Segundo uma matéria da Folha de São Paulo, de 1994, Jorge Amado escreveu o livro Tieta do Agreste inspirado em uma mulher que ele conheceu em São Paulo durante uma viagem à cidade de Assis, em 1974. O escritor visitou a casa de Antonieta, uma famosa cafetina da região que não explorava as meninas que trabalhavam para ela. Seu lucro vinha principalmente do bar e do aluguel de quartos para os fregueses, o valor que as moças cobravam pelos seus serviços ficavam com elas. O livro Tieta do Agreste foi lançado em 1977, no mesmo ano em que a madame Antonieta faleceu.
Em 1982, o livro foi publicado na Itália sob o título de Miracoli e Peccati di Santa Tieta D’Agreste. A diretora Lina Wertmüller era amiga de Jorge Amado chegou a adquirir os direitos para o cinema e convidou Sophia Loren para estrelar o filme. A Cláudia Ohana faria Tieta jovem, tal como fez na novela. Algumas cenas chegaram a ser gravadas na Bahia, mas o projeto acabou sendo engavetado.
Em 1988, Sônia Braga teve a ideia de trazer Tieta para os cinemas, logo após o término das filmagens de Luar Sobre Parador. Ela levou o projeto para seu então namorado, o Robert Redford, que decidiu custear a produção. Esta seria a terceira vez que Sônia Braga encarnaria uma personagem de Jorge Amado. Ela interpretou Gabriela na novela da Globo em 1975, e no filme em 1980, e também Dona Flor em Dona Flor e Seus Dois Maridos, em 1976, no cinema, que, aliás, é considerado até hoje a maior bilheteria do cinema nacional, com impressionantes 12 milhões de espectadores.
Sonia Braga pensava em fazer Tieta no cinema, o que ela não sabia é que na TV, Betty Faria já tinha apresentado o projeto para a Globo.
Na mesma época em que Jorge Amado lhe cedeu os direitos da obra para o cinema, a atriz Betty Faria já tinha comprado os direitos para a televisão o que gerou um desafeto entre as atrizes. Estavam todos juntos, Sonia, Betty e Jorge quando Betty contou que faria Tieta na TV, Sonia ficou surpresa com a notícia e na mesma hora Jorge Amado lhe segurou na mão dizendo que Betty faria a Tieta na TV.
Ele já tinha simpatia com Sonia, a quem dizia ser sua filha três vezes pelos pelas suas personagens que ela interpretou, mas segundo Betty Faria, foi a esposa de Jorge Amado que lhe disse que Tieta lhe caia perfeitamente. Então, com a estreia da telenovela, o projeto acabou sendo arquivado e foi retomado apenas em 1995.
Veja na relação abaixo os personagens e seus intérpretes na televisão e no cinema.
Tieta: Betty Faria - Sônia Braga
Tieta jovem: Claudia Ohana - Patrícia França
Leonora Cantarelli: Lídia Brondi - Cláudia Abreu
Ascânio: Reginaldo Faria - Leon Góes
Perpétua: Joana Fomm - Marília Pêra
Ricardo Esteves: Cássio Gabus Mendes - Heitor Martinez
Elisa: Tássia Camargo - Débora Adorno
Modesto: Armando Bógus - Jurandyr Ferreira
Zé Esteves: Sebastião Vasconcelos - Chico Anysio
Tonha: Yoná Magalhães - Noélia Montanhas
Carmosina: Arlete Salles - Zezé Motta
Comandante Dário: Flávio Galvão - Jece Valadão
Arthur da Tapitanga: Ary Fontoura - Harildo Deda
Osnar: José Mayer - Ricardo Bittencourt
Cinira: Rosane Gofman - Luciana Souza
Jairo: Elias Gleiser - Frank Menezes
Padre Mariano: Cláudio Corrêa e Castro - Gideon Soares
O personagem Bafo de bode está presente no livro e foi retratado na novela pelo ator Benvindo Sequeira. A personagem Dona Milu também tem um papel bem significante no livro e foi interpretada por Mirian Pires na TV. No entanto, ambos são praticamente ignorados no filme.
O personagem Timóteo que foi interpretado por Paulo Betti na novela, é chamado de Ramiro no filme, interpretado por Caco Monteiro, mas no livro ele se chama Astério.
Tieta envia dinheiro para a família para cobrir os gastos do pai e da educação dos sobrinhos, mas o pai guarda todo o dinheiro sem dividir com ninguém, a irma caçula, Elisa, não tem filho porque o seu morreu aos dois anos e ela nunca revelou a Tieta, e Perpétua tem um filho em uma escola pública e outro no seminário que é de graça, então, embolsa tudo o que recebe.
Na novela e no filme Perpétua alimenta a teoria de que Tieta está morta porque os cheques pararam de chegar pelo correio, já há alguns meses, enquanto que no livro esse atraso não completou nem um mês.
A cidade cenográfica da novela não estava pronta quando começaram as gravações. Já o filme foi gravado no povoado de Picado, no município de Conceição do Jacuípe, no interior da Bahia. Jorge Amado aparece em rápida participação na primeira cena do filme, lendo os primeiros parágrafos de seu livro sentado em um banco da praça.
