Previsões catástróficas que não se cumpriram


O final do ano de 1999 gerou muita apreensão em muita gente, crentes e técnicos, devido a duas ameaças. Uma era o bug do milênio, um colapso no sistema informático do mundo que provocaria um caos em todo o sistema de rede na época, e o outro era o fim do mundo.

Já teve várias previsões para o fim da humanidade e todas falharam, a profecia mais famosa previa a extinção em massa no ano de 2000. Tem um texto muito bonito de Carlos Drummond de Andrade sobre o tempo em que ele diz que quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um individuo genial porque industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Mas se doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante tudo vai ser diferente.

No entanto, em 1999, o medo do pior afetava até os ateus e os mais céticos.


Faltando cinco anos para a fátida catástrofe, Paulinho Moska lançou o álbum "Pensar É Fazer Música", em 1995, com a canção "O Último Dia", em que questiona o que seu amor faria se soubesse que lhe restava apenas um dia antes do mundo acabar. No ano seguinte, faltando quatro anos para o ano 2000, a TV Globo lançou uma mini novela intitulada "O Fim Do Mundo", aumentando o temor daqueles que acreditavam no fim da vida na Terra.

Em 1998, dois anos para o cumprimento da profecia de extinsão em massa, o cinema estados-unidense lançou dois filmes com a mesma temática, Impacto Profundo e Armagedon, que mostravam a luta de um grupo pessoas para tentar salvar a Terra de um meteoro gigante.


E a revista Forbes publicou um artigo relembrando que os sobrevivencialistas norte-americanos haviam alertado que quando o relógio marcar o ano 2000, o país ficaria sem eletricidade, os trens não circulariam mais, os bancos entrariam em colapso e hordas de moradores da cidade procurariam comida. Resultado de outra catástrofe eminente, o bug do milênio.


O desastre foi anunciado para sábado, 1° de janeiro de 2000, à meia-noite. Os aviões iriam cair, as usinas de energia seriam interrompidas, os mísseis nucleares explodiriam em seus silos e quase nada que estivesse sujeito a um sistema de computador funcionaria. O ministro da Economia e Finanças da França, Dominique Strauss-Kahn, chegou a dizer que era cada vez mais provável que não houvesse aviões em 1 de janeiro de 2000.


Em 1999, nas vésperas da extinção em massa, ou no pior das hipóteses do colapso informático, o mercado fonográfico resolveu explorar a data, mas com outro foco, despedindo-se do século que estava por acabar e anunciando também a chegada de um novo milênio. Nem a Xuxa perdeu a oportunidade e lançou Profecias, o seu maior hit do álbum Xuxa 2000.


Quando acabou o ano teve gente que realmente surtou. Muitas pessoas fizeram coisas similares à canção de Paulinho Moska já que não teriam nenhuma consequência, pois não existiria mundo e muito menos gente para quem dar alguma justificativa. Mas o mundo não acabou e o bug do ano 2000 não aconteceu.




O responsável pela profecia do fim do mundo foi Michel de Nostredame, um astrólogo, médico e vidente francês, mais conhecido como Nostradamus. Ele nasceu em dezembro de 1503, e faleceu em julho de 1566. Em 1555, Nostradamus publicou o livro Les Prophéties, prevendo eventos futuros.


As suas profecias se baseavam fortemente em precedentes históricos, Nostradamus viveu em uma época complicada, as pessoas morriam de doenças que não tinham tratamento, ele perdeu a esposa e dois filhos durante um surto de peste. Ele mesmo sofria de gota severa no final de sua vida, que acabou evoluindo para edema.

Ou seja, suas previsões era baseadas em sua realidade e nos fatos históricos ocorridos até então, com más interpretações e traduções incorretas. Muitos acadêmicos argumentam que as previsões de Nostradamus são vagas e que podem ser aplicadas a praticamente qualquer coisa. É o que acontece com o horóscopo. Aliás, ele alegou se basear em  previsões astrológicas e foi muito criticado até por astrólogos profissionais da época.

O que ele fez foi mais ou menos parafrasear antigas profecias do fim do mundo, principalmente as que são baseadas na Bíblia, e complementar com referências a eventos históricos e projetar para o futuro com o auxílio do zodíaco.


Já o bug do milênio era um medo global que se baseava em uma configuração nos computadores e que oferecia um grande risco para a indústria dependente de computadores. Isso porque a partir da década de 1960, quando o uso dos computadores começou a ser adotada e não tinha toda a capacidade de memória que os aparelhos têm hoje, cada byte de memória economizado fazia muita diferença na questão financeira também, porque reduzia o investimento na aquisição de mais hardware e software.

Então, os padrões adotados resumiam informações e as datas eram armazenadas com apenas dois dígitos para o ano, ficando os restantes implicitamente entendidos como 19, ou mil e novecentos. Imagine isso em um banco de dados com milhares de cadastros com vários campos com data de nascimento, data de casamento, data de cadastro...

E aí, ao entrar o ano 2000, os computadores poderiam entender a data como  1900, e o desastre foi hiperestimado. Porque, teoricamente, caso as datas voltassem para 1900, clientes de bancos veriam suas aplicações dando juros negativos, credores passariam a ser devedores, e boletos de cobrança para o próximo mês seriam emitidos com cem anos de atraso.

Houve uma grande correria para corrigir, atualizar e testar os sistemas antes que ocorresse a mudança do milênio e algumas empresas investiram milhões e milhões de dólares para evitar um colapso. E muita gente se preparou para o pior, enquanto alguns compraram galinhas para terem ovos caso a comida ficasse escassa nos supermercados, outros adquiriram armas para enfrentar uma possível reação em cadeia de invasões, e quem tinha mais meios construiu bunkers secretos.

Teve cancelamento e atrasos de voos. Algumas empresas de trens pararam seus serviços por uns minutos antes da virada do ano até um pouco depois do ano novo, por precaução. Mas apesar de ter gerado uma onda de pânico coletivo, houve poucas falhas decorrentes do bug do milênio, que se revelou quase inofensivo.

O assunto gerou muita polêmica devido aos grandes lucros gerados para as empresas de informática, foi alvo de muitas matérias jornalisticas e deu até origem a vários filmes. Hoje é considerado como um dos casos registrados pela história de pânico coletivo vazio de fundamentos.

Curiosidades

A novela O Fim Do Mundo foi pensada para ser uma minissérie. Dias Gomes começou a escreve-la em outubro de 1995, e teria originalmente 40 capítulos. No entanto, a produção da substituta da novela O Rei do Gado, estava atrasada, essa substituiria a trama que estava no ar, Explode Coração, de Glória Perez, que não podia estender o folhetim e precisava ser liberada. A solução encontrada foi pegar o texto de Dias Gomes e transformá-lo numa mininovela.

Emm relação ao bug do milênio, alguns dos sistemas desenvolvidos antes do ano 2000 já possuíam alguma previsão para a virada do milênio. O velho sistema em COBOL da empresa brasileira Espiral Informática adicionava 1900 ao ano sempre que este fosse maior que 25. E adicionava 2000 a todos os anos anteriores a 25.

Ou seja, na virada de 1999, automaticamente o sistema converteu a data registrada em 00 em 2000, e assim repetidamente até 24. Maaassss... ao chegar no 25, o sistema volta a inserir 19, então para as empresas que ainda utilizam esse sistema, caso alguém ainda o utilize, terão um grande problema porque em 2025 seus registros serão configurados como 1925.

Apesar da profecia do fim do mundo e do bug do milênio, segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, em junho de 1999, o maior medo da maioria dos entrevistados era o de um conflito global. O medo de uma terceira guerra mundial é sempre iminente.

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