O que é o Yôga.

O Yôga, termo masculino que designa uma filosofía tem a sua origem estimada em mais de 5 mil anos no território que hoje conhecemos como Índia. E seu criador tornou-se uma lenda, o qual é conhecido como Shiva e que foi alçado a uma das principais entidades da espiritualidade hindu.

A época em que o Yôga surgiu ainda é desconhecida, mas já foram encontradas referências a essa filosofia com mais de sete mil anos. E em relação a sua origem também não temos certeza, quanto a isso existe uma explicação bem poética e que é aceita se não por todas, pela maioria das escolas que ensinam essa metodologia.

Segundo a história, Shiva era um bailarino e através da observação aos elementos da natureza desenvolveu algumas técnicas para aprimorar as suas habilidades com a dança. Ou seja, ele passou a imitar/reproduzir com o corpo as formas de alguns elementos, como a Lua, a árvore... de alguns animais, como o corvo, o escorpião... e essas técnicas consistiam basicamente em permanecer imóvel e ao passar de uma para outra, devia-se executar o movimento com a sutileza e a precisão de um felino.

Com o tempo Shiva percebeu que essas técnicas proporcionavam um estado de consciência diferente. Ou seja, o Yôga não nasceu já pronto, não tinha esse nome e sobreviveu sem registros oficiais por mais de dois mil anos. Até começar a ser registrado em livros as técnicas eram transmitidas de mestre a discípulo e os primeiros registros surgiram cerca do século três antes de Cristo o que leva muita gente a acreditar que tenha sido nessa época que o Yôga tenha nascido.

Antes de começar a ser registrado o Yôga era praticado pelos drávidas, um povo que vivia no sul da Índia e parte do Sri Lanka. Os habitantes dessa região tinham a pele escura em um tom bem forte e preservavam uma filosofia de vida desrepressora, matricarcal, aliás, valorizavam muito a mulher que era quase uma divindade pelo fato de poder gerar a vida, no entanto, os drávidas viviam de forma totalmente desvinculada de qualquer tipo de religiosidade.

Em alguns sítios arqueológicos datados da época em que vivia esse povo, mostra que eles eram bem evoluídos em vários aspectos comparados com a população da Europa. As cidades eram bem organizadas com sistema de esgoto, canalização de água e não haviam templos religiosos. O sítio arqueológico mais conhecido é o Mohenjo Daro no Vale do Indo, região que hoje pertence ao Paquistão.

Assim como o Yôga que com o tempo se tornou uma filosofia, essa forma de viver desse povo também se converteu em outras duas filosofias, o Tantra e o Sámkhya.

Quando os árias, um povo bárbaro guerreiro do norte da Europa, chegaram nessa região, impuseram a sua forma de interpretar a vida e praticamente extinguiram a tradição dos drávidas. O Yôga sobreviveu graças a Patañjali que escreveu o Yôga Sútra, um livro que define essa filosofia em frases curtas que contém uma grande profundidade filosófica, mas com adaptações a forma de interpretar a vida segundo os árias que eram repressores e patriarcais.

Ao longo do tempo o Yôga foi sendo mesclado com essas filosofias dando origem a novas linhas, novas escolas, mas sendo sempre respeitado como uma filosofia de vida. Ou seja, Yôga é uma filosofia prática que tem em seu acervo as técnicas de respiração e de permanência entre outros seis feixes que atuam diretamente no indivíduo. O que distingue uma linha de Yôga de outra é quantos feixes de técnicas a escola adota e que filosofias moldam o comportamento do praticante.

O Tantra é a filosofia comportamental desrrepressor e matriarcal. O Sámkhya é a filosofia teórica como o praticante interpreta os fenômenos naturais, nesse caso, quase científico, pois não tem nem uma atribuição à espiritualidade, é puramente técnico. As outras duas se opõem a essas, o Brahmachárya que é repressor e patriarcal, e o Vêdánta que é espiritualista.

Uma linha de Yôga pode ser Tantra e Sámkya, ou Tantra e Vêdanta. Brahmachárya e Sámkya, ou Brahmachárya e Vêdánta. Mas nunca Tantra e Brahmachárya porque são opostos, assim como nunca Sámkhya e Vêdánta porque também as ambas filosofias se opõem. Ou seja, ou você é desrrepressor ou repressor, ou é espiritual ou naturalista.

