Simpatia pelo profano

Em comemoração ao dia da diversidade, 28 de junho, compartilho aqui um texto do livro dEUses e seus pecados! do Clube de Autores.

"Muito prazer, me chamo Eros.

Já devemos ter cruzado algumas vezes, talvez lembre de mim e até saiba meu nome, mas certamente não sabe quem eu verdadeiramente sou.

O meu eu reflete nos espelhos dos bares, boates e banheiros que você frequenta, mas é ofuscado pela sua vaidade e, por isso, passo desapercebido. Aliás, disfarce é uma das minhas habilidades.

Transito entre a multidão como mais um rele mortal, no entanto, minha descendência talvez não tenha sido a mesma que a sua, de Eva. Quem sabe, eu seja da linhagem de um Nefilim, ou de Lilith, só sei que normal eu não sou. Os do meu tipo, na grande maioria tem uma forte inclinação para a arte, assim como eu, e gosto refinado. Leonardo da Vinci era um dos meus.

A nobreza está em minhas veias e sem falsa modéstia me orgulho por fazer parte de uma casta culta. Sim, estamos, eu e os que se assemelham a mim, anos à frente da humanidadeexistimos desde os primórdios dos tempos. Minha descendência esteve com Jesus até a sua volta ao céu, e foi condenada ao inferno pelos seus profetas, como filhos das trevas que deviam temer a luz.

Pobres profetas, ignoraram que também somos criação divina. E de fato, não nos expomos, mas também não fugimos da cruz. Quando descobertos no passado, meus ancestrais foram expostos e queimados. Ainda carregamos este estigma, pois somos perseguidos até os dias de hoje.

Nos revestimos de um poder lendário, estereótipo fortalecido pelas películas e obras literárias, e amedrontamos o mais valente de uma corporação, mas quando estamos a sós somos frágeis e nem todos da minha espécie são bons e valentes o suficiente para assumir a sua natureza. Por medo, exploram pobres almas que podem mantê-los no anonimato e se submetem às leis divinas impostas pelos humanos.

De outra forma, vivemos em grupos, ninhos, e sociabilizamos em espaços construídos ou adaptados para nossa natureza que é diversificada e complexa. Em grupo vestimos as mais insanas fantasias, exploramos os mais excitantes fetiches e protagonizamos as mais tórridas cenas de sexo que, aliás, beira o animalesco, principalmente se entre os corpos desnudos houver um que não pertença à casta. Sugamo-lo literalmente até eximi-lo de suas forças.

Por que ascendo a humanidade?

Porque não sou anjo e nem demônio. Mas também não sou homem e nem mulher, não na minha essência.

Muito prazer, eu sou gay."

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