Uma Escola Atrapalhada - 30 anos (análise)

Uma Escola Atrapalhada estreou nos cinemas no dia 12 de fevereiro de 1990, com direção de Antônio Rangel, e tinha um grande apelo para levar adolescentes ao cinema, contando com um elenco repleto de artistas jovens e outros bem conhecidos. Encabeçam a lista, os donos do longa, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, e como era praxe que seus filmes fossem recheados de músicas, o grupo que estava em ascensão meteórica na época, fez parte do longa, o Polegar, que era composto por Alex, Rafael, Alan e Ricardo.

Além deles, Angélica foi o grande destaque, e o até então desconhecido para muita gente, o Supla. Mas teve atores de verdade, entre eles estavam Ewerton de Castro, Jandira Martini e Fafy Siqueira. Outros só foram reconhecidos como grandes atores mais tarde, como o Selton Mello e o Leonardo Bricio. O filme teve ainda a participação de Gugu, e Nill que já tinha deixado o grupo Dominó.

Este filme marcou época, mas ao revê-lo eu me dei conta que ele tem muitas falhas, e não apenas técnicas, pois acontecem coisas que não são mais aceitáveis nos dias de hoje, comentarei algumas delas.

Da parte técnica, uma delas é que o longa está catalogado como comédia, o que faz sentido vindo dos Trapalhões, mas não tem graça. Tem drama, só que nem o drama cola muito bem porque tem recortes muito abruptos, ou seja, não dá tempo das coisas se desenvolverem bem, é tudo muito rápido, e não convence.

No dramalhão, dona Alma, interpretada por Jandira Martini, é a diretora da Escola Mateus Rosée, que está passando por problemas financeiros, e isso deixa claro que não é uma escola pública, ou seja, a gestão depende da direção e não necessariamente do investimento do governo, então os alunos deviam ser filhos de pais ricos. Aliás, só para constar, naquela época a situação financeira não estava nada bem para ninguém, logo, parece ser um filme estentação.

E não resta dúvidas de que é isso mesmo quando os meninos do grupo Polegar chegam como calouros e são recebidos com um show de mesquinharia dos veteranos. Mas o cara mais popular da escola, o Carlos, que é interpretado por Supla, se diz pobre, pelo menos não quer aceitar o dinheiro dos pais. E a novata Tamí, interpretada por Angélica, é chamada de pobre, revoltada, metida e violenta. Detalhe para o pobre, esse termo aparece algumas vezes nas falas dos personagens como algo pejorativo.

Tamí, é toda misteriosa, faz ligações escondidas, sai às escondidas, e é um pouco agressiva mesmo, inclusive ela protagoniza o inaceitável, bater... e apanhar. Em uma cena ela dá uma joelhada nas partes baixas de Carlos e leva um soco na cara, dele. Estava claro que os dois iriam se apaixonar, mas uma relação começando desse jeito não é coisa boa.

E essa não é a única cena de agressão, quase todo mundo quer resolver tudo na porrada, fazem trapaça, ameaças, e expressam manifestações explícitas de preconceito e homofobia.  Os professores não ficam para trás, a paciência é zero, puxam a orelha dos alunos e alguns que até rosnam. Pelo menos um, o supervisor do colégio que é um psicopata e rouba a escola, além de ameaçar jogar uma aluna do prédio, a Tamí.

O enredo não funciona bem, se existe uma linha que o conduz, é muito sutil, já que parece ser apenas um compilado de acontecimentos, como o anúncio de uma bomba no prédio, o aniversário de uma personagem, um concurso de música... Mas tem alguns casos que poderiam ser mais aprofundados, como a gravidez de algumas personagens, mas fica tudo na superficialidade.

Até mesmo como musical deixa a desejar, pois isso se limita a um vídeo clipe da música Angelical Touch, de Angélica, e Pisa Em Min, de Supla. Além de Sou Como Sou do Polegar, já no finalzinho do filme.

Aliás, na época do lançamento Gugu divulgou muito o filme em seu programa Viva a Noite, pois como o grupo Polegar era de sua produtora e estava no elenco, ele sempre mostrava cenas com ênfase nos meninos, ao som da música Sou Como Sou.

Todo filme nacional que tem atrapalhado ou atrapalhada no título tem a ver com o Renato Aragão, esse, inclusive, é de sua produtora, mas o quarteto aparece muito pouco. O Didi faz papel de zelador da escola e é quem aparece mais. O Mussum interpreta um vendedor de cachorro-quente que faz vez de pai de santo. Dedé e Zacarias formam uma dupla que chega na escola para desativar uma bomba.

Segundo algumas informações que eu encontrei, a ideia era que o quarteto ficasse como coadjuvantes mesmo, então, pode se dizer que Uma Escola Atrapalhada é um filme de Angélica e Supla.

Esse filme foi o último com a participação de Zacarias, o humorista faleceu no mês seguinte da estreia, no dia 18 de março.

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