Incêndios nas emissoras


Com muitos aparelhos ligados que provocam um super aquecimento, com refletores que esquentam muito, e com materiais altamente inflamáveis como plásticos, papéis e compensados de madeira, os estúdios de TV são muito vulneráveis ao fogo e desde a década de 1960 aconteceram vários acidentes e muitos prejuízos a quase todas as emissoras de TV.

Em um dos casos ainda houve o risco de tudo ir para os ares se o fogo atingisse uma caixa de bananas de dinamites que estavam em um depósito de figurinos. As emissoras não tinham o mesmo cuidado dos dias de hoje com a prevenção e nem mesmo com a preservação do material que registra as suas histórias. Mas não foi só um erro de principiante não, porque nos anos de 1990, 2000, e até mais recentemente, nós vimos isso acontecer outras vezes.


Em 1998, houve um princípio de incêndio na Record, durante a transmissão do telejornal da emissora. Boris Casoy que era o âncora reagiu de uma forma curiosa. Ele chamou o intervalo para que o fogo fosse controlado enquanto descrevia o que estava acontecendo, rindo.

Em 2002, aconteceu algo parecido no SBT, durante o Domingo Legal. Gugu tinha acabado de anunciar a hora, 19h, quando começaram a gritar que tinha fogo e ele demorou para entender. Havia uma labareda no teto, em uma luminária, e ele super tranquilo pediu calma para a plateia e chamou o intervalo para resolverem o problema.

A primeira emissora a sofrer com o fogo foi a Record. O primeiro acidente aconteceu em maio de 1960, nos estúdios da emissora que ficavam no bairro de Moema, em São Paulo.


Cinco anos depois, em abril de 1965, foi a vez da TV Cultura dos Diários Associados a sofrer com o fogo. Um incêndio provocado por um curto-circuito no 15º andar do Edifício Guilherme Guinle, em São Paulo, destruiu a primeira câmera de TV do Brasil. Os Diários Associados e, portanto, a TV Cultura, era de propriedade de Assis Chateaubriant, o dono da TV Tupi. A partir de então, os programas do canal passaram a ser produzidos em um estúdio da Tupi no bairro de Sumaré.

Em 29 de julho de 1966, outra vez na Record, o fogo destruiu os estúdios do canal provocando um prejuízo de dois bilhões de cruzeiros na ocasião, cerca de 300 rolos de fitas com filmes, séries e outras produções foram perdidos.


O incidente voltou a a acontecer na Record, no ano seguinte, em julho de 1967, dessa vez um incêndio destruiu o teatro da Consolação onde aconteceria o III Festival da Música Popular Brasileira. O mesmo foi transferido para o Teatro Record Centro, inaugurado em 1929, chamado de Teatro Paramount. Por isso o festival de 1967 também ficou conhecido como o Festival do Paramount.


E nesse mesmo ano, em agosto de 1967, a TV Excelsior sofreu o seu primeiro incêndio provocando danos em um estúdio, um acidente que contribuiu para o declínio da emissora que já estava sofrendo perseguições da ditadura militar implantanda a pouco mais de dois anos no país. Aqui no canal tem um vídeo onde eu conto a história da TV Excelsior, que foi a emissora que revolucionou a forma de fazer TV no Brasil.


Em 1969, a Record sofreu outro incêndio, no dia 13 de julho, quando teve o teatro Paramount destruido. O fogo começou por volta das 17h45.


No mesmo dia, e em menos de três horas depois do incêndio na Record, a sede de São Paulo da TV Globo ardeu em chamas. Na ocasião, Silvio Santos gravava o seu programa, que precisou ser interrompido, por volta das 21h. O sinal de transmissão foi cortado, mas os bombeiros não puderam evitar que o fogo atingisse as instalações técnicas da emissora, comprometendo totalmente o funcionamento do canal. Ao todo, o prejuízo foi de quatro milhões de cruzeiros.


Os primeiros oito capítulos da novela das 19h, A Cabana Do Pai Tomás, foram perdidos com o fogo, que também comprometeu os cenários do folhetim. Outra novela afetada foi Véu de Noiva que ainda estava em produção para estrear às 20h e precisou ser adiada. A emissora estendeu a exibição de Rosa Rebelde em quase 100 capítulos, até que tivesse solucionado todos os detalhes para começar a produção.


