Ganhei a sunga de um gogo boy.

Qual é a probalidade de alguém ir numa parada da diversidade e receber de presente a sunga de um gogo boy que tava desfilando?

Aconteceu comigo e vou te contar tudo desde o começo.

Tudo começou alguns dias antes do dia 29 de junho, não me lembro ao certo quanto tempo, mas eu tinha vontade de ir na parada da diversidade e na festa de encerramento, porque no ano anterior, em 2018, eu só fui na rua acompanhar a passagem dos carros e dos corpos que desfilaram.

Então, chegado o dia, lá estava eu na rua, com mais três acompanhantes, dois rapazes e uma moça. Procuramos um lugar cômodo, dentro do possível, para não torrar no sol e poder ver os desfilantes.

Em Barcelona tem muitas famílias que vão assistir a parada, vi muitas crianças com bandeirinhas do arco-iris, o que é lindo, pois, significa que seus pais são pessoas bem evoluídas e que essas crianças serão adultos saudáveis e respeitosos. Apesar de muitas bundas de fora, muitos músculos expostos, muitos corpos rebolativos... Bem, na verdade, neste ano a reclamação foi geral de que tinha menos tudo isso do que teve no ano passado.

Tentamos seguir alguns carros que pareciam estar mais animados, lotados de gente pulando, mas eles seguiam mais rápido do que podíamos caminhar entre os que preferiam ficar dançando, ou só obsevarndo tudo passar pela rua. E um pouco antes de o desfile acabar, entramos numa pizzaria para comer algo antes de voltarmos para seguir o fim da parada. Mas acabamos ficando lá algumas horas a mais do que tínhamos previsto.

Enquanto comíamos, entraram dois rapazes musculosos, com corpos esculturais, e vestidos com micro sungas, que só queriam usar o banheiro. Foi inevitável não olhar para eles e reparar na única peça de roupa que usavam, além das botas, porque parecia que todo o resto das roupas, que provavelmente iam vestir depois, estava guardada lá naquela pecinha. E passaram praticamente se esfregando em minhas costas, pois o ambiente não era tão grande. Era praticamente um corredor com pouco espaço para circulação entre as mesas, que aliás, tínhamos pegado a melhor.

Depois de alguns minutos que os rapazes tinham saído, entrou um outro (foto acima), sem camisa, mas já com short, e se sentou bem perto de onde estávamos. Foi então que um menino que estava conosco disse: será que aqui é um ponto de encontro deles? (dos gogo boys). O rapaz que estava sentado perto escutou e com um leve sorriso perguntou: Tudo bem?

Foi o suficiente para o menino que tinha feito o comentário perceber o sotaque e perguntar pra ele: você é brasileiro? E diante da resposta afirmativa, ele emendou, apontando para mim: ele também é.

Pronto, tínhamos feito um novo amigo, ao menos temporariamente, pois o rapaz mudou da sua mesa para a nossa, rapidamente, cumprimentou a todos e não parou mais de falar. Além de pedir uma rodada de pizza e de bebidas para todos, porque ele era sócio do local. Não bastasse a sua generosidade, arrancou a sunga e me entregou em mãos dizendo: essa é pra você,querido, um presente, é da minha marca.

A propósito, ele arrancou a sunga da mochila tá?! Mas era a mesma que tinha usado no desfile, que era do mesmo modelo daqueles carinhas que tinham entrado antes para usar o banheiro. Depois, em casa, eu entendi porque o volume surpreendia, é que a sunga tem um bojo removível e que deixa tudo mais impressionante.

Entre os meus amigos, o rapaz fez jus a fama dos brasileiros, de sermos pessoas simpáticas e acolhedoras. Para mim, supreendeu-me o seu esforço, o exemplo de empreendedorismo, pois além da sociedade com a pizzaria, ele trabalha de garçon em uma churrascaria argentina (sei bem o quanto se investe em um negócio próprio, muitas vezes os empregados ganham mais do que os donos), tem uma marca de roupas de banho (a sunga que me deu é da sua marca), é modelo de uma marca de roupas íntimas masculinas (mostrou fotos) e aos finais de semana dança em boates gays.

Detalhe, disse que é hetero, que tem filhos e que é casado. E talvez seja mesmo, porque vi fotos suas, no Instagram, com a supostamente mãe de seus filhos. Aliás, isso foi algo a mais que me surpreendeu nele, um cara que não tem problema de se dedicar ao universo gay, que age profissionalmente e demonstra muito respeito pelo público a quem direciona o seu trabalho.

Bem, depois disso a noite continuou em parte na casa da menina que morava perto do local onde estávamos, e em parte na mega festa da praça onde a parada havia terminado. Quanto ao gogo boy, além de sua sunga, eu tenho também o seu whatsapp e isso só porque eu sou brasileiro. Ou melhor, porque ele também é brasileiro.

2 comments:

Anônimo

Mas qual a marca? Fiquei curiosa.

Leo Cordeiro

Hahaha. A marca é ES Colection.