E a razão dessas opções tem a ver como a forma que a escola utiliza o Yôga para proporcionar ao praticante a possibilidade dele atingir a iluminação, entre outras palavras, se tornar um ser humano mais evoluído.

As técnicas do Yôga atuam primeiramente no corpo físico. Fortalece a musculatura, proporciona flexibilidade e alongamento e permite ao praticante dominar a respiração e coordená-la com as permanências e passagens de uma técnica a outra. Depois, rapidamente, passam a proporcionar mais vitalidade ao indivíduo e domínio de suas emoções abrindo caminho para que o racional evolua.

Ao atingir esse estado de evolução racional o praticante pode se dar por satisfeito e ficar por aí mesmo, mas muitas vezes ele para de evoluir porque acha que já chegou no seu ponto máximo, no entanto, tem ainda outras duas etapas para a iluminação.

A seguinte é a intuição que só se manifesta quando o praticante consegue abstrair o aspecto racional. Nesse caso as pessoas sem escolaridade têm até mais facilidade para despertar a intuição do que aquelas que têm o intelecto muito bem desenvolvido e estimulado. O filme O Homem Que Viu O Infinito retrata bem essa situação. É um filme baseado em fatos reais.

Por último vem o nível monádico que já é o contato com a chispa do absoluto presente em nosso ser. Ou seja, com todo o respeito se você é muito vaidoso e valoriza demasiado o seu corpicho, isso te prende a característica mais básica do ser humano, ou melhor, do animal que somos quando não superamos os instintos básicos que é comer, dormir e transar.

Falando em transar, a energia sexual é a nossa maior fonte energética. A natureza tem como missão preservar as espécies, então ela nos deu essa força basicamente para a reprodução. E aqui entra o papel das outras filosofias que acompanham o Yôga e contribuem imensamente para a evolução do praticante, mas antes de explicar como essas filosofias atuam, eu preciso explicar qual é o papel dessa energia sexual na prática do Yôga.

Os termos do Yôga são em sânscrito e devem ser respeitados porque nem todos tem uma tradução específica, sabe-se o que significa, mas não há uma palavra para traduzi-los, como por exemplo a Kundaliní que você já pode ter ouvido a pronúncia errada, a forma correta é com a tônica na última sílaba.

E ao traduzir os termos podemos cometer erros, como é o caso do bhujangásana. Ásana quer dizer posição e bhujanga é naja, aquela temida serpente que atira veneno de longe. Em inglês o nome dessa serpente é cobra. Mas não se confunda, cobra em inglês é snake. Ou seja, cobra é snake e naja é cobra. Então no inglês a tradução até está correta (cobra pose), mas foi traduzida erroneamente do inglês para o português como a posição da cobra. Para evitar esse tipo de erro, é aconselhável preservar os nomes em sânscrito.

A propósito, o termo Yôga deve ser pronunciado com o Ô fechado porque em sânscrito as vogais Ê e Ô são sempre fechadas, como no espanhol, não existe É e nem Ó, e é um termo masculino. Em sânscrito os termos femininos terminam em i, como a kundaliní, e os termos masculinos terminam em a, como o Yôga.

A Ióga é pronunciada dessa forma só no Brasil e começou a partir da década de 60 quando o autor Caio Miranda publicou o livro Hatha Yóga – a ciência da saúde perfeita, apesar de ter escrito Yôga com Y, acentuou o termo com agudo (Yóga). Depois em uma das reformas do português o Y foi retirado do alfabeto e Yôga passou a ser escrito com i, no entanto, termos estrangeiros devem ser preservados como são no original.

A Kundaliní é representada como uma serpente que está enrolada em três voltas e meia no períneo, aquela região entre os genitais, e ao ser estimulada ela sobe por um canal chamado sushumna que percorre a extensão da coluna ativando os chakras e desbloqueando os granthis até chegar no topo da cabeça. Quando isso acontecer o praticante entrará em samádhi, um estado de mega lucidez.