Boni, que já tinha trabalhado na rádio Bandeirantes e tinha amizade com João Saad, o fundador da emissora, pediu para usar os seus estúdios para continuar com a produção das novelas, enquanto a reconstrução do edifício da Globo não ficasse pronta. No entanto, três dias depois, em 16 de julho de 1969, os estúdios da Bandeirantes também pegaram fogo, tendo suas instalações destruidas pelo incêndio. 

Houve desconfiança de que tais acidentes tenham sido atos terroristas devido a proximidade dos fatos. Na época, começaram a acusar que era obra dos representantes da política de esquerda que viam a TV como um instrumento de alienação política. Mas os de esquerda negavam e diziam que eram os de direita que faziam isso para acusá-los de terrorismo. Nunca ficou provado se houve um culpado. 


Na época, a família Saad alugou, às pressas, o Cine Arlequim, na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, em São Paulo, que foi batizado de Teatro Bandeirantes, de onde passou a gerar toda a programação de rádio e TV, foi nesse Teatro que João Silva estreou o seu programa em 2023.


Quanto a Globo, o Boni fechou um pátio de estacionamento em frente a sede da emissora, no prédio da Rádio Nacional, onde improvisou um auditório que foi usado por um mês até que alugasse o Cine Miami, na Praça Marechal Deodoro. A Globo utilizou o local até o ano de 2000, quando se mudou para avenida Chucri Zaidan, na zona sul.

Apesar do prejúizo, o acidente acabou beneficiando a Globo que recebeu um seguro de 7 milhões com o qual pode comprar máquinas de última geração e refazer a linguagem visual do canal. Além disso, Walter Clark disputava os rumos da emissora com José Bonifácio de Oliveira, o Boni, e queria um único núcleo de dramaturgia no Rio, enquanto Boni mantinha uma divisão em São Paulo, pois achava que assim agradaria o público paulista. Com os estúdios destruídos, toda a dramaturgia se concentrou no Rio.


No dia 17 de julho de 1970, aconteceu outro incêndio na TV Excelsior, mas dessa vez mais intenso do que anterior. O fogo teria iniciado pouco depois do meio dia no estúdio 4, durante a transmissão do programa Homem e Mulher de Peirão de Castro. As chamas destruiram quatro dos seis estúdios de gravação, além de cenários, equipamentos, móveis, e boa parte do acervo de imagens. 

A emissora saiu do ar, mas voltou às 14h, transmitindo as cenas do incêndio que destruía seus prédios e deixava vários feridos. Uma menina de 10 anos, a Maria de Lourdes Vilela, ficou gravemente ferida, e diversos funcionários da emissora tiveram ferimentos leves.

O incidente contribuiu para o fim definitivo da emissora que já estava sem dinheiro para quitar suas dívidas e com muitos problemas, só de imposto já acumulava 170 milhões de cruzeiros e o governo estipulou um prazo até 15 de setembro para que fosse pago pelo menos a metade da dívida. Como não foi possível pagar, a concessão foi caçada e o último dia de transmissão aconteceu em  30 de setembro.

No dia 28 de outubro de 1971, durante a gravação do programa Moacyr Franco Show na sede da TV Globo do Jardim Botânico, um incêndio provocado por uma bituca de cigarro se espalhou pela emissora atingindo o arquivo de fitas das produções do canal e também o depósito de cenografia. Naquela ocasião, havia um grande risco de acontecer uma grande explosão, pois havia dinamites dentro de um armário, cujas chaves estavam em poder do saudoso ator Milton Gonçalves.

Segundo relatou o Boni, diretor na época, e o próprio Milton Gonçalces, as bananas de dinamites seriam usadas na gravação do dia seguinte para explodir a cidade cenográfica da novela Irmãos Coragem. Milton Gonçalves tinha sido o responsável pela compra dos explosivos e carregava as chaves do armário com ele, ao saber do incêndio se dirigiu até a emissora para retirar as dinamites do local e por sorte ninguém ficou ferido.

Olha o nível das produções da época. Dinamites para explodir de verdade uma cidade cenográfica.



Em 1972, a TV Tupi sofreu seu primeiro incêndio. O fogo destruiu uma parte significativa do acervo da sede da emissora em São Paulo, na Rua do Sumaré, incluindo programas, cenários e equipamentos. Embora não haja informações detalhadas sobre a causa exata, especula-se que tenha sido um curto-circuito ou problemas elétricos. Muitas fitas de programas icônicos foram destruídas, incluindo gravações raras da primeira década da TV brasileira.

