O ladrão e o rei

Talvez você encontre este conto com outras versões, não importa, o interessante é a lição de moral.

Trata-se de um ladrão que quis aprender Yôga. Para isso, foi visitar um mestre e disse-lhe que queria praticar, mas entrou em conflito com os conceitos, pois costumava roubar para sobrevier e tinha o hábito de mentir, além de consumir bebidas alcólicas.

Mas o Yôga é uma filosofia e, por isso, abarca conceitos de relacionamentos que são chamados de yamas e niyamas. Isto é, algumas atitudes que um yôgin deve evitar, como não agredir, não mentir, não roubar, não dispersar a sexualidade e não ter apegos. E outras que ele deve preservar, como a limpeza, o contentamento, a auto superação, o auto estudo e a auto entrega.

Parecia impossível, pois só a profissão do homem já entrava em conflito, que era roubar. Tão pouco queria deixar de beber, pois julgava ser a bebida a sua única fonte de prazer, ou seja, a limpeza (interna e da mente) e a auto superação automaticamente estão fora de questão.

Pensando em desisitir, pois vivenciar tais conceitos lhe resultaria muito dificil segui-los, agradeceu o mestre e estava prestes a sair quando o sábio lhe advertiu que poderia escolher apenas um dos conceitos, aliás, era uma qualidade evidente, ao menos naquele momento, ele não mentiu.

Mas nem sempre falo a verdade, mestre. Respondeu o homem. Tente, insistiu o sábio.

E assim, em uma noite, o ladrão foi roubar o palácio real. Eis que o rei estava passeando pelo jardim após um dia entediante, buscando algo que lhe tirasse o vazio existencial. Os dois se encontraram e o rei lhe perguntou: quem é você?. O ladrão disse a verdade: sou um ladrão e vim roubar o tesouro real.

O rei viu ali a possibilidade de viver a emoção e a aventura que estava procurando desde cedo, e então disse: eu também sou um ladrão, e sei onde se guarda a chave da sala do tesouro, façamos juntos o trabalho e dividamos o lucro.

O ladrão concordou, e ambos entraram no palácio, chegaram na sala do tesouro e dividiram tudo, exceto um enorme diamante, pois havia três, e como não queriam que um fosse mais beneficiado do que o outro, resolveram ficar cada um com uma das grandes pedras preciosas e a terceira ficaria para o rei, pois afinal seria a única coisa que lhe sobraria.

Ao se separarem no jardim, o rei perguntou ao ladrão onde ele morava, e falou da possibilidade de contatá-lo novamente para futuros trabalhos. O ladrão, outra vez, disse a verdade.

No dia seguinte, o rei vislumbrou a possibilidade de testar seu primeiro ministro. Chamou-o e disse: ontem a noite tive um sonho estranho, sonhei que o tesouro foi roubado, vá à sala conferir, pois um pressentimento está oprimindo meu coração.

O ministro entrou na sala, viu o diamante que sobrou e pensou que como não restava mais nada, aquela única pedra preciosa seria indiferente diante de tamanha perda, e o escondeu em sua roupa antes de confirmar ao rei que realmente todo o tesouro havia sido roubado e não restava absolutamente nada.

O rei ordenou que buscassem o ladrão, e ele, ao ser interrogado na frente do ministro, contou o acontecido, desde o encontro com o monarca no jardim até o detalhe do diamante que eles deixaram na sala. Desta forma, o governante descobriu que o seu servo não era de confiança, pois roubou e mentiu, e mandou que o prendessem. Em seu lugar, nomeou o seu novo amigo, o ladrão, que desde a sua nova ocupação, deixou de roubar.

A moral da história é que nós não precisamos mudar tudo, ou muita coisa se queremos alcançar algum objetivo, mas precisamos mudar algo, e uma única mudança já é o suficiente. No caso do ladrão, ele apenas optou por não mentir mais.

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