Os chakras (pronuncia-se tchacra) são vórtices que giram muito rápido e distribuem energia pelo corpo através das nadis. As nadis são as conexões entre os chakras que irrigam nossos órgãos com a enervia vital. Essa energia pode ser manipulada com meios externos, como por exemplo através da acupuntura. Nosso corpo tem milhares de chakras, mas para o Yôga interessa apenas sete, os que se estendem do períneo até o alto da cabeça.

A kundaliní é despertada com a prática regular das técnicas do Yôga e esse processo pode ser acelerado através dos hábitos do praticante. O Brahmachárya estimula a abstinência sexual para não desperdiçar essa energia, a ideia é produzir o efeito de uma panela de pressão, então o praticante deve suprimir a sua sexualidade para que essa energia se acumule até ter força suficiente para subir.

Já o Tantra defende o estimulo da sexualidade, apenas aconselha o praticante a reter o orgasmo, porque uma vez que chegue a este ponto a natureza entende que a pessoa já cumpriu o seu papel de reprodução para dar continuidade a sua espécie e não precisa mais preservar o indivíduo que gozou. Aliás, orgasmo em francês significa pequena morte.

A kundaliní pode ser despertada até com uma pancada precisa, ou seja, se cair sentado, ou bater o cóxis, além da dor pode desperta-la, mas isso não quer dizer que essa pessoa será iluminada, pode até desenvolver algumas paranormalidades, mas vai atuar como um louco como aconteceu com o pianista David Helfgott que tem a sua vida retratada no filme Shine (brilhante), porém, no caso não foi uma queda, foi a alta concentração que exigia dele para tocar piano.

Isso pode acontecer se a pessoa não tem as nadis limpas, os canais energéticos. Para manter esses canais limpos isso vai depender basicamente da alimentação e da gestão emocional. Por isso não é aconselhável que um praticante de Yôga use drogas, mesmo as mais comuns como o tabaco e o álcool, porque além de distorcer a percepção da realidade, suja os canais energéticos. Os alimentos devem ser os mais próximos da fonte possível, ou seja, todos os tipos de vegetais, grãos, verduras e frutas que são carregados de energia.

Quanto mais processado é um alimento, menos energia ele possui e mais toxinas gera ao organismo. Comer animais não é recomendado porque além de gerar muita toxina a carne está carregada de energia pesada, como a dor, sofrimento, o medo... aliás, alimentar o medo, a raiva, ó ódio, o ciúme... isso gera até mais toxinas do que os alimentos processados.

No entanto, quem come carne, fuma e conseme bebidas com álcool pode praticar Yôga. Nesse caso o despertamento da kundaliní não acontecerá, mas pode ser que essa pessoa pare de comer carne e usar drogas porque as técnicas são tão poderosas e mexem com os órgãos, alteram a produção hormonal do organismo e naturalmente o praticante começa a selecionar o que consome.

Então, como você pode ver, o Yôga é uma filosofia de vida, que apesar de oferecer alguns benefícios a saúde do praticante não tem nada a ver com terapia e não serve para acalmar, e sim, energizar. Deve ser praticado por pessoas saudáveis, física e mentalmente, aliás, por séculos o Yôga podia ser praticado apenas por homens. Uma pessoa deve praticar o Yôga da mesma forma que pratica algum tipo de esporte, dança, ou arte marcial, ou seja, por prazer, por identificação, já que essa metodologia é bastante exigente se o praticante quer leva-la a sério.

Independente de quantos feixes de técnicas uma escola resolva adotar, é imprescindível que ela possibilite o praticante a atingir um estado de mega lucidez. Segundo a definição do professor DeRose, Yôga é qualquer metodologia estritamente prática que conduza o praticante ao samádhi. Ou seja, se não houver essa proposta não é Yôga.

O criador do Yôga é Shiva que foi um bailarino, inclusive um dos seus arquétipos é o Rei dos Bailarinos, e ele foi inserido no panteão dos deuses da cultura hindu fazendo parte da trindade ao lado de Brahma o criador, e Vishnu o preservador. Shiva é o destruidor, mas no sentido de dar lugar ao novo.

O que define a escola de Yôga como repressora e espiritualista, ou desrepressora e naturalista são as filosofias que ela adota, o Brahmachárya e o Vêdánta ou o Tantra e o Sámkhya. Hoje em dia, pelo menos na Índia, o berço do Yôga, predomina a linha opressora e espiritualista.

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