A sexualização das crianças pelas apresentadoras infantis da década de 80 é um tema recorrente, mas o que eu percebo é que muita gente fala isso tipo papagaio, repete algo que ouviu e não tem argumentos claros, além de dizer que a Xuxa, a grande vilã dessa história, usava roupa muito sexy para apresentar um programa infantil.
Xuxa png. |
Nesse aspecto eu entendo as críticas e aceito, porque existe um código de vestimenta para cada ocasião. Seria estranho um apresentador de telejornal usando regata na bancada, aliás, regata não fica bem nem num programa de esporte. Ou seja, os apresentadores usam um figurino com que o público alvo se identifique, ou que desenvolva uma admiração da parte do público.
Quando eu li a biografia de Evita Perón eu achei engraçado quando soube que ela defendia a classe operária, mas se vestia como uma estrela de Hollywood alegando que o cuidado de sua imagem era em função do povo, é mais ou menos o que a Hebe Camargo fazia, estava sempre impecável porque as pessoas mereciam vê-la assim. E isso tem um fundo de verdade porque as pessoas quem têm uma posição de liderança são mais respeitadas quando se vestem bem.
Em relação a Xuxa, quando Mauricio Sherman a convidou para apresentar um programa infantil, ele disse que ela tinha uma mistura de coisas que funcionaria com as crianças e com os adultos. Então, a personagem foi criada para chamar a atenção dos adultos, ou seja, a apresentadora tinha que ser exuberante e sexy, mas foi a naturalidade do seu comportamento e o seu jeito moleca que cativou os pequenos. Ou seja, a modelo não se tornou a rainha dos baixinhos porque usava micro short ou saia muito curta.
Segundo o Sherman, os adultos deveriam deseja-la e as crianças sonhariam em se tornar como ela. Mas o que os baixinhos viam naquela mulher era algo fora da realidade.
Sabe a visão que a gente tem de um padre, de uma freira, de um monge? É assim, eles estão lá, próximos, mas são intocáveis. Então, a gente quando era criança não prestava atenção nas pernas ou no corpo da Xuxa, viamos como um todo, linda, simpática e cercada de uma série de elementos que nos arrebatavam da realidade.
Como a Xuxa era a maior representante desse universo na década de 80, todas as críticas foram direcionadas para ela. Mas, várias outras apresentadoras seguiam o mesmo padrão e nem uma foi tão criticada. A Angélica, a Mara Maravilha, a Mariane Dombrova, a Eliana... todas usavam micro shorts e micro-saias.
Na época que a Xuxa gravou o filme Amor Estranho Amor, aquele em que fica sem roupa com um menino de 12 anos, ela era modelo em início de carreira e nem imaginava que um dia se tornaria a maior musa infantil de todos os tempos. Esse filme a persegue até os dias de hoje e os julgamentos são feitos por muita gente que não viu o filme, que não entendeu o contexto e que não sabe que no mesmo longa tem uma cena muito pior da Vera Fisher com a mesma criança. E detalhe, a atriz fazia papel de sua mãe e eu nunca vi ninguém fazer qualquer comentário sobre isso.
Depois que começou a trabalhar com crianças Xuxa se tornou uma grande defensora dos direitos infantis e teve uma grande contribuição no ensino didático através de suas canções, enquanto que Mara Maravilha posou nua para a revista Playboy, enquanto apresentava o Show Maravilha. E cadê os críticos? Não era a Xuxa, então criticar para quê, né?
As décadas de 80n e 90 foi um período em que o corpo foi muito explorado nas produções de TV e cinema de uma forma que hoje em dia é impensável. O mesmo diretor do filme Amor Estranho Amor tinha dirigido outras produções com menores protagonizando cenas sensuais, como Eros o Deus do Amor. Em 1987 o ator Regina Faria interpreta um homem que se apaixona por uma adolescente de 14 anos no longa A Menina do Lado, com quem atua em cenas que hoje em dia só se pode fazer com gente adulta.
Na TV, tivemos comerciais de televisão com gente pelada que deixava escapar mais do que deveria. Teve várias aberturas de telenovelas com nudez, na maioria mulheres, como foi o caso de Tieta, Pedra Sobre Pedra e Pantanal. E na década de 90 surgiram os grupos de uma vertente musical indefinida que não era samba, não era pagode, não era axé... e os grupos tinham sempre pelo menos um par de dançarinos, homens e mulheres, com roupa muito curta, muito justa, e rebolavam ao som de uma letra de duplo sentido.
Mais descarado, impossível, e as crianças gostavam. Aconteceu até concurso de dança com crianças imitando essas dançarinas e teve um trio infantil inspirado no É o Tchan, que era o grupo de maior visibilidade na época. E aí eu volto a dizer, crianças não ligam para o corpo e nem para a roupa do artista, tão pouco se preocupam com a letra da canção.
As crianças não têm essa visão sexualizada dos adultos. Esse comportamento é desenvolvido só quando crescemos porque ao longo dos anos vamos recebendo informações de que expor o corpo ou rebolar é feio, de que não pode, de que é imoral...
Nesse aspecto a Xuxa era uma criança grande, pois toda coberta ou com roupa muito curta, ela não era sensual. E mesmo a Carla Perez, a Débora Brasil, Sheila Carvalho, Sheila Melo, e todas as outras, e os rapazes também, dos grupos musicais, por mais sexy que fossem, as crianças viam como algo divertido, até porque tais dançarinos repetiam tanto a coreografia em programas de TV e em shows ao vivo que já faziam no automático.
Eu cresci vendo a Gretchen que sempre foi uma figura muito sexy, mas assim como as crianças da minha idade, apenas gostava de vê-la. Aquele figurino curto era padrão, pois tinha que ser diferente do habitual, do que a gente usa para sair na rua, para ficar em casa ou ir para o trabalho.
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