A síndrome do bom menino

 A maioria dos meus pacientes gays chega na psicologia com um mesmo histórico.

Na infância eram estudiosos e queridos pelso professores, considerados um bom exemplo para as demais crianças, eram tímidos, introvertidos e faziam muitas tarefas sozinhos.

Na vida adulta tendem a se sacrificar pelos demais, se preocupam com a saúde das pessoas queridas, se sentem responsáveis pelo bem-estar de familiares, têm dificuldades de pedir ajuda, tentam resolver os conflitos e problemas dos outros.

As histórias sempre falam de um menino que aprendeu cedo a esconder e ignorar suas vontades e inseguranças para cuidar dos outros.

Vivemos numa sociedade homofóbica e patriarcal que acredita que a homossexualidade é uma ameaça para estrutura social. Assim, toda criança que se comporta de forma diferente do padrão de gênero está sujeita a críticas e diversas formas de abuso.

Por serem identificados como femininos e inferiores, meninos gays são facilmente vítimas da violência social.

A maioria dos meus pacientes relata ter sofrido bullying na escola e em casa a partir dos 8 anos de idade. Os abusos são normalmente físicos e psicológicos, mas também sexuais.

Como não entende o porquê é tratado de forma hostil, o menino gay internaliza a ideia de que há algo errado com ele.

A homofobia aumenta na medida em que o menino gay entra na puberdade. E por ser violentado até na família, muitas vezes se sente confuso, com medo e só, sem ter com quem falar sobre e pedir ajuda.

Com o tempo, o medo da violência se junta aos sentimentos de culpa e vergonha por ser gay. Então o menino tem duas opções: se revoltar e talvez sofrer mais bullying, ou se reprimir e tentar evitar as agressões.

Quase sempre escolhemos nos reprimir. O que, além de não evitar a violência, nos traz uma série de traumas e consequências.

O bom menino é um personagem criado para proteger um menino agredido e reprimido por ser gay. Por isso, um dos pontos principais nas sessões  de psicoterapia com pacientes gays é o trabalho de autenticidade.


Fonte: @meupsiegay

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