No filme, Zé Esteves não expulsa Tieta da Cidade, apenas a põe para fora de casa. Diferente da novela em que ele a espanca em praça pública e a coloca em um caminhão para que seja levada embora.
No filme, Perpétua discute com a família sobre a herança de Tieta, levantando a teoria de sua morte após quatro meses sem notícias da irmã, já que ela enviava dinheiro todos os meses nos últimos 11 anos. E então, chega uma carta onde Tieta diz que perdeu o marido e passará um tempo em Santana do Agreste com a sua enteada Leonora. Na novela ela não avisa que vai chegar, e no livro, a Perpétua começa a alimentar a teoria da morte de Tieta no primeiro mês em que ela deixou de enviar dinheiro.
Na novela, Tieta levou 18 capítulos para chegar em Santana do Agreste. Talvez porque Betty Faria estava na novela anterior, em O Salvador Da Pátria, e mesmo tendo saído antes do fim da novela, merecia, ou precisava, de umas férias. Apesar de que no livro ela aparece só na página 66, mais ou menos.
No filme e no livro, praticamente toda a cidade vai esperar por Tieta na praça, com orquestra e tudo, na novela, ela chega durante uma missa para a sua alma e chega chegando, causando rebuliço.
No filme, esperam que ela desembarque do ônibus, no entanto, sua entrada triunfal acontece em um carro vermelho e seu pai estranha que a filha desembarca de cabelos loiros. Teria sido legal se não fosse uma peruca que ela não volta a usar em momento algum. Na verdade, ela usa outras, uma preta, uma ruiva e outra branca, todas de cabelos curtos.
No livro, Jorge Amado a descreve com longas madeixas loiras, mas ela desce do ônibus mesmo, a marineti.
No livro e no filme, Ricardo, o filho de Perpétua, já morava com a mãe quando Tieta chegou, ele vai se tornar padre para cumprir uma promessa da mãe. Diferente da novela em que parece ser bem desinibido, no livro e no filme, ele é ingênuo, é descrito como um rapaz que chama muito a atenção pelo físico, mas um poço de ingenuidade.
No filme, quando Perpétua descobre que o filho se envolveu com a tia, ela não condena a irmã, apenas pensa em extorqui-la como sempre fez, nunca perde a oportunidade de arrancar dinheiro da irmã. As coisas acontecem de forma mais fiel ao livro.
Diferente da novela em que Ascânio quer convencer a população a levar modernidade para a cidade, no filme ele é convencido por um empresário que quer explorar a região e joga presentes para as crianças, de helicópteros.
A presença de Ninete, a procuradora de Tieta, na novela, não aparece no filme. A personagem pode ter sido inspirada em uma passagem do livro em que um grupo de pessoas estão de passagem por Santana do Agreste chamando muito a atenção dos moradores pela roupa que usam, botas e minissaias, homens e mulheres muito bonitas e alguns andróginos que confundem a população, eles ficam na dúvida se tais pessoas são homens ou mulheres.
Zé Esteves tem uma morte bem dramática na novela, ele morre no quarto depois de entrar em delírio após discutir com Tieta e mostrar que o dinheiro que ela lhe enviava ficava escondido no colchão. No filme, ele morre ao renegociar as terras que havia perdido para o coronel Arthur de Tapitanga. Ele queria que Tieta comprasse de volta, mas como ela não tinha todo o valor, ele completaria com o que ela lhe enviava e ficava guardado.
O coronel só aparece no filme quando Tieta vai falar com ele para exercer suas influências nas eleições para prefeito, no final do filme, quando Ascânio aparece para revelar a verdade sobre Tieta depois de ouvir de Leonora ao pedi-la em casamento.
Tieta se preocupa com a moça, no filme, assim como na novela, mas não entra em detalhes sobre o seu passado até que ela mesma conte a Ascânio e a partir de então tudo desanda.
Na novela, Leonora e Ascânio tem tempo para que se entendam, que se perdoem e que troquem juras de amor e Tieta volta para São Paulo aclamada pela população da cidadezinha, e retorna para rever família e amigos. No filme, Tieta e Leonora não recebem esse carinho todo, pelo contrário, todo mundo vira as costas para elas, não que as odiassem de verdade, mas deixam a hipocrisia falar mais alto. A Leonora acaba ficando porque quando está indo embora com Tieta, a marinete estraga no caminho e dá tempo de Ascânio chegar para pedir que fique com ele.
Na novela, o Ricardo se apaixona por Imaculada, ambos se casam e continuam vivendo em Santana do Agreste. No filme, os dois vão embora com dinheiro dado por Tieta. No livro, Ricardo vai passar um tempo em São Cristovão, em um convento franciscano, e Imaculada deixa Santana do Agreste com Tieta, que, aliás, é quem paga a sua passagem.
Na novela, Perpétua desaparece. Não se tem notícias dela depois de Tieta ter arrancado a sua peruca na Igreja. No filme ela se lamenta e culpa Tieta por ter que ficar na cidade sem o pai e o filho. No livro não acontece nada demais.
No livro e no filme, a população não defende Tieta como na novela, mas a praça que teria o seu nome e recebe uma placa com outro nome é trocada na surdina da noite por uma de madeira escrita a mão, Praça A Luz de Tieta , que é o título da música tema do filme, de Caetano Veloso.
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