Em 1974, a Record sofreu um incêndio no edificío onde ficava a torre de transmissão. O fogo começou por volta das 4h da madrugada do dia 29 de julho, na sede da Rua da Consolação, em São Paulo. As chamas se alastraram rapidamente pelo prédio que abrigava os estúdios e a administração, e destruiu praticamente todo o acervo, incluindo fitas de programas históricos, cenários e equipamentos, marcando o início do declínio do canal como a maior emissora do Brasil naquela época.

A Record já tinha vendido o Teatro Record da Augusta no centro de São Paulo, com a tentativa de contornar uma crise financeira, e com o esse incêndio se agrava ainda mais e Paulo Machado de Carvalho, o proprietário, vendeu 50% do canal. Uma associação de fazendeiros ficou com 40%, um grupo de empresários paulistas ficou com 10%. 

Em 1975, Silvio Santos que estava enfrentando problemas com a TV Globo, convenceu a associação de fazendeiros a vender seus 40% da emissora, e em maio do mesmo ano ele comprou os outros 10% que pertenciam aos empresários. Depois, já fora da Globo, reivindicou seu direito de administrar o canal para exibir os seus programas. Ele também venceu uma concessão para administrar o canal 11 do Rio de Janeiro e batizou a nova emissora de TVS, TV Studios, que passou a trocar alguns programas com a TV Record de São Paulo.


Em 1976, no dia 4 de junho, aconteceu outro incêndio de grandes proporções na sede da Globo do Rio de Janeiro, destruindo todo o parque eletrônico e arquivos importantes, incluindo materiais das primeiras edições do Fantástico que tinha estreado recentemente. O fogo começou às 13h, durante a transmissão do Jornal Hoje, devido um curto circuito no sistema de ar condicionado e as chamas se alastraram rapidamente. 


O sinal saiu do ar, mas em três minutos já estava normalizado através da sede de São Paulo, de onde o Jornal Nacional passou a ser transmitido durante os três meses que foi necessário para o prédio ser restaurado. As três novelas que estavam no ar, O Noviço, Anjo Mau, e Pecado Capital tiveram seus capítulos apresentados normalmente. O fogo durou cerca de quatro horas e causou um prejuízo de Cr$170 milhões de cruzeiros, apoximadamente R$61 milhões de reais em valores corrigidos.

Em 1977, mais um incêndio atingiu as instalações da Record. O incidente aconteceu na madrugada do dia 17 de julho, comprometendo ainda mais a situação da emissora que já tinha perdido muito do seu acervo histórico, além do prejuízo material, ao longo dos anos.


No dia 19 de agosto de 1978, foi a vez de Silvio Santos sofrer perdas com o fogo. Depois de um dia de gravação na sua emissora TVS, em São Paulo, o embrião do SBT, quando apenas o porteiro estava no local, o incêndio começou e rapidamente destruiu praticamente todas as instalações inutilizando o estúdo principal, apenas um mês após passar por uma reforma. 98% do equipamento da televisão foi destruído pelo fogo. O palco, o auditório, o maquinário, as câmeras e todo o equipamentos de iluminação... O prejuízo foi de 25 bilhões de cruzeiros.


O fogo chegou a atingir um edifício situado nos fundos do teatro, mas o escritório administrativo, onde estavam 18 fitas da gravação do Cidade contra Cidade que havia sido produzido no local, e o caminhão de externas, que estava estacionado próximo não foram atingidos. Para ajudar a produzir as edições seguintes do Programa Silvio Santos, a Tupi e a Record emprestaram vários equipamentos.


Em busca da resolução do problema, se cogitou que Silvio Santos usaria o Teatro Cultura Artística, que tinha sido sede da extinta TV Excelsior, mas o apresentador acabou fechando um acordo com a Prefeitura de São Paulo e passou a utilizar o auditório do Palácio das Convenções do Anhembi. Logo em seguida, ele comprou o antigo Cine Sol, na Avenida General Ataliba Leonel, no Carandiru, que renomeou de Teatro Silvio Santos e funcionou como principal centro de produções do SBT até 1996, quando foi inaugurado o Complexo Anhanguera, em Osasco.


Em outubro do mesmo ano, foi a vez da TV Tupi sofrer com um incêndio. O incidente contribuiu para o declínio definitivo do canal, que já enfrentava sérias dificuldades financeiras. As chamas atingiram a parte técnica da emissora, destruindo equipamentos novos, que sequer haviam sido utilizados. A Tupi tinha investido em novos aparelhos para modernizar a transmissão, mas tudo foi perdido no incêndio. Dois anos e três meses depois o governo cassou a sua concessão.


