o fim do infantil em 1990, quando o apresentador foi para a Globo.

Depois disso Suzana fez testes para integrar o grupo de assistentes de palco da Mariane, não entrou, mas permaneceu na TV. Aliás, ela fez testes também para ser uma Angelicat e Borboleta, assistentes de palco da Angélica e Mara Maravilha, não sendo aprovada em nenhum. No entanto, desde 1993 até 1996, atuou como atriz nas esquetes do programa Casa da Angélica associando o trabalho com a carreira de modelo, na época ela fez diversas campanhas publicitárias, inclusive foi a escolhida dentre 900 garotas para estrelar o comercial da batata chips Ruffles que foi gravado nos Estados Unidos.

Com o Luciano Huck ela começou em fevereiro de 1998 e desde então a sua fama ascendeu meteoricamente, mas tudo aconteceu meio que na casualidade. Em 1997, quando foi acompanhar uma amiga que era bailarina no Programa H, o diretor Cristiano Mendes a convidou para estrelar uma personagem que ele tinha idealizado para o programa. Suzana aceitou fazer um teste com a condição de esconder o rosto, tendo carta branca para construir a personagem ela utilizou suas habilidades do teatro para incorporar a sádica depiladora dos rapazes que erravam as respostas do quiz do programa H.

Como Luciano Huck gravava todos os programas da semana no mesmo dia com a mesma plateia e Suzana participou apenas da primeira gravação, os jovens pediam a volta da personagem nas gravações seguintes chamando-a de Tiazinha, já que o apresentador, ao anunciá-la, tinha dito que uma tia iria fazer uma atuação.

Apesar da máscara cobrir uma pequena parte de seu rosto, a sua identidade foi preservada por vários meses e ela se tornou um fenômeno. A emissora recebia uma média de 50 cartas diárias direcionadas a Tiazinha. Ela teve diversos produtos licenciados e ganhou um álbum musical que vendeu 250 mil cópias. A Tiazinha virou presença constante nos programas de TV, inclusive de outras emissoras, e sempre usando a máscara da personagem que só foi retirada na edição 284 da revista Playboy que foi para as bancas em março de 1999 e bateu recorde de venda, passando de 1 milhão e 20 mil cópias.

Tudo ia muito bem até Luciano ter sido convidado para estrear um programa na Globo. Suzana recebeu a proposta de continuar e atuar como apresentadora ao lado de Otaviano Costa que assumiria o comando do programa, mas ela resolveu usar outra estratégia e sair antes do Huck mudar de canal alegando que temia que sua carreira ficasse marcada pelo erotismo, e assim em outubro daquele ano, estreou sua própria série, As Aventuras de Tiazinha, que foi idealizada pelo próprio apresentador.

As aventuras de Tiazinha png.

Incialmente a série entraria no ar no domingo dia 13 de junho de 1999, mas seria exibida de segunda a sexta em episódios de 10 minutos e teria todos eles reapresentados em formato de maratona no final de semana. Suzana Alves seria Ditiara, uma descendente indígena que trabalhava como fotógrafa e que se transformava em Tiá, uma heroína que lutava contra o vilão Klaxtor. Mas a direção da Band não ficou satisfeita com o resultado e mandou refazer tudo. Assim, o programa estreou às 20 horas do dia 4 de outubro de 1999, apresentando a história de Su-013.

Para quem esperava ver a Tiazinha do programa H teve uma decepção porque houve uma grande mudança na personalidade da personagem que deixou de ser a dominadora sensual para incorporar uma super-heroína que combatia o crime e tinha o corpo todo coberto, a única parte exposta era na altura do peito onde havia uma fenda no uniforme em forma de T.

A direção pensou em apresentar um episódio semanal de 50 minutos, mas ao final a história foi dividida por capítulos de 15 minutos que iam ao ar de segunda a sexta. Em cada dia a história terminava com a heroína em uma situação de perigo que servia de gancho para manter a audiência no dia seguinte.

Na sinopse aprovada, Su-013 teve uma infância pobre e foi criada num reformatório como órfã, mas esse reformatório era gerenciado pelo seu pai. Ao revelar-se uma criança especial, passou a ser treinada para tornar-se um dos Zeladores da Lua, no entanto, aos 9 anos de idade fugiu em uma nave de carga e escondeu-se no Paraíso, onde aprendeu a lutar. Tentou viver uma vida normal e trabalhou em um supermercado, porém foi encontrada por Bradbury, um gênio que, pouco antes de morrer, instalou sua consciência em vários sites da internet e tornou-se um mestre virtual.

Su-013 assumiu a identidade de Tiazinha e com a ajuda de Brad, o mestre virtual, passou a combater as grandes corporações de Trônix, uma megacidade que era a união de São Paulo com o Rio de Janeiro, onde sempre era noite já que o sol não penetrava os gases que envolviam o planeta. Ela lutava contra vilões e pilotava uma nave espacial em aventuras cheias de efeitos especiais inspiradas em quadrinhos como os do Batman, além de alguns desenhos japoneses e do filme Matrix. 

A ideia era boa e ela se cercou de bons profissionais, mas depois de dois meses de gravações os roteiristas não conseguiam entregar os episódios no prazo e devido a baixa audiência do programa houve troca de diretores e reformulação no roteiro para simplificar a trama e gerar mais empatia com o público. Além disso, apesar do formato ter sido uma escolha da própria Suzana, ela não se sentiu muito a vontade na personagem e não rendeu tudo o que se esperava.

Luis Paulo Simoneti passou a direção para Del Rangel que trocou a equipe de roteiristas, a trilha sonora e o figurino de Suzana que passou a ser mais ousado. Além disso, o programa foi rebatizado de As Novas Aventuras de Tiazinha e deveria ser desenvolvido em ritmo de novela onde os acontecimentos de uma semana geravam consequências nas semanas seguintes. As aventuras deixaram de acontecer no futuro e passaram para o presente, com menos efeitos especiais, com mais sensualidade, humor, e com a personagem mais humana a fim de gerar mais empatia com o público, mas preservando os poderes especiais da protagonista que se transformava em Tiazinha.

O traje da heroína passou a mostrar mais o corpo da atriz aproximando-se do que ela costumava usar no programa H, ou seja, incitando o fetiche que Suzana despertou nos jovens assim que passou a se apresentar mascarada. Inclusive usando a depilação como forma de tortura aos vilões. Mas apesar dessa reformulação ter dado uma melhorada na audiência, não foi o suficiente, pois de dois pontos no IBOPE em São Paulo, passou a dois e meio e saiu do ar em maio de 2000.

Curiosidades.

Foi de Del Rangel a ideia de juntar roteiristas experientes de dramaturgia televisiva com os de histórias em quadrinhos, assim ele tinha o melhor dos dois gêneros para o programa, aliás, os roteiristas responsáveis pelo formato gibi da série, que foi algo bem inovador na época, eram os mesmos que produziam para a Marvel e DC Comics.

A equipe tinha planos de levar a personagem para o cinema, uma pena que o projeto não durou tanto tempo e que teve que passar por essa reformulação que alterou a ideia original do programa.

Aliás, o projeto todo foi um tiro no pé, pois primeiro transformaram a dominadora malvada em heroína que trocou a lingerie por um uniforme que cobria o corpo todo e depois retrocederam, voltaram a mostrar a personagem com a bunda de fora. Além disso, em relação a atuação de Suzana, na primeira fase era melhor porque era tudo surreal, já na segunda fase a qualidade caiu muito.

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