Há vida sem café.

Eu não lembro com que idade comecei a beber café, mas sei que foi bem cedo, porque tenho lembranças de com quatro ou cinco anos levantar pela manhãzinha para acompanhar meu pai em seu desjejum antes que saísse para trabalhar, e tragava uma xícara bem cheia.

Ao longo dos anos eu fui aumentando a quantidade e nunca me importei com isso. Bebia pela manhã, frequentemente a tarde e algumas vezes pela noite. E olha que eu não sentia nenhum efeito no sono, pois sempre fui bom de cama, apesar da advertência de alguns colegas que mesmo eu dormindo bem, o metabolismo seguia acelerado pela cafeína. Não sei, não tenho conhecimento científico para confirmar essa teoria.

O hábito de beber café só me incomodava de uma forma, quando eu não bebia. Por isso, ao longo do tempo fui reduzindo a quantidade até me limitar só a uma xícara pela manhã, mas sem me privar se houvesse outras oportunidades ao longo do dia, caso eu visitasse alguém, por exemplo. Depois, tirei o açúcar.

Lembro de pelo menos duas vezes eu fazer interrupções longas nesse hábito diário. Na primeira eu fiquei três meses sem beber café, e na segunda, anos depois, só vinte dias. Mas a memória mais prazerosa do retorno à bebida aconteceu nessa última interrupção. Não tenho lembranças de quando uma xícara de café tenha sido tão prazerosa quanto aquela xícarazinha depois do curto jejum de cafeína.

Pelo menos dez anos depois dessa experiência estava eu as voltas, outra vez, com o desconforto da falta de café. Mudei de país e levei minha cafeteira italiana, além de um pacote de café para desfrutar do saborzinho do Brasil, na Espanha. No entanto, como não tinha fogão a gás e a placa elétrica não reconhecia a cafeteira, não passava corrente, e para usar outro método era muito trabalhoso, acabei aderindo às capsulas da Nesspresso. E alguns meses depois comecei a namorar.

Era nos finais de semana, quando eu não dormia em casa que sentia o desconforto de não beber café. A cabeça ficava doendo, não era forte, mas era incômodo. Então eu resolvi interromper outra vez o consumo de cafeína, pelo menos café porque chás continuei bebendo, por um tempo indeterminado. Seria até eu dominar a necessidade de beber diariamente e assim evitar aquela dorzinha chata de cabeça quando não tivesse a bebidinha preta ao meu alcance.

No começo achei que com um certo esforço eu voltaria a repetir o feito de três meses de abstinência, pois, pasme, fiquei um ano. Só voltei a beber café exatamente trezentos e sessenta e cinco dias depois da última xícara e... nada. Não surtiu o mesmo efeito da vez passada, não foi prazeroso, nem deu vontade de terminar a xícara, além do gosto forte na boca que eu já tinha desacostumado.

Conclusão, posso viver tranquilamente sem café.

Ah, mas desde que passei a beber só uma xícara por dia eu comecei a sentir o efeito da cafeína se me aventurasse a tomar café pela tarde, ou noite. E depois desse ano inteiro sem por uma gota na boca, a sensação que tive depois das primeiras vezes era de cansaço, como se a bebida me desse um ápice de energia e depois me esgotasse por completo. Louco, né?

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