Saltamos para a década de 1980, e vamos até a madrugada do dia 8 de maio de 1986, quando as chamas atingiram devastaram o prédio da TV Cultura, em São Paulo, destruindo cerca de 10 mil fitas de gravação, incluindo registros raros de programas educativos e culturais. A suspeita principal foi de um curto-circuito, mas as causas nunca foram totalmente esclarecidas.

A TV Cultura era referência em programação educativa e cultural, e o incêndio destruiu registros históricos de programas como Vila Sésamo, Glub Glub e Roda Viva. Muitas gravações eram únicas e não havia cópias ou digitalizações na época. Após o incêndio, a TV Cultura iniciou um trabalho para recuperar parte de seu acervo, contando com doações de fitas e cópias guardadas por telespectadores.

E damos outro grande salto até a década de 2000, quando basicamente a TV Globo sofreu com incêndios. o primeiro aconteceu no dia 11 de janeiro de 2001, quando um incêndio no estúdio F do complexo dos Estúdios Globo interrompeu a gravação do programa Xuxa Park, no momento que estava sendo gravado um episódio comemorativo de carnaval. O local estaria com a capacidade de expectadores acima do permitido, cerca de duzentas crianças e outras cem participavam da produção.

Aparentemente o fogo se iniciou através de um curto-circuito no mecanismo de abertura da porta da cúpula que cobria a nave da Xuxa. O incêndio aconteceu cinco minutos antes do final do programa e se alastrou rapidamente.  O estúdio estava todo decorado com materiais coloridos e altamente inflamáveis para festejar o carnaval. 

26 pessoas ficaram feridas, sete delas em estado grave. Um dos casos mais graves e de maior repercussão foi o de Thamires Gomes Valleja, com sete anos na época, que estava na roda gigante próxima à nave onde se iniciou o incêndio e sofreu queimaduras de segundo e terceiro graus. Ela foi última a ser resgatada, salva por Leonilson de Oliveira que trabalhava como segurança de Xuxa e que resgatou diversas crianças. Ele ficou com quase 100% das vias respiratórias comprometidas.

Após um longo tratamento custeado pela emissora, todos se recuperaram. Thamires, que teve 34% do corpo queimado, permaneceu internada por 107 dias. A Globo tirou o programa do ar temporariamente, mas Xuxa optou por não voltar a gravar, os episódios que já estava prontos, aproximadamente seis, nunca foram exibidos.


No mesmo ano, em 9 de junho, houve um incêndio na cidade cenográfica do folhetim Porto dos Milagres que afetou as gravações, mas a novela conseguiu ser concluída sem grandes alterações.


Depois, em 2005, o Teatro Fênix, no Rio de Janeiro, que ainda era utilizado para as gravações do programa Domingão do Faustão sofreu com as chamas que causaram danos estruturais, obrigando a desativação do local. A Globo já planejava transferir suas gravações para o Projac e depois desse incidente, não restou otra alternativa.

Doze anos depois, no dia 9 de novembro de 2017, um galpão de apoio nos Estúdios Globo que abrigava cenários e objetos de cena sofreu um incêndio que destruiu parte desse material. A cidade cenográfica da novela Deus salve o rei, de Daniel Adjafre, foi destruída pelo fogo, e afetou também as  produções das novelas Espelho da Vida e O Outro Lado do Paraíso. Felizmente, ninguém ficou ferido e não houve impacto significativo na agenda da emissora.


Em 2022, outro incêndio nos Estúdios Globo destruiu a loja Rhodes, que fazia parte do cenário central da novela Todas as Flores, de João Emanuel Carneiro. Felizmente também não houve feridos e nem impacto na produção da trama que foi exibida na plataforma Globoplay.


E o últimom incêndio, até a estreia deste vídeo, aconteceu no dia 18 de fevereiro de 2025, nos Estúdios Globo, destruindo cenários de três produções da emissora. O fogo atingiu as cidades cenográficas da novela Dona de Mim, programa para estrear às 19h, no decorrer do ano, e, Êta Mundo Melhor, a continuação da novela Êta Mundo Bom, de 2016, também programa para estrear no decorrer do ano. Além das instalações do humorístico Tô de Graça, do canal Multi Show. Três brigadistas ficaram feridos durante o combate ao incêndio.

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