O grupo Mamonas Assassinas foi uma reformulação da banda Utopia, existente desde 1989. Em 1992, os cinco rapazes conheceram o produtor Rick Bonadio e em seu estúdio gravaram o primeiro e único vinil Utopia, composto por 6 canções. No entanto, das mil cópias produzidas, apenas cem foram vendidas. Rick Bonadio disse algumas vezes que as músicas, muito sérias e pesadas, não combinavam com eles que eram cheios de vida, jovens. E os próprios rapazes começaram a perceber que as brincadeiras e canções de paródia que faziam nos ensaios para se divertirem eram mais bem recebidas pelo público do que suas próprias canções.
Durante uma madrugada do mês de outubro de 1994, eles gravaram uma fita demo com duas canções, Mina (Minha Pitchulinha) e Robocop Gay, que segundo o produtor Rodrigo Castanho, boa parte das letras foram criadas naquele momento. A canção Robocop Gay, tinha sido feita setembro de 1994 sob encomenda para um showmício, mas parecia incompleta e Dinho escreveu as estrofes finais em poucos minutos.
Na manhã seguinte, Rodrigo Castanho apresentou a fita a Rick Bonadio que gostou do material e sugeriu algumas alterações, tanto nas músicas, quanto no grupo. Disse que a mudança de perfil deveria ser completa, a começar pelo nome. E os nomes sugeridos pelos próprios músicos foram: Um Rapá da Zé, Tangas Vermelhas, Coraçõezinhos Apertados e Os Cangaceiros de Teu Pai. Por fim, o baixista Samuel sugeriu Mamonas Assassinas do Espaço, que foi reduzido para Mamonas Assassinas.
Outro detalhe sugerido por Rick Bonadio, é que a música Mina fosse mais rock e menos brega. Em abril de 1995, o grupo enviou uma fita demo com as três canções Mina renomeada de Pelados em Santos, Robocop Gay e Vira-Vira, para três gravadoras, entre elas Sony Music e EMI. Rafael Ramos, baterista da banda Baba Cósmica e filho do diretor artístico da EMI, João Augusto Soares, dava dicas para o pai sobre bandas novas que enviavam suas canções para a gravadora e gostou tanto da sonoridade da banda que insistiu na contratação dos rapazes.
João Augusto Soares só assinou com eles depois de assistir um show da banda na boate Lua Nua, em Guarulhos, São Paulo. Mas disse que a gravadora queria pelo menos 10 canções para o álbum. Eles disseram que já tinham sete e que em uma semana poderiam compor as demais, mas na verdade eles só tinham as três da fita demo, e em uma semana, eles conseguiram compor outras 12.
Foram cinco a mais do que a gravadora tinha pedido, mas uma ficou de fora. A canção Não Peide Aqui Baby, uma paródia de Twist and Shout, do grupo The Beatles não entrou para o álbum devido o excesso de palavras de baixo calão. Mas ouvindo a música, eu acho que tem coisa pior que entrou no disco.
Com as outras aprovadas, em embarcaram para Los Angeles, nos Estados Unidos, para gravar o disco que foi lançado no dia 23 de junho de 1995. Com uma ajudinha da 89 FM - A Rádio Rock, que tocou Vira-Vira já no dia seguinte ao lançamento do álbum, Mamonas Assassinas teve disco de estreia que mais vendeu no Brasil. É também o álbum mais vendido em um único dia, chegou a vender 50.000 cópias por dia. Ou seja, a cada dois dias ganhava a certificação de disco de ouro na época.
Em menos de 100 dias, o álbum alcançou a marca de 1 milhão de cópias, e dobrou esse número até dezembro de 1995, somando 2 milhões de cópias vendidas em apenas seis meses. O disco passou da marca dos três milhões de cópias.
Com a exceção de Sabão Crá-Crá e Sábado de Sol, todas as faixas foram compostas pela própria banda, principalmente por Dinho e Júlio Rasec. Dinho tinha declarado que todas as citações eram homenagens aos artistas que eles ouviram durante toda a vida. O álbum todo tem muitas referências.
1406
A primeira faixa é a música 1406, que ser pronuncia Catorze Zero Meia. É uma referência a um número de telefone de compras de São Paulo, o 011 1406, que pertencia a um conhecido canal de televendas na primeira metade dos anos 1990, o Grupo Imagem, que mantinha comerciais na Rede Manchete. Na letra, foram citados produtos como as Facas Ginsu, vendidas pelo canal.
Há também uma referência à canção Laika nóis laika (mas money que é good nóis não have), da dupla Ponto & Vírgula.
Vira-vira
A segunda faixa é Vira-vira. É uma sátira do vira, gênero musical português, especificamente da música O Vira, de Roberto Leal.
Mas a letra é inspirada na piada A Maria e o Português, contada pelo humorista Costinha no seu álbum O Peru da Festa Vol. 2, que conta a história de um casal de portugueses que foram a uma suruba.
Pelados em Santos
A terceira faixa é Pelados em Santos. Segundo Dinho, esta foi a primeira música composta por ele, ainda em 1991. Ela fora regravada em espanhol com o nome Desnudos en Cancún. A versão em português foi regravada pelos também paulistas Titãs no álbum As Dez Mais, de 1999.
Chopis Centis
A quarta faixa é Chopis Centis. É uma parodia o riff inicial de Should I Stay or Should I Go, da banda punk inglesa The Clash. Ela virou o tema de abertura da sitcom Partiu Shopping, com Tom Cavalcante, no canal Multishow.
