Os Estúdios Globo, antes conhecidos como PROJAC, foram inaugurados oficialmente no dia dois de outubro de 1995, a primeira telenovela totalmente gravada no local foi Explode Coração, s gravações começaram um pouco antes, em setembro, e a novela estreou um mês depois da inauguração, em novembro.
Até então, as gravações das novelas eram mais lentas e mais caras porque a Globo precisava alugar estúdios e os cenários precisavam ser desmontados e montados de novo exatamente como estavam na última gravação. Funcionava assim: os autores entregavam um bloco de textos com um certo número de capítulos e o diretor gravava todas as cenas, por exemplo, na casa do protagonista. Acabando essas cenas, tudo era fotografado e o cenário era desmontado para que montassem outro cenário no mesmo local para as outras cenas.
Na próxima leva de roteiro, quando tinham que dar continuidade nas gravações lá na casa do protagonista, a equipe de cenografia tinha que montar exatamente igual as fotos que tinham tirado do ambiente. Isso era assim com todos os cenários internos, e as gravações externas eram feitas nas cidades cenográficas que ficam em outro ambiente, não necessariamente no lado de fora dos estúdios, poderia ser distante.
Já no PROJAC, tem espaço suficiente para que boa parte dos cenários fiquem montados o tempo todo e as cidades cenográficas são montadas nas proximidades dos estúdios, o tempo de deslocamento é muito menor. Isso faz com que as gravações sejam mais rápidas e a primeira novela que usufruiu desse recurso foi Explode Coração. Mas não foi a primeira novela a se aproveitar dos Estúdios Globo, pelo menos não do espaço onde os estúdios estão construídos.
A novela que inaugurou o PROJAC foi ¿Que Rei Sou Eu?, em 1989. A cidade cenográfica foi construída no local. Depois, as novelas Salomé, Pedra Sobre Pedra, Vamp, Mulheres de Areia, Sonho Meu e Fera Ferida também tiveram suas locações externas montadas no local.
Explode Coração estreou no dia seis de novembro de 1995, na TV Globo. Foi escrita por Glória Perez, com direção geral e de núcleo de Dennis Carvalho. Contou com Tereza Seiblitz, Edson Celulari, Maria Luísa Mendonça, Françoise Forton, Leandra Leal, Ricardo Macchi, Rodrigo Santoro, Renée de Vielmond, Eliane Giardini e Paulo José nos papéis principais.
A trama gira em torno das famílias ciganas Sbano e Balboa que fizeram um contrato de casamento para seus filhos Dara e Igor, quando os dois ainda eram crianças e moravam na cidade espanhola de Sevilha. Depois de vinte anos, Igor volta para cumprir o acordo das duas famílias. Todos aguardam ansiosos pelo rapaz, menos Dara, interpretada por Tereza Seiblitz, que não quer saber do compromisso assumido, ela quer mais do que estudar apenas o suficiente para aprender a ler, escrever e fazer contas, tal como se limitavam às mulheres ciganas.
Diferentemente da irmã, Ianca, vivida por Leandra Leal, Dara sonha em trabalhar e ser independente, e faz cursinho pré-vestibular às escondidas. Tudo contra a vontade do pai, o Jairo, interpretado por Paulo José, que é extremamente conservador e comprometido com as tradições ciganas. Seus futuros sogros, Pepe e Luzia, interpretados por Stênio Garcia e Ester Goes, nem imaginam que jovem cigana vive uma vida dupla e que morre de medo de ter sua origem descoberta pelas pessoas que fazem parte do universo do seu namorado Serginho, vivido por Rodrigo Santoro, além do medo de ser apanhada em flagrante pelo seu povo.
Essa foi a primeira novela que a Gloria Perez fez mistura de culturas, até hoje a mais famosa é O Clone, depois América, Caminho das Índias e Salve Jorge pareceram cópias de O Clone, mas O Clone era só a mesma receita de Explode Coração com um toque a mais.
A personagem Dara, além do namorado que não pertencia a sua cultura, ainda iniciou uma relação pela internet com o empresário Júlio, interpretado por Edson Celulari, que vivia um casamento de fachada com Vera Avelar, interpretada por Maria Luisa Mendonça. E aqui se faz presente outra característica de Glória Perez, ela usava o que tinha de novidade na sociedade como elemento de suas tramas. Em O Clone foi o caso da clonagem que virou assunto mundial quando criaram a ovelha Dolly através dessa técnica bastante polêmica na época.
Em Barriga de Aluguel, apesar de ter estreado em 1990, Glória Perez começou a escreve-la em 1985, mas foi impedida de colocar a trama no ar por duas vezes por ser um assunto muito polêmico. E em Explode Coração foi a vez da internet que ainda estava engatinhando no Brasil, mas em 1995 já era possível usar o IRC, antecessor do MSN, que é similar o que é hoje o Whatsapp, mas só funcionava no computador e não precisava de um número de celular, só de um e-mail.
Como o serviço era pouco difundido, o tema abordado era novidade para muita gente e Glória Perez chegou a ser ridicularizada quando propôs abordar esse tema na telenovela. Chamaram ela de louca e fantasiosa.
As aventuras de Dara só eram possíveis graças a Odaísa, personagem de Isadora Ribeiro, que era a empregada da família, e sentia pena da moça, então não conseguia fazer o papel de vigia e babá que lhe era conferido.
Quando se envolve com Serginho, Dara conhece Augusto, personagem de Elias Gleiser, por quem passa a cultivar um grande afeto e a quem começa a tratar como avô. E ele, que se sentia muito mal na casa do filho, recupera a alegria de viver no convívio com a jovem cigana. Dara não queria exatamente negar sua origem, ela preservava alguns valores e se orgulhava de suas raízes, só não concordava com a falta de liberdade que as mulheres sofriam.
No entanto, ela acaba cedendo aos apelos da família e se casa com Igor, grávida de Júlio. O cigano Igor é uma das figuras mais emblemáticas dessa novela, o personagem foi interpretado por Ricardo Machhi e ele recebeu muitas críticas pela sua atuação, virou piada no Casseta e Planeta, sofreu um bocado. E essa é outra característica da Glória Perez, ela deu personagens para atores inexperientes várias vezes.
Não aconteceu só com a Jade Picon em Travessia. Teve o Victor Fasano em Barriga de Aluguel, Ricardo Machhi em Explode Coração... Aliás, isso não é algo só da Gloria Perez, a Globo, de um modo geral, sempre colocou caras novas em suas novelas, e essas caras novas vinham das passarelas. Alguns deram certo, outros não. Reinaldo Gianecchini também era muito zoado quando estreou em Laços de Família, em 2000. Chorando ou sorrindo ele tinha a mesma cara.
Devido a cultura dos ciganos, no dia do casamento a noiva deve dar uma prova de sua virgindade. E apesar da resistência de Dara em aceitar Igor como marido, ele foi super compreensível, ela não era mais virgem, e ele não quis tocá-la a força, então fez um corte no próprio braço para sujar sua saia, ou seja, entregou para a comunidade uma prova falsa da virgindade da moça.
A advogada e cigana Mirian Stanescon (falecida em 2022) conseguiu uma liminar que proibia a Globo de exibir as cenas em que Dara perdia a virgindade com Julio porque os ciganos só praticavam sexo depois do casamento e que a perda da virgindade da personagem seria uma ofensa moral. Mas poucos dias depois, a liminar foi derrubada pela Justiça e a Globo pôde exibir a cena normalmente.
E é com esse personagem que Dara acaba a novela, ela permanece casada com Igor até o último capítulo quando dá à luz ao filho, em uma praia, acompanhada pelo cigano que, depois, leva ela e a criança ao encontro de Júlio, e vai embora.
Como as novelas das oito costumavam levantar questões polêmicas, em explode Coração teve algumas tramas paralelas para provocar debates, por exemplo a relação de Serginho com Beth, interpretada por Renné de Vielmond, a ex-mulher de seu padrasto e vinte anos mais velha que ele. E teve o caso do desaparecimento de Gugu, personagem de Luiz Claudio Junior, filho de Odaísa que desapareceu. A personagem se juntou a mães de verdade que tiveram seus filhos desaparecidos e a campanha repercutiu no país todo proporcionando o encontro de mais de 60 crianças.
E como todo novelão, não pode faltar o núcleo de humor. Esse foi formado pelo casal Salgadinho e Lucineide, interpretados por Rogério Cardoso e Regina Dourado, e pelo o Bebeto a Jato, vivido por Guilherme Karam, que participava de concursos de topetes. E tinha também a travesti Sarita Vitti, personagem de Floriano Peixoto, que, apesar de fazer do núcleo cômico, tentava interpretar a personagem com naturalidade.
Apesar do esforço, causou polêmica entre o meio LGBT porque, segundo os as críticas, a personagem não tinha identidade indefinida, ou seja, não se sabia se era uma travesti ou uma drag queen, devido ao comportamento diário dela. Em resposta o ator afirmou que a ideia era viver o limite entre o homem e a mulher. Ele concluiu dizendo que a melhor definição para Sarita era sua alma feminina.
A vinheta de abertura é uma festa cigana, de onde uma das dançarinas é tele transportada para outro local do planeta através do computador. Essa foi a estreia de Ana Furtado na TV Globo. Depois disso ela se tornou atriz e apresentadora na emissora. A música tema se chama Ibiza Dance, produzida pelo grupo Roupa Nova.
A novela teve três álbuns musicais, a trilha sonora nacional com o ator Cássio Gabus Mendes na capa, com 14 faixas.
A trilha sonora internacional com a atriz Teresa Seiblitz na capa, com 14 faixas também. As faixas que mais fizeram sucesso na época foram: Back For Good, de Take That. Estoy Enamorado, de Donato & Estéfano. E teve também Macarena, de Los Del Rio, que virou febre na época.
E a trilha complementar foi o álbum Coração Cigano com Ana Furtado na capa, com 12 faixas.
A audiência da novela ficou em torno dos 47 pontos. Entre 15 a 26 de outubro de 2012 foi apresentada resumida no quadro Novelão do Vídeo Show. Foi reapresentada na íntegra pelo Viva entre 29 de janeiro a 27 de julho de 2018. E em 22 de junho de 2020, foi disponibilizada na íntegra pelo Globoplay e, depois, em seis de outubro de 2025, foi atualizada para o formato de exibição original.
Além do Brasil, a novela passou em Argentina, Bolívia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Nicarágua, Paraguai, Peru, Portugal, República Dominicana, Romênia, Uruguai e Venezuela.
Curiosidades
Os atores Adriano Garib e Eduardo Moscovis chegaram a fazer o teste para o personagem Igor que ficou com Ricardo Macchi.
Ciganos de Campinas fizeram críticas ao modo como a cultura era retratada na telenovela, que segundo eles, não retratavam com fidelidade. Alegaram que muitas coisas não eram verídicas, mas criticaram principalmente o fato da personagem Dara ter perdido a virgindade antes do casamento. Mas, quando a sua cena romântica com Julio foi proibida, cerca de 40 ciganos se reuniram em frente ao Fórum do Rio para manifestar apoio à autora Glória Perez, torcendo para que as imagens fossem liberadas.
A partir da segunda semana de exibição, a direção da emissora exigiu que os figurinos dos personagens ciganos fossem modificados, pois eram considerados exagerados e estereotipados. Como não se tratava de ciganos nômades, mas ricos, moradores de bairros de classe alta que se dedicavam à indústria e ao comércio, os personagens passaram a se vestir como pessoas comuns, utilizando os trajes típicos apenas em cenas de festas e rituais. Várias cenas com os novos figurinos foram regravadas.
A novela que substituiria Explode Coração seria o Rei do Gado, de Benedito Ruy Barbosa, mas atrasou. No entanto, como Glória Perez precisava concluir a novela dentro do prazo acordado para acompanhar o julgamento dos acusados do assassinato de Daniella, sua filha, durante a exibição da novela De Corpo e Alma, o tempo necessário para que O Rei Do Gado ficasse pronta para a estreia foi preenchido com uma minissérie. O Fim do Mundo, de Dias Gomes, que foi anunciada como uma novela curtinha.