Como assim você não bebe?

Texto na íntegra do "Entenda Os Homens.com.br"


Dia desses eu estava em um lugar com outras cinco ou seis pessoas. Alguém trouxe vinho, outro trouxe cerveja e começaram a encher os copos. Perguntaram o que eu preferia, e eu disse que não preferia nada, porque eu não bebia. E eis que:

Pessoa 1 – Como assim você não bebe?
Eu – É, não bebo
Pessoa 2 – Parou?
Eu – Não, nunca bebi.
Pessoa 1 – Nada, nada? Nunca bebeu nada?

Eu – Já provei quando era novo, mas não bebo.

Silêncio sepulcral.
Pessoa 3 – Não bebe nunca?
Eu – Não, nunca.
Pessoa 2 – Você fuma muito?
Eu – Eu não fumo
Pessoa 3 indignadissima – Mas maconha tu fuma, né?
Eu – Não
Pessoa 3 já impaciente – Cheira? Toma Rivotril?
Eu – Não, e não. De droga só bebo Fanta Uva e ultimamente tenho visto uns jogos do Fluminense.

Minha piada sensacional foi prontamente ignorada, e o interrogatório continuou:

Pessoa 1 – Mas como você consegue não beber?
Eu – Não bebendo. Não é tipo não respirar ou não comer, eu só não gosto.
Pessoa 2 rindo – Mas você faz o que então, se você não bebe?
Eu grosso e já meio de saco cheio – Não fico por aí enchendo a cara pra me enturmar nem fumando baseadinho pra me sentir “da galera”. É isso que eu faço.

E depois da minha grosseria, o papo acabou. O que eu achei uma pena porque eu estava à beira do meu famosíssimo discurso anti-drogas. Na verdade eu não sou panfletário contra as drogas, eu sou indiferente. Quer fumar, fume, quer beber, beba, o problema não é meu. Mas não venha encher o meu saco com isso, simples assim. E eu não bebo porque realmente não gosto, assim como tem gente que não gosta de alface, tem gente que não gosta de refrigerante, e tem até gente que – pasmem – não gosta de mulher. E eu não fico questionando isso.

Quando eu encontro um gay eu não fico perguntando: “Nossa, como você não gosta de mulher? Como você consegue não gostar de mulher?”, tampouco interrogo os vegetarianos sobre “Meu Deus, o que você faz da vida se você não come carne?”. Eu só quero que a minha preferência, que é não beber, seja respeitada como eu respeito as outras preferências. E às vezes tenho que ser grosseiro e dizer que não preciso de alguma coisa pra alterar meu estado de consciência só pra “ficar mais legal” ou para “abrir a minha mente”.

E sem querer fazer papel de vítima nem nada disso, mas essa é uma discussão que eu raramente vejo por aí. Falam que a sociedade oprime mulheres, oprime gays, oprime crianças, mas e quanto a essa ditadura velada das drogas? De deixar “de fora da turminha” quem não usa nenhuma droga – lícita ou ilícita? O pior é ouvir esse papo de “uau, que absurdo você não beber”, e ter que ser polido e não falar “Nossa, que absurdo você ser um imbecil completo”. É difícil manter a educação. Geralmente eu faço o papel de grosso anti-drogas que sai chamando todo mundo de maconheiro e viciado. É a minha defesa contra essa babaquice de achar que eu sou um completo idiota só porque não bebo.

Uma tática que eu usava e uso às vezes só pra deixar esses imbecis culpados é dizer que eu sou ex-dependente químico e que meu pai é alcoólatra e batia em mim quando criança, e mostro uma cicatriz que tenho na sobrancelha dizendo que isso foi ele que me atirou um copo. A conversa acaba na mesma hora. Mas eu queria, sinceramente, saber como é que pessoas esclarecidas, que deveriam ser cultas e estudadas, engolem com tanta facilidade essa baboseira de que drogas são legais e quem não usa drogas ou não bebe não é legal. Quem  define o que “não é legal”? Não tô dizendo que não sejam, mas isso faz tanto sentido quanto dizer que arroz é legal, ou que maizena é legal, e que se você não come arroz ou maizena você é um idiota.

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