Jumento Celestino
A quinta faixa é Jumento Celestino. Foi uma das primeiras canções que o grupo gravou. No início da canção, há uma referência a música Rock do Jegue de Genival Lacerda.
Sabão Crá-Crá
A sexta faixa é Sabão Crá-Crá. É uma das duas únicas canções do álbum que não são de autoria do próprio grupo, aliás, a autoria é desconhecida. Seu ritmo melódico tem uma incrível similaridade com a principal frase do primeiro movimento da terceira sinfonia de Beethoven. A música fez parte da trilha sonora da segunda temporada de Malhação, exibida em 1996.
Uma Arlinda Mulher
A sétima faixa é Uma Arlinda Mulher. É uma paródia de músicas românticas de linguagem rebuscada, como Belchior costuma fazer, que, aliás, o tecladista Júlio Rasec imita no segundo refrão. E o título se refere ao filme Uma Linda Mulher, um clássico da Sessão da Tarde. O Creuzebéck que Dinho fala que está baixando o volume da música, é o Rick Bonadio.
Outro detalhe dessa faixa, é que a estrutura musical, faz alusão a duas canções da banda Radiohead, Fake Plastic Trees, e Creep, antes do refrão.
Cabeça de Bagre II
A oitava faixa é Cabeça de Bagre II. Foi baseada na experiência do vocalista Dinho na quinta série primária. Já a letra, a forma falada de cantar e os vocais repetidos no fim de algumas palavras, além do título da canção, é uma paródia de Cabeça Dinossauro, dos Titãs.
E, não precisava nem falar, mas é bom deixar o registro que um dos solos de guitarra é uma referência à risada do Pica-Pau, outra referência é ao Baby Elephant Walk, O Passo do Elefantinho, de Henry Mancini.
Mundo Animal
A nona faixa é Mundo Animal. Na parte final da canção é possível perceber uma referência a um trecho de Toda Forma de Amor, de Lulu Santos.
Robocop Gay
A décima faixa é Robocop Gay. A música é uma homenagem ao personagem de Jô Soares, o Capitão Gay, com ligação ao personagem do ator Peter Weller, o Robocop. Dinho faz imitações da interpretação de Eduardo Dussek na canção Barrados no Baile. Por isso, também foram incluídas algumas rimas que fazem referência a música do cantor.
Nas apresentações ao vivo a banda inseria o Melô do Piripiri, a introdução de Je Suis la Femme, da Gretchen.
Bois Don't Cry
A décima primeira faixa é Bois Don't Cry. Aqui as paródias abordam a música Boys Don't Cry, da banda The Cure, mas só no título mesmo, porque o grupo brinca com as músicas sertanejas, e com a forma de cantar de Waldick Soriano. E inseriam um trecho da música Tom Sawyer, do Rush, da música The Mirror, do Dream Theater. E há quem diga que o finalzinho da música é uma referência ao filme Contatos Imediatos de Terceiro Grau.
Sou corno, mas sou feliz é uma referência a piada musicada por Juca Chaves intitulada Sou Sim e Daí, no seu álbum Ao Vivo, de 1972. Outro detalhe, é que o João do Caminhão, mencionado na letra, faz referência ao personagem de Humberto Martins na novela Barriga de Aluguel, que era caminhoneiro.
Débil Metal
A décima segunda faixa é Débil Metal. A letra são basicamente frases desconexas em inglês. É como algumas bandas brasileiras faziam música nos anos 70, já que quase ninguém falava ou entendia inglês. A Gretchen surgiu nessa fase. O nome é um trocadilho com heavy metal e Dinho interpreta num estilo que lembra bastante o vocalista Max Cavalera, líder do Sepultura.
Sábado de Sol
A décima terceira faixa é Sábado de Sol. É a outra música que não é de autoria dos Mamonas, foi composta pelos três membros da banda Baba Cósmica.
Lá Vem o Alemão
A décima quarta faixa, a última, é Lá Vem o Alemão. É uma paródia do pagode Lá Vem o Negão, do grupo Cravo e Canela, que fez muito sucesso na época. Mas Dinho satiriza os estilos vocais dos cantores Luiz Carlos, do grupo Raça Negra e do Netinho de Paula, do Negritude Júnior, que participam da música. Além deles, os membros do Art Popular também.
Segundo Dinho, esta foi a música que deu mais trabalho para fazer, porque eles não sabiam tocar pagode, e por isso tiveram que pedir ajuda aos pagodeiros.
A ilustração da capa, feita por Carlos Sá, segundo a modelo Mari Alexandre, Dinho lhe disse que a inspiração tinha sido sua Playboy de 1992. O logotipo da banda é uma inversão do logotipo da marca automobilística alemã Volkswagen.
Apesar das letras politicamente incorretas, o grupo fez um tremendo sucesso entre o público infantil. Na verdade, nos anos 90 as crianças não tinham boas referências, os artistas que mais faziam sucesso e que viravam trilhas de festas infantis eram o Tiririca, ET & Rodolfo, É o Tchan, Tiazinha... que tinham letras de duplo sentido, ou eram faziam performances muito sensuais.
O álbum dos Mamonas Assassinas chegou a ser proibido de tocar nas rádios por um diretor da Radiobrás porque as letras eram indecentes demais. No entanto, a determinação foi retirada por ordem da presidência da empresa e o diretor foi